Pastagens cobrem as maiores extensões de área na Terra e são utilizadas por inúmeras espécies de ruminantes como fonte de alimento. Esses animais são capazes de transformar a forragem em proteína de alto valor agregado. Ruminantes são menos eficientes que monogástricos como porcos e galinhas, é verdade, mas de qualquer forma podem aproveitar áreas impróprias para agricultura e produzir alimento e renda.
O conceito de melhoramento de pastagens no Brasil, nos idos de 1960/1970, consistia em recuperar o pasto por meio de adubações de cobertura ou em sulcos, introduzindo leguminosas ou mesmo gramíneas mais produtivas, em faixas ou em linhas. Faziam-se inclusive plantios de arroz em áreas recém abertas do Cerrado e semeava-se a pastagem na colheita do grão a fim de amenizar o custo de formação das pastagens. O Brasil Central era um Cerrado contínuo com vegetação de gramíneas nativas e outras naturalizadas, como o capim gordura e o capim jaraguá, de origem africana, introduzidos na época colonial e difundidos pelos bandeirantes. Com programas de formação de pastagens financiados pelo governo, na década de 1970, o estudo de formação, manejo e melhoria de pastagens evoluiu e alcançou as universidades brasileiras. Hoje, há fortes núcleos de ciência em pastagens nas maiores escolas de Agronomia e Zootecnia e já é possível planejar o manejo usando a morfogênese, analisando o ciclo de crescimento e o valor nutritivo das principais plantas forrageiras. O melhoramento genético de forrageiras, no entanto, ainda não é disciplina formal nos cursos de Agronomia e Zootecnia.
Se antes melhorar a pastagem significava adubar, introduzir ou trocar a planta forrageira, hoje já se usam plantas selecionadas pelo melhoramento genético para a formação de pastagens ou para associá-las em sistemas integrados de agricultura–pecuária. Foram-se quase 40 anos. Muitas vezes nos perguntam o porquê da demora na liberação de novas cultivares e a resposta está na necessidade de comprovar o valor para ruminantes. Não basta a forrageira se adaptar bem ao solo e clima, produzir massa de forragem e resistir a pragas e doenças. Os critérios de seleção devem ser o desempenho animal e a sustentabilidade/rentabilidade do sistema.
Falando agora do melhoramento genético propriamente dito, este implica em realizar seleção de genitores, cruzar, avaliar progênies e tornar a selecionar com objetivos bem definidos e visando combinar características de interesse presentes em genitores distintos. Assim, no melhoramento genético de braquiária, por exemplo, busca-se a resistência à cigarrinhas-das-pastagens presente no capim marandu, associada à adaptabilidade aos solos ácidos e pobres da B. decumbens, e o bom valor nutritivo da B. ruziziensis. Cruzamentos nem sempre são possíveis entre as braquiárias, pois nesse gênero há plantas com diferentes números de cromossomos (e se eles não se pareiam bem na divisão celular, ocorrem anormalidades e sementes chochas) e a grande maioria é apomítica (reprodução assexuada onde o embrião da semente não é fecundado e sim um clone, ou cópia exata da planta mãe).
Com a identificação de plantas sexuais numa grande coleção importada da África, foi possível iniciar cruzamentos e hoje já existem híbridos em avaliação avançada e um no comércio, proveniente do programa do CIAT, na Colômbia. O processo de desenvolvimento de cultivares de forrageiras é naturalmente longo, pois uma nova cultivar forrageira deverá vir com recomendações de plantio, manejo de formação e de pastejo, resultados de ganho animal, produção de sementes, indicações de resistência a pragas e doenças, além de informações sobre a identificação taxonômica e adaptação a biomas. Por fim, uma pastagem melhorada é aquela que permite uma utilização sustentável e rentável ao produtor, com persistência e uso eficiente dos recursos naturais de solo, água e clima, ao longo de vários anos. Para que isso ocorra é essencial a participação de equipe multidisciplinar e esforço pluri-institucional por vários anos.
Hoje, existem muitas informações geradas sobre as forrageiras mais importantes para os sistemas brasileiros de produção animal e essa coluna do Portal Dia de Campo abordará algumas delas a cada edição. As novidades os avanços e as perspectivas do setor serão discutidas e sugestões de temas serão muito bem vindos (pautas@diadecampo.com.br). Nosso próximo tema será o uso de biotecnologia em forrageiras tropicais. Não percam.
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