Evidentemente, não existem números oficiais a respeito das sementes de origem clandestinas no Brasil, apenas estimativas. De acordo com levantamentos da Unipasto (Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras) acredita-se, porém, que a participação dos materiais “piratas” no mercado possa chegar a 30%. Número muito significativo se considerarmos que atualmente, o mercado de sementes forrageiras tropicais compreende um pouco mais de 20% do mercado formal de sementes do Brasil. Em cifras, isto representa um faturamento por volta de R$ 1 bilhão. Desse volume, 75% destinam-se ao próprio mercado interno e 25% para exportação.
Marcos Roveri José, diretor executivo da Unipasto, destaca a urgência da necessidade de mobilização da cadeia produtiva a fim de coibir à pirataria. Sementes oriundas de campos clandestinos, sem nenhum controle de geração genética ou de pragas e doenças, causam perdas diretas e indiretas.
De forma mais direta, os efeitos sentidos pelos produtores que usam esses materiais em seu dia a dia são a baixa qualidade e contaminação por pragas e doenças, que, redundam em pastos mal formados e com deficiências nutricionais. Além disso, no entanto, colocam em risco todo o investimento realizado e, pior, fomentam a continuidade de processo desastroso a toda a cadeia.
Pastagem formada a partir de semente de origem clandestina em MS
“Sabe-se que para auxiliar na continuidade da pesquisa, as empresas cobram royalties sobre as cultivares lançadas para garantir a sanidade financeira para futuros reinvestimentos nos programas de melhoramento. Com a prática da pirataria, corre-se o risco de abortar grandes projetos dentro do país; ou seja, por não haver controle do processo produtivo haverá uma desmotivação dos parceiros e das instituições de pesquisa gerando um efeito cascata avassalador”, explica Roveri.
Ele cita como exemplo, o caso da cultivar protegida BRS Piatã, da Embrapa, para a qual se estima uma perda anual no faturamento de R$ 20 milhões. “Assim, se não houver um envolvimento de toda a cadeia produtiva na coibição desta prática tende a uma desmotivação nos investimentos da pesquisa comprometendo todo o programa de melhoramento do país na busca por melhores cultivares. Isto expõe nossas fragilidades nos sistemas de produção”.
Ações
Uma das frentes de ação da Unipasto atualmente é o investimento em ações na mídia para a conscientização dos consumidores quanto aos riscos das sementes piratas.
Dentre as informações divulgadas estão como o produtor pode identificar materiais de origem duvidosa. O preço, por exemplo, pode ser um indício, já que, via de regra, fica bem abaixo dos praticados no mercado legal. Também é abordada a importância de identificar se determinada empresa está autorizada a comercializar aquela cultivar. Pela internet é relativamente fácil levantar essas informações.
Identificando qualquer anormalidade, o caminho é denunciar junto ao Ministério da Agricultura ou à Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), para que estas possam tomar as providências no momento certo, tudo dentro da segurança e sigilo.
Outra forma de combate é acompanhamento sistemático das áreas de produção por um período maior para evitar possíveis escapes. A Embrapa também vem se mobilizando para atuar naqueles que estão usando inapropriadamente as suas cultivares, através de notificações extrajudiciais remetidas pela sua assessoria jurídica.
Em forma de apelo, Roveri, pede a todos os integrantes da cadeia produtiva que participem ativamente no combate à pirataria, denunciando ou deixando de adquirir sementes de empresas suspeitas ou não licenciadas por oferecer preços mais baratos. “É o barato que sai caro”, frisa.
Mercado aquecido
Nos últimos três anos, motivado pelas perdas ocasionadas na produtividade dos campos e no alto consumo dos estoques das empresas expondo baixas ofertas, houve um aumento considerável no consumo de sementes. As altas obtidas na arroba do boi também motivaram a maior procura por sementes principalmente para a reforma de pastagens.
O programa ABC do governo federal, que também estimula o crescimento do sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e a recuperação de pastagens degradas, tem como uma das metas dobrar a área sob ILPF no Brasil até 2020, chegando a 4 milhões de hectares, e, assim, atender os seus compromissos perante a COP-15 na mitigação de gases de efeito estufa.
Mais informações no site da própria Unipasto: www.unipasto.com.br
Reportagem exclusiva originalmente publicada em 10/10/2012
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