Uma das principais doenças que acomete os bovinos leiteiros é a mastite, inflamação da glândula mamária.
Os impactos econômicos surgem através da queda na produção leiteira, perda na qualidade do leite, maior custo de produção e o descarte prematuro de vacas por perda de um ou mais quartos mamários, que se tornam fibrosos e improdutivos. Sua magnitude varia conforme a intensidade do quadro e o agente causador.
A interação entre os microorganismos, as vacas e o ambiente, somada à ação do homem e possíveis erros de manejo, criam condições favoráveis à contaminação da glândula mamária e o desenvolvimento das mastites.
Se analisarmos a biologia das vacas, a glândula mamária destina-se, originalmente, à alimentação do bezerro, portanto, a uma produção diária de 3 a 6 litros de leite/dia, como se observa nas vacas de corte. O melhoramento genético e os avanços da zootecnia nos últimos 50 anos levou os criadores a selecionar vacas cada vez mais produtivas, com grandes áreas de úbere e alta capacidade de produção de leite, com fins comerciais.
Estes avanços devem ser acompanhados pela melhoria do sistema de sustentação da glândula mamária (ligamentos), uma melhor capacidade de ingestão de alimentos (maior consumo) e dos sistemas de proteção do úbere, tudo isso somado a um plano nutricional que dê suporte à produção de leite (quantidade e qualidade da dieta).
Radostis et al. (2007) descreveram a existência de mais de 140 espécies, subespécies e sorotipos de microorganismos envolvidos nas mastites, o que demonstra a dimensão do problema, com uma incidência anual de 10 a 12% do rebanho total. Bactérias e fungos podem causar mastites, sendo estes últimos muito perigosos, pois se não tratados causam a perda do quarto mamário.
Ainda assim, os casos de mastite podem ser divididos em três distintas situações:
1.Mastites Clínicas – há evidência de sintomas inflamatórios e claras alterações na secreção do leite (aspecto e quantidade). O tratamento deve ser feito imediatamente, tanto por via intramamária como sistêmica, sendo esta última recomendada para prevenir a endotoxemia pela entrada das bactérias na corrente sangüínea. Este quadro apresenta os sintomas como: presença de calor, rubor, edema, dor e perda da função do órgão afetado. Paralelamente, observa-se ainda: perda do apetite, respiração acelerada, queda na produção, desidratação, fraqueza, alterações no leite, depressão, entre outros.
2.Mastites Subclínicas – não há inflamação da glândula mamária com reduzida ou nenhuma variação na qualidade do leite, porém queda na produção. Pode passar despercebida do produtor. A opção pelo tratamento depende do custo % de perda em curso e o valor da produção. Recomenda-se tratar no período seco, pois o sucesso do tratamento é maior, já que o produto fica atuando por um maior período de tempo na glândula mamária.
3.Crônica – é a manutenção da fase subclínica ou a ocorrência alternada desta com a forma clínica. É comum a perda definitiva da função do quarto mamário devido à fibrose tecidual. Geralmente os animais devem ser eliminados, pois são portadores e fontes de contaminação das demais vacas.
Como a glândula mamária funciona
Por ser um órgão tão especializado é importante compreender alguns fundamentos sobre a glândula mamária. Cada teto, ou quarto mamário, é uma glândula individual, sem interligação com as demais, podendo ser afetada, enquanto as outras estão normais. Apresenta vasta irrigação por artérias e veias que suprem o sistema com os nutrientes necessários para a síntese do leite. Para cada litro de leite produzido, 500 litros de sangue devem circular pelo úbere. Alterações nutricionais e vasculares causam redução na produtividade deste animal.
Burton e Erskine (2003) concluíram em seu trabalho que as células de defesa (neutrófilos) e os anticorpos são os principais mecanismos de defesa do úbere contra infecções bacterianas. Esta resposta varia em intensidade entre as vacas, havendo aquelas que reagem à infecção, podendo se curar, enquanto outras têm ou não uma resposta débil, apresentando casos prolongados, mais graves ou recidivas. Quando estes sistemas falham ou são insuficientes surgem as mastites clínicas.
O produtor de leite deve conhecer a produção de leite de suas vacas e quais as formas de obter os melhores resultados de produtividade, oferecendo condições de nutrição e sanidade adequadas.
Prejuízos associados às mastites
A queda da produção é o principal prejuízo imediato das mastites, podendo acarretar a perda de tecido mamário (fibrose) e até a morte da vaca acometida.
As principais perdas decorrentes das mastites (entre 70 e 80% das perdas totais) são causadas pelas mastites subclínicas, que embora não tenha sintomas visíveis, (inflamação) diminui a síntese do leite. Já os casos clínicos provocam de 20% a 30% das perdas (Philpot e Nickerson, 1991). Estes autores descreveram que um rebanho que apresenta uma Contagem Células Somáticas (CCS) entre 200 e 500 mil células podem perder 8% do seu potencial de produção leiteiro, ou seja, para cada 1000 litros, deixa de produzir 80 litros em decorrência das mastites. Acima destes valores podem haver perdas que chegam até 25%. Coloque valores nessas perdas, conforme a produção, e veja a dimensão do prejuízo diário do estabelecimento.
A decisão no momento de tratar é uma questão importante. Busque orientação técnica de um veterinário e estabeleça programas de higiene e prevenção que infelizmente muitos produtores não possuem ainda, com exceção do hábito de tratar as vacas no momento da secagem, método preventivo importante que atua antes que o quadro seja mais severo. A vaca, no período seco, irá recuperar sua glândula mamária para a próxima lactação e eliminar os casos de mastite subclínica presentes no rebanho.
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