Resistência parasitária (RP) é uma preocupação crescente dos parasitologistas, profissionais do meio rural e produtores, devido aos impactos na produtividade do rebanho.
É um processo que surge da seleção de indivíduos dentro de uma população considerada “normal”, os quais sobrevivem à ação dos parasiticidas e reproduzem, sendo seus descendentes também resistentes. Com o passar do tempo esta parcela de indivíduos aumenta em proporção, evidenciando-se os efeitos da falta de eficácia do produto.
A forma mais lógica (e eficaz) de retardar sua ocorrência é através da informação e de medidas preventivas que, se adotadas de forma adequada, permitirão a sobrevivência dos produtos em uso por mais alguns anos.
Assim, a RP é de caráter adquirido (selecionado), progressivo e permanente (hereditário). A resistência é um processo irreversível, ou seja, nunca mais volta à condição normal, independente do período de descanso. A situação é grave, já que novas moléculas custam caro e levam tempo para serem desenvolvidas.
Mas afinal de contas, como surge a resistência aos carrapaticidas?
Esta pergunta é frequente e há vários caminhos para compreendê-la. Deve-se entender como os diferentes princípios ativos agem, pois a partir do bloqueio desta ação é que surgirão indivíduos resistentes, diferentes do restante da população.
Aparecem frutos do uso intenso de um só princípio ativo (PA), concentrações erradas, falhas na aplicação, formulações caseiras, produtos sem controle oficial, entre outros, ou seja, são resultados de um manejo mal feito, em vários sentidos.
Os carrapaticidas são separados em grupos, com vários integrantes em cada um deles. O que caracteriza um grupo é que todos os membros têm um mesmo mecanismo de ação, ou seja, atuam no mesmo sítio de ligação no parasito. O quadro 1 apresenta as principais moléculas carrapaticidas, seu membros e o sítio de ligação/ mecanismo de ação.
A maioria dos compostos age no sistema nervoso do parasito, portanto, a resistência ocorre quando o parasito altera o sítio de ligação normal ou estes desaparecem, não permitindo que a molécula se ligue ao receptor. Há também formação de enzimas que destroem/ inativam o PA ou consegue eliminar o PA antes de sua ação.
Como agem no mesmo ponto, ao surgir a resistência a um composto, esta se estende aos demais membros do grupo, ou seja, se surge para cipermetrina, igualmente haverão falhas na deltamtrina e assim por diante. Isso se chama resistência lateral. A resistência cruzada ocorre quando a perda de sensibilidade à uma molécula afeta outros grupos distintos, porém de mecanismo de ação semelhante. Por exemplo, a resistência à ivermectina irá afetar as demais lactonas macrocíclicas (resistência lateral) e ainda ao fipronil (resistência cruzada).
Hoje, com exceção ao fluazuron, todos os princípios ativos já apresentam algum nível confirmado de resistência parasitária, ou seja, têm seu uso futuro comprometido.
Como retardar o avanço da resistência parasitária?
Retardar é a palavra correta, pois é muito difícil impedir que a resistência surja, pois é um processo “natural” em busca pela sobrevivência da espécie. No início, a RP avança lentamente, devido à baixa frequência de parasitos resistentes existentes, mas com o tempo sua proporção aumenta e com ela os prejuízos à produção.
Um programa integrado de controle se baseia na correta seleção e aplicação dos produtos, visando reduzir a infestação no ambiente, considerando a epidemiologia do parasito e o manejo ambiental. A rotação de princípios ativos ainda eficazes é fundamental, a partir do correto assessoramento técnico especializado.
Por fim, é importante ressaltar que o surgimento de populações resistentes a um determinado PA é um problema não só para o produtor, mas para todo o setor pecuário porque reduz a produtividade e a circulação de compras de animais portando parasitos resistentes dissemina a resistência entre as fazendas. Assim, o trabalho deve ser em conjunto e assumido com muito critério e conhecimento técnico.
|