A Espiroquetose Intestinal Aviária (EIA) é uma doença entérica causada por algumas formas patogênicas da Brachyspira sp. (anteriormente chamada de Treponema).O primeiro cultivo e caracterização de uma espiroqueta intestinal ocorreu em 1952 em uma amostra isolada do rúmen bovino. No entanto, até a década de 80, poucos trabalhos foram descritos investigando a ocorrência e o significado da colonização de espiroquetas no trato gastrintestinal de aves. Após, vários estudos foram publicados relacionado as espiroquetas intestinais com doença entérica e quantificando impacto econômico na avicultura de corte e postura.
Agente
As Brachyspiras são bactérias anaeróbicas estritas, flageladas, em formato helicoical. São comumente encontradas no ceco e reto de galinhas, mas nem sempre estão associadas com doença clínica. No entanto, algumas formas patogênicas da Brachyspira, aliadas a fatores como estresse, nutrição, ambiência, uso de promotores de crescimento, entre outros, podem favorecer o desencadeamento da EIA. As aves de postura comercial e as matrizes de corte são as categorias mais afetadas.
Até o momento, a Brachyspira pilosicoli, a Brachyspira intermedia e a Brachyspira alvinipulli foram relacionadas com EIA. Ao contrário, a Brachyspira innocens e a Brachyspira murdochii, apesar de presente em muitas amostras, ainda não foram relacionadas com doença clínica.
Doença
Clinicamente, o quadro da EIA caracteriza-se por uma diarréia subaguda ou crônica que, usualmente, acomete parte do lote. As fezes são, comumente, de cor marrom a marrom esverdeado (Figura 1). Apesar de haver alguns relatos de aumento de mortalidade dos lotes afetados, em geral, a mortalidade é muito baixa ou quase imperceptível. O quadro clínico brando da EIA, aliado a dificuldade de isolamento e identificação das Brachyspiras sp tem dificultado o diagnóstico clínico da EIA no Brasil.
Apesar dos sinais clínicos serem brandos, as perdas econômicas relacionadas à EIA são consideráveis, tanto em aves de postura comercial quanto matrizes de corte. A queda na produção de ovos varia 5-12% quando comparado a um lote não afetado (Burch, D) (Figura 2). Além disso, também foram descritos um aumento da fragilidade dos ovos e do percentual de cascas dos ovos marcadas com fezes. Em matrizes de corte, Smit et al., (1998) observaram uma queda de 3% do número de ovos eclodidos. Estes autores notaram um aumento significativo do número de pintos fracos no momento da eclosão. Também verificaram, em muitos casos, uma piora significativa do desempenho da conversão alimentar e do ganho de peso de frangos de corte de matrizes afetadas.
O tratamento da EIA pode ser feito com alguns antibióticos, sendo que a resposta ao tratamento é boa, principalmente quando o lote é tratado no início do ciclo de postura. As Brachyspiras sp são altamente sensíveis a tiamulina, mediamente sensíveis a lincomicina e tilosina (Hampson e Stephens, 2002). Esses mesmos autores observaram que aproximadamente 50% das amostras analisadas eram resistentes a tilosina. Recentemente e corroborando com os relatos anteriores, Burch et al (2009) relataram sucesso no tratamento de lotes com EIA com tiamulina.
Prevalência
Em termos globais, a prevalência da Brachyspira sp ainda não está totalmente estabelecida, mas existem trabalhos consistentes indicando uma alta prevalência em vários países. Na Holanda, Dwars et al., (1989) analisando 179 lotes de aves de postura comercial, observaram que em 27,6% dos lotes que tinham problemas entéricos, foram isoladas Brachyspiras patogênicas. No entanto, somente foram isoladas Brachypiras em 4,4% dos lotes sem histórico de problemas entéricos. Este resultado indica uma possível relação entre problemas entéricos e a presença de Brachsypiras patogênicas. Na Austrália, em 50 lotes testados, a prevalência foi de 42,9 e 68,2% para lotes de matrizes e postura comercial, respectivamente.(Stephens & Hampson, 1999). Na Itália, Bano et al. (2005) estudando granjas de postura comercial, observaram a presença da Brachyspira em 72,4%, sendo que 31% dos lotes estavam infectados com Brachyspira patogênica (B. pilosicoli ou B. intermedia). Estima-se hoje que aproximadamente 70% dos lotes de postura comercial na Inglaterra usem medicamentos de forma preventiva e/ou curativa para o controle da EIA.
Identificação no Brasil
No Brasil, ainda são escassas as informações sobre a presença das espiroquetas patogênicas na produção avícola comercial. Neste sentido, a Novartis Saúde Animal, em cooperação com o laboratório Simbios Biotecnologia1, iniciou a pesquisa de Brachyspira patogênicas em lotes de postura comercial e matrizes de corte. O objetivo deste trabalho é pesquisar a presença no Brasil das formas patogênicas da Brachyspira em lotes de postura comercial e matrizes de corte.
Até o momento, foram analisadas 37 amostras oriundas de cinco granjas de postura comercial localizadas no Sul do Brasil. A metodologia utilizada para a pesquisa e identificação da Brachyspira sp foi o nested PCR (PCR “aninhado”).
Apesar da pequena amostragem, estes resultados são semelhantes aos encontrados na Holanda, Austrália e Inglaterra e sugerem que a Brachyspira possa estar amplamente difundida nas criações brasileiras.A Novartis continua a pesquisa da Brachyspira em outras regiões do Brasil. Além disso, a empresa está buscando parceiros em Universidades, Centros de Pesquisas e laboratórios de diagnóstico para ampliar os estudos dos impactos deste agente nas nossas condições.
Implicações
O isol
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