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O cerrado baiano tem um solo extremamente difícil e delicado. Ele é arenoso, com teor de argila baixo entre 20% e 25%, e se endurece muito rapidamente pela alta capacidade de coesão. Com os sistemas tradicionais de plantio e a monocultura, o solo da região estava ficando impermeável, ou seja a água não estava descendo para o aquífero e a superfície ficava totalmente inundada em épocas de chuvas. Outro grande problema causado pelo plantio tradicional era a calagem excessiva, chegando a 10 toneladas de calcário por hectare, o que estava intensificado a dispersão da argila. O pesquisador Pedro Freitas, da Embrapa Solos, teve o desafio de instalar o Sistema Plantio Direto na região para tentar melhorar as condições do solo arenoso e os resultados obtidos estão sendo muito positivos.
— Nós nos deparamos com uma situação bastante grave porque os sistemas convencionais estavam causando uma degradação muito intensa. Estes solos são diferenciados dos outros solos arenosos em outras regiões do País pela constituição da sua argila. Nós percebemos que o que estava causando isto, logo depois do desmatamento, de tirar a vegetação natural, era o uso muito intensivo deste solo com o uso de grades e de arados com muita intensidade, que quebra essa agregação. A própria calagem estava causando este problema, então antes da implantação do Sistema Plantio Direto nós começamos a mexer na quantidade de cálcio e magnésio nestes solos, evitando o uso de calcário, reforçando o uso de gesso e implantando o sistema de forma que o crescimento da biomassa fosse bastante grande para aumentar o teor de matéria orgânica destes solos que é outra forma de diminuir este problema da dispersão de argila — explica Freitas.
As razões para o Plantio Direto dar certo nos solos arenosos do cerrado baiano é que o sistema não movimenta o solo, o que já evita a degradação, aumenta o teor de matéria orgânica e, principalmente, faz a rotação de culturas, porque o solo desta região é muito sensível à monocultura e se degrada muito rápido. Com o solo ficando mais pobre, os agricultores usam doses cada vez mais elevadas de fertilizantes e pesticidas, o que acaba diminuindo a produtividade e aumentando muito o custo, tornando a atividade agrícola muito difícil na região.
— A manutenção de produtividade é uma das coisas mais importantes quando se fala em sistema de Plantio Direto com rotação de culturas. Procuramos ver um dado mais dilatado de cinco ou seis anos, principalmente depois que se aumentou a área com o sistema Santa Fé, que é o consórcio de milho com braquiária. Conseguimos com a biomassa da braquiária uma boa cobertura do solo e formação de palhada. O sistema radicular da braquiária faz um trabalho muito bom na estrutura do solo, melhora o solo quimicamente, faz um movimento de nutrientes bastante bom e, com isso, prepara o solo para que ele consiga implantar a cultura da soja e, às vezes, de algodão em seguida, depois volta novamente ao milho com a braquiária. Isso viabiliza a agricultura naquela região — comemora.
Uma grande vantagem do Plantio Direto no cerrado baiano é a recarga do aquífero Urucuia. Segundo Freitas, com o não revolvimento do solo e com a harmonização do calcário, o solo começa a permitir a entrada de água. O pesquisador lembra que a recarga do aquífero Urucuia é importante para os recursos hídricos de toda a região, uma vez que ele é fundamental para o Rio Grande, que é o maior afluente do Rio São Francisco. Por isso Freitas lembra que é preciso tomar muito cuidado com o que se está fazendo com os solos do cerrado baiano, já que ele pode afetar, mesmo que indiretamente, o complexo de hidroelétricas de Sobradinho e de Paulo Afonso, com impacto até no Vale São Francisco.
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