
As inovações tecnológicas nunca surgiram com tamanha frequência da iniciativa privada como atualmente. O maior exemplo foi de Steve Jobs, considerado inicialmente um excêntrico. Iniciando suas experimentações em sua garagem partiu da ideia da “Caixa Azul” e evoluiu para a maior empresa de computação do mundo, a Apple, tornando possível hoje a milhões de pessoas no mundo, a utilização de computadores pessoais. Incontáveis patentes são obtidas em ambientes informais de criatividade. Softwares de computadores, aplicativos das mais diversificadas utilidades, sistemas digitais, microchips, celulares, notebooks, tabletes, condensadores, indutores, nanotecnologias, bioprodutos, e muitos outros.
Concursos internacionais em diferentes países estimulam na juventude a criação na área de química, robótica e automação, resultando em avanços tecnológicos em diferentes áreas do conhecimento, que induzem ao aperfeiçoamento, desde a medicina com cirurgias virtuais até a indústria automobilística.
Incontáveis inovações devem surgir dos milhares de hackerspaces que se instalam diariamente pelo mundo afora, como estruturas leves e de alta relação benefício/custo. Laboratórios de biotecnologia, informática, cibernética, robótica, que sem nenhuma formalidade, qualquer pessoa pode desenvolver uma ideia, ambiente cujo único compromisso é com a criatividade. No passado o conhecimento e as invenções surgiam da informalidade com os filósofos e pensadores. Na modernidade as universidades e institutos de pesquisa passaram a ter papel preponderante na fronteira do conhecimento. Atualmente a iniciativa privada novamente parece assumir a vanguarda no campo das inovações.
Em diferentes partes do mundo a criatividade é estimulada sem o rigor do academicismo. Na Índia a experiência da Universidade dos Pés Descalços criada por Bunker Roy vem demostrando que a criatividade não depende de escolaridade. As construções/instalações da Universidade foram feitas por aldeões sem orientação de arquitetos e engenheiros. As mulheres com técnica inusitada cuidaram da impermeabilização do telhado. Mulheres analfabetas vêm montando com destreza placas fotovoltaicas de captação de energia solar. Fabricam fogões que funcionam intermitentemente a energia solar. Uma vovó analfabeta se especializou como dentista e cuida da dentição de mais de 7.000 crianças. Um aldeão foi incumbido de reflorestar a área em torno da Universidade quando um técnico em reflorestamento já havia feito um diagnóstico, que seria impossível qualquer planta sobreviver naquelas condições. Toda a água da chuva que cai nos telhados é captada para um tanque de 400.000 litros que asseguram ao campus quatro anos de autonomia de água, caso ocorra uma seca prolongada.
Depois de eletrificar quase todas as aldeias na Índia, a experiência de mulheres especialistas em energia solar se estende ao Afeganistão, na África em Serra Leoa e Gambia, numa iniciativa criativa de Bunker Roy. Com isso ele consegue provar que a difusão de tecnologias não depende de escolaridade, muito pelo contrario, o que mais importante “é meter a mão na massa”.
Neste cenário, o grande desafio das instituições de pesquisa e universidades deve ser reprogramar suas estratégias de modo a situar suas metas entre o rigor de seus comitês de pesquisa e a livre criatividade de grupos informais. Prospectar demandas tecnológicas cada vez mais “antenadas” com as necessidades de mercado e promover difusão de suas tecnologias com a participação e não para os usuários. Ao mesmo tempo reduzir seus custos operacionais para continuarem competitivas. As que não se adequarem terão poucas chances de sobrevivência.
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