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Vacy Álvaro, Web Rádio Água
28/01/2016
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Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que contou com a parceria da Embrapa no Brasil, revelou um dado preocupante: 33% dos solos de todo o mundo está degradado em decorrência de diversos fatores.
A constatação soa ainda mais alarmista se analisarmos que, segundo outro estudo da FAO, até 2050 a produção de alimentos deverá aumentar cerca de 60% para atender a demanda de toda a população global, que deve ultrapassar a casa dos 9 bilhões de habitantes daqui a 35 anos.
A pesquisadora da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça, que fez parte do conselho editorial do estudo, explica que a erosão é apontada como a principal causa dos problemas encontrados e responsável sozinha pela eliminação de 25 a 40 bilhões de toneladas de solo por ano.
“Na erosão, não se perde apenas solo. Junto com essa camada superficial de solo, se perde também, e principalmente, a matéria orgânica do solo, as comunidades biológicas, os micro-organismos… com isso, se perde também a capacidade de produzir alimento, a capacidade de fazer frente às mudanças climáticas, a biodiversidade do solo, então as perdas são inúmeras, junto com o solo”.
Ela também ressalta a urgência na disseminação e aplicação de um manejo sustentável:
“A maneira como nós estamos produzindo não é sustentável. Não se tinha essa linha de base, esse documento registrado sobre o estado do solo. Precisamos agir urgente, tanto a pesquisa, quanto a sociedade civil, quanto cada um de nós e, principalmente, os tomadores de decisão. É preciso conhecer o recurso solo, saber da sua importância e maneiras para reverter esse estado de degradação, como o manejo sustentável do solo. Manejo sustentável do solo é um conceito amplo, complexo, que requer conhecimento, tecnologia e políticas públicas. Trazendo para o Brasil, mas também mundialmente, por exemplo, o que se recomenda é manter esse solo coberto, resíduos da cultura no solo e carbono orgânico no solo principalmente”.
Em relação ao Brasil, que apresenta situação dos solos semelhante a do restante do mundo, a pesquisadora destaca a necessidade de novos estudos relacionados ao tema no País. Ela também cita o Programa Nacional de Solos no Brasil (PRONASOLOS), que é liderado pela Embrapa e representa uma esperança nacional no setor:
“O Brasil tem um problema seríssimo. Nós não conhecemos, em escala mais detalhada, o nosso solo. A pesquisa de solos no Brasil tem mais de 60 anos, mas em termos de mapeamento de solo falta informação mais detalhada. A Embrapa, esse ano, em vista desse relatório e do Ano Internacional dos Solos. Primeiro: nós não temos uma legislação específica para solos e água no Brasil. Segundo: o que existe de legislação está disperso nas diversas instituições, às vezes há repetições e desperdícios… e terceiro: não existem informações dos solos detalhadas do Brasil sobre as quais se possam tomar decisões acertadas, de ordem municipal e decisões para apoiar as políticas públicas. Então, em vista disso a Embrapa está propondo um programa nacional de levantamento de solos, que depois irá para a conservação, pesquisa… o PRONASOLOS (Programa Nacional de Solos do Brasil), proposto pela Embrapa e mais de dez instituições parceiras, vai propor a retomada destes levantamentos no País em uma escala mais detalhada, para que possamos fazer o zonamento agroecológico e os tomadores de decisão possam usar as informações dos solos para criação de políticas públicas. Como eu vou poder fazer manejo sustentável do solo sem conhecer o solo? Então este é o primeiro passo: conhecer para melhor conservar e utilizar os solos”.
O estudo organizado pela FAO também mostrou que os solos brasileiros sofrem com a salinização e a poluição. Atualmente, a Embrapa trabalha com pesquisa, desenvolvimento e inovação no tema solos, com contribuições importantes para o texto de uma Lei de Conservação do Solo e da Água no Brasil.
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