A cultura do feijão-caupi até recentemente tinha um mercado relativamente restrito, sendo seu cultivo feito por pequenos e médios agricultores familiares, com toda produção, comércio e consumo concentrados nas regiões Norte e Nordeste. Atualmente, esta cultura já alcançou produtores empresariais, com lavouras totalmente mecanizadas e está chegando a grandes pólos de produção, comércio e consumo de outras regiões do país, como o Centro-Oeste e o Sudeste. A oferta de grãos padronizados, de alta qualidade e com regularidade tem contribuído para a abertura de novos mercados e assim, já há registro da exportação de feijão-caupi para outros países como Canadá, Portugal, Israel, Turquia, Arábia Saudita, Irã e Egito.
A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é uma possibilidade de tornar o N atmosférico prontamente disponível para as culturas agrícolas e constitui a principal via de incorporação do nitrogênio à biosfera. Os benefícios da FBN são reconhecidos mundialmente e contribuíram para a transformação do Brasil em um dos principais produtores mundiais da cultura da soja, sem a necessidade da utilização de qualquer adubo nitrogenado industrializado e gerando impactos consideráveis no agronegócio e na balança comercial brasileira.
Com esse enfoque, pesquisas com outras leguminosas como o feijão-caupi têm comprovado os resultados positivos com a fixação biológica. No entanto, os estudos de FBN em feijão-caupi não estão associados ao melhoramento genético, como é o caso do melhoramento da soja, que desde o seu início esteve associado à FBN, tendo sido omitido o uso de fertilizantes nitrogenados no programa de melhoramento dessa cultura, desde 1960.
Os estudos desenvolvidos com FBN em feijão-caupi têm mostrado resultados positivos para o aumento da produtividade de grãos. Nesses estudos, foi demonstrado que a inoculação de estirpes bacterianas eficientes é capaz de substituir a adubação nitrogenada em até 80 kg ha-1 de adubo nitrogenado e aumentar o rendimento de grãos em mais de 30%.
Nesse contexto, foi dado o primeiro passo para a inclusão dos estudos de FBN no programa de melhoramento genético do feijão-caupi, com a aprovação do projeto Desenvolvimento de cultivares para o agronegócio do feijão-caupi no Brasil, submetido ao Macroprograma 2 (Competitividade e Sustentabilidade) do Sistema Embrapa de Gestão. Esse projeto é liderado pela Embrapa Meio-Norte e tem como parceiros 15 unidades da Embrapa, três empresas estaduais de pesquisa e oito universidades. No seu plano de ação de pré-melhoramento, foi incluída uma atividade sobre a eficiência de genótipos de feijão-caupi para fixação biológica de nitrogênio, na qual serão avaliados 160 genótipos para a eficiência de fixação biológica do nitrogênio quando associados a bactérias do gênero rizóbio, no período de 4 anos (2011-2014).
Adicionalmente, essas ações se antecipam aos novos desafios que surgem. Recentemente, a agricultura brasileira tem sido responsabilizada pela emissão de gases de efeito estufa (GEE), em parte pelo uso de adubos nitrogenados. A FBN é considerada como uma das estratégias por diminuir o consumo de N – fertilizante na agricultura e, portanto, assume nova conotação no governo federal e, em breve nos Estados, como entre as medidas a serem adotadas intensivamente na agricultura para a redução dos GEE, através do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) vinculado à Política Nacional sobre Mudanças Climáticas.
As ações de Pesquisa e Desenvolvimento de inoculantes são contínuas, pois visa a seleção de bactérias mais eficientes e tolerantes para as condições de cultivo, para diferentes espécies de plantas. Ampliar a oferta de inoculantes e desenvolver novas tecnologias como plantas mais responsivas à FBN, envolvendo ações de inovação e transferências de tecnologias sustentáveis, em conformidade e com visão sócio-ambiental da agricultura, são ações a serem alcançada, e perpassam pela inclusão dos estudos de FBN no programa de melhoramento do feijão-caupi.
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