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     24/11/2024            
 
 
    

Na nossa primeira coluna no Portal Dia de Campo fizemos uma introdução sobre a criação de abelhas do gênero Apis e a sua atual importância para a geração de divisas, alimentação do homem do campo e sustentabilidade ambiental. No entanto, o divisor de águas para a apicultura nacional se deu há mais de 50 anos com a introdução de uma raça de abelhas africanas no Brasil, a Apis mellifera scutellata, e seu posterior cruzamento com as raças européias até então existentes no país. Esse processo, que passou a ser conhecido por africanização, gerou bastante polêmica no cenário apícola nacional e internacional, sendo ainda motivo de muitas discussões entre diferentes correntes.

Antes da africanização, existiam no Brasil raças européias de abelhas A. mellifera, introduzidas no período colonial e caracterizadas pela reduzida defensividade, o que permitia a instalação dos apiários nas proximidades de residências e criações de animais, com a finalidade principal de atender às necessidades próprias dos criadores. No entanto, problemas de baixa produtividade e de sanidade afetavam negativamente a produção apícola e exigiram a tomada de medidas que aumentassem a resistência dessas abelhas. Esse foi o motivo que levou o professor Warwick Estevam Kerr a África na década de 50 para seleção e coleta de rainhas de raças africanas que apresentassem maiores produtividade e resistência a doenças.

Essas rainhas foram trazidas ao Brasil e, a partir deste episódio, surge um enorme ponto de interrogação na história, relacionado a como essas rainhas – inicialmente confinadas em colmeias – conseguiram ficar livres na natureza, movidas pelo instinto de enxameação comum a essa raça e que ainda persiste nas nossas atuais abelhas africanizadas. O fato é que essa liberação de enxames na natureza mudaria para sempre a imagem da criação de abelhas no país, pois além de mais produtivas, essas abelhas africanas também eram mais defensivas. Um grande pavor em relação a esse inseto foi criado, alimentado por fatos reais, mas também pela disseminação de notícias sensacionalistas. Nasciam então as abelhas ‘africanizadas’, ‘assassinas’ ou ‘killer bees’, um poli-hibrido (cruzamento de diversas raças) que virou astro no imaginário da população, de filmes classe B e que ainda hoje obtem destaque em manchetes de noticiários nacionais.

Nos momentos iniciais do processo de africanização, essas abelhas foram consideradas pragas da apicultura e começaram a surgir campanhas para a sua erradicação, não só nos apiários, mas também nas matas, com a aplicação de inseticidas em todo o País. Outro reflexo foi o abandono da atividade por muitos apicultores amadores e a queda na produção de mel do país por uma inadequação da forma de criação e manejo até então praticada à nova realidade moldada pelo processo de africanização.

Além de aspectos culturais, esse novo cenário exigiu a profissionalização do setor, a necessidade de adequação das indumentárias, das práticas e dos processos para tentar minimizar os aspectos negativos relacionados à maior defensividade da abelha africanizada: vestimentas foram remodeladas, fumigadores tornaram-se maiores e mais potentes, apiários passaram a ser alocados distantes de residências, estradas, aglomerações humanas e de criações de animais. Foi um verdadeiro choque de realidades para a nossa apicultura caracterizada, até então, como hobbista, fixista e de baixa produção.

Apesar de ainda existirem muitos críticos desse processo de africanização pelo qual passou a nossa apicultura, a atividade se consolidou e tem se destacado dentro do agronegócio como uma das que mais se desenvolve. Prova disso é o crescimento da produção de mel brasileira, que nos levou de 17º país no ranking produtor em 2001 para 11º em 2008. De acordo com dados da FAO, houve um salto de produtividade de 27,1 para 40,9 kg de mel/colmeia nesse mesmo período, o que representa um incremento de mais de 50% na produtividade, enquanto o número de colmeias aumentou em somente 3,7%.

Parte desse sucesso se deve a iniciativas de pesquisadores, professores, técnicos, apicultores, instituições governamentais e de fomento e empresas privadas, dentre outros, que determinaram ao longo desses anos uma mudança radical na apicultura brasileira. Pode-se destacar as ações de capacitação e profissionalização em diversos estados que contribuíram para a redução da presença da figura do “meleiro” (extrativista) no cenário apícola nacional, e a adoção de práticas racionais de manejo que permitiram uma melhor convivência com a defensividade e com o instinto enxameatório expressados por essa abelha africanizada. Além disso destacam-se características desse poli-híbrido como a adaptabilidade, que permitiu o desenvolvimento da apicultura nos mais diversos ecossistemas, com suas particularidades de clima e composição de flora; e a sua rusticidade, que tem permitido ao país o desenvolvimento de uma apicultura livre do uso de drogas sanitárias voltadas ao controle de patologias e pragas apícolas que acometem as abelhas em todo o mundo.

