Muito se fala e publica sobre o papel das pastagens no aquecimento global e na emissão de gases de efeito estufa (GEE) pelos ruminantes que as utilizam. Eu mesmo escrevi sobre a emissão de GEE nessa coluna no último mês. Hoje resolvi abordar o tema das pastagens, pois precisamos desmistificar seu papel na produção animal e na sobrevivência da humanidade como a conhecemos.
Gramíneas e outras forrageiras fazem parte do nosso mundo a milhões de anos e acompanharam a evolução de mamíferos muito de perto. Não fossem essas plantas e sua enorme plasticidade de adaptação a ecossistemas desde inóspitos como tundras e desertos a pródigos como várzeas e campinas, não haveria rebanhos e seus pastores, manadas e caçadores, pastagens e ruminantes a sustentar uma crescente população de humanos.
O assunto emissão-fixação de carbono poderia se iniciado lembrando Lavoisier: “Na natureza nada se cria e nada se perde, mas tudo se transforma” e essa é a REALIDADE do carbono. Plantas e animais perdem carbono? Perdem sim, mas nada que não tenha sido fixado, transformado ou consumido da própria natureza e atmosfera.
Pastagens naturais cobrem extensas áreas no mundo e são utilizadas em geral de forma extensiva devido a uma produção limitada de forragem. Plantas não domesticadas normalmente completam seu ciclo de crescimento em menor tempo, atingindo logo o florescimento e com isso decrescendo em valor nutritivo. Assim, apesar da grande diversidade de gêneros e espécies em pastagens naturais, o que favorece a seletividade do animal em pastejo, este tem que explorar áreas mais extensas para saciar seu apetite. O mito está em se generalizar que essas áreas contribuem para o aquecimento global por perdas de gás carbônico e GEE pela baixa digestibilidade da forragem e grande quantidade de gado. A realidade é que estes pastos fazem fotossíntese absorvendo o CO2 do ar e depositando-o no solo pelo crescimento de raízes e pela decomposição da parte aérea, portanto funcionam como sorvedouros.
Pastagens cultivadas são formações muito mais homogêneas, de uma ou poucas espécies e no mundo temperado constituídas por plantas domesticadas, ou seja, daquelas que dependem do homem para sua persistência, seja por meio de reposição de nutrientes no solo seja para controlar a remoção da sua parte aérea.Já nos trópicos as grandes áreas de pastagens contam com forrageiras ainda semi-domesticadas, como as braquiárias e coloniões. Estas são chamadas de plantas C4 por possuírem uma rota de fotossíntese característica, cujo primeiro produto da fixação do CO2 na fotossíntese é um composto de quatro carbonos, e são bem mais eficientes em climas quentes e com alta luminosidade, fixando maiores quantidades de gás carbônico.
Veicula-se que essa grande área de pastagens com o numeroso rebanho bovino responda por altas taxas de emissão de metano e perdas de gás carbônico; e que se um bife a menos fosse consumido, salvar-se-ia tanto gás carbono quanto o gerado por um carro a 240 km/h por 20 minutos - mito. Na verdade, esses capins têm uma alta taxa de fotossíntese líquida associada a um alto ponto de saturação de luz. Além disso, possuem afinidade extraordinariamente alta por gás carbônico aumentando assim a taxa fotossintética, o que as torna altas produtoras de biomassa. Como já comentei anteriormente, pastagens bem formadas, com alta cobertura do solo e manejadas para manter produtividade e qualidade da forragem são mais benéficas ao meio ambiente do que poluidoras. Isso é a realidade, pois pesquisas indicam que Brachiaria decumbens pode fixar de 174 a 223 toneladas de CO2 por hectare por ano e, além disso, o solo sob uma pastagem bem manejada chega a conter 4% de matéria orgânica enquanto sob mata nativa não passa de 3,5%. Quanto à emissão de metano, as pesquisas vêm sendo direcionadas para variedades de maior digestibilidade e para um manejo da pastagem de forma a manter forragem mais tenra e assim minimizar um possível efeito poluidor.
As mudanças climáticas são fatos incontestáveis, mas isso não pode significar abandonar as conquistas da civilização. É, portanto imprescindível estudar, esclarecer, analisar e compilar dados científicos sobre o real valor da agropecuária no contexto mundial do aquecimento global. Isso já está sendo feito por várias instituições de pesquisa brasileiras por meio de levantamento de dados, de balanços energéticos e analisando diferentes sistemas produtivos a fim de gerar informações confiáveis. Só assim poderemos contrapor a propaganda negativa sobre nossa pujante agropecuária tropical e ter assegurada nossa posição de “celeiro do mundo”.
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