Discussões apaixonadas entre defensores das raças africanizadas e das européias à parte, o fato é que todos os elos da cadeia produtiva apícola nacional tem trabalhado para o desenvolvimento da atividade, e lucrado com a sua ascensão: diversas teses, dissertações e projetos de pesquisa foram conduzidos tendo essas abelhas como organismo-alvo; estudos acadêmicos e experiências de produtores contribuíram para a melhoria dos índices zootécnicos; trabalhos de seleção, melhoramento e manejo adequado proporcionaram a redução da defensividade dessas abelhas (ou nós que nos adaptamos a ela?); houve um aumento expressivo das indústrias de material apícola pesado (centrífugas, decantadores, desoperculadores, desumidificadores, etc.), de implementos e de fábricas de indumentárias, sem citar a melhoria geral na qualidade desses materiais; diversificação e incorporação dos produtos das abelhas, de qualidade, na indústria de cosméticos e alimentar; ampliação dos cursos de capacitação em apicultura; utilização das abelhas na prestação de serviços de polinização dirigida, dentre outros.

Em conjunto, todas essas características fazem o Brasil ser atualmente reconhecido internacionalmente como um dos grandes países produtor

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Luiz Antonio Sosnowski - SER Apis - Pesquisa, beneficiamento e assessoria apícola Ltda
02/08/2010 - 19:02
Se os dados acima de produtividade de 40,9 kg/colmÚia/ano apresentados pela FAO fossem reais, estimando a mÚdia de apenas 05 (cinco) colmÚias para cada um dos 350 mil apicultores (estimativa do SEBRAE - NA e CBA - ConfederaþÒo Brasileira de Apicultura), terÝamos 1.750.000 (um milhÒo setecentos e cinquenta mil colmÚias) com uma produþÒo de 71,575 mil toneladas/ano, contradizendo totalmente os dados das mesmas entidades citadas de 50 mil toneladas anuais e mÚdia nacional de 17 kg/colmÚia/ano.

Bruno de Almeida Souza
13/08/2010 - 12:02
Prezado Sr. Sosnowski,

Grato pelo seu contato e consideraþ§es. TambÚm tenho conhecimento desses dados mÚdios de produþÒo brasileira de 17kg/colmÚia/ano, e que jß sÒo divulgados hß bastante tempo - pelo menos 10 anos - sem alteraþÒo. A utilizaþÒo de dados da FAO foi feita justamente por se precisar de uma atualizaþÒo numÚrica padronizada que permita a comparaþÒo da nossa produþÒo nacional com a de outros paÝses produtores. A FAO utiliza para a atualizaþÒo de suas estatÝsticas dados fornecidos pelos pr¾prios paÝses membros, e a padronizaþÒo da metodologia permite uniformizar as informaþ§es coletadas dos diferentes paÝses, reduzindo a possibilidade de erros e discrepÔncias, sendo por isso considerada uma fonte oficial confißvel para obtenþÒo e divulgaþÒo desse tipo de informaþÒo.

Agradeþo novamente o contato e conto com sua intervenþÒo em outras colunas.

Att.,

Bruno de Almeida Souza
Embrapa Meio-Norte

Rogerio De Souza
11/09/2016 - 12:08
Menos aplausos e homenagens ao Cientista Assassino Norte-Americano Dr. Warwick Estevam Kerr e seus Auxiares, todos norte-americanos que trouxeram as abelhas africanas assassinas para o Brasil e agiram de forma irresponsável e permitiram que elas escapassem do laboratório de experiências em 1956. Até hoje, faz 60 anos, o governo dos EUA, o povo dos EUA acusam o governo do Brasil, acusam o povo Brasileiro de serem os responsáveis por esse desastre ecológico. Hipócritas tantos os EUA como os brasileiros que os ficam homenageando, pois a produção de mel aumentou no Brasil, mas por outro lado agora a nossa fica exposta aos ataques de enxames de abelhas assassinas em todas as cidades do Brasil. Quem é brasileiro e não defende o Brasil das acusações é cúmplice desse crime ecológico e catastrófico para o continente americano. Hipócritas! Safados! Estão ganhando dinheiro e o povo e que se dane!

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