As questões relacionadas com construção e manutenção de estradas rurais aumentam progressivamente a cada ano. O número de municípios com estradas em situação crítica cresce em todo o Brasil numa escala alarmante. A magnitude do problema é tão grande que tem levado agricultores e autoridades municipais a um conflito constante. Infelizmente, na maioria dos casos, as atenções com as estradas rurais se restringem quase que exclusivamente às condições de trafegabilidade, sendo praticamente indiferente aos inúmeros problemas ambientais gerados pelo escorrimento superficial de entrada, de leito e de saída. A erosão, o assoreamento e a poluição difusa dos corpos d'água ocorrem de forma pontual, espacial e temporal. Com o passar dos anos, a estrada com ou sem cuidados se torna a maior fonte de alteração ambiental negativa dos rios e vales.
A verdade é que uma estrada não é formada só por uma linha de tráfego inserida no contexto de uma paisagem. Uma estrada é formada por uma obra de engenharia que tenta harmonizar áreas à esquerda, à direita, acima e abaixo do leito; áreas que são ocupadas por tecido urbano, tecido de produção agrícola, áreas cobertas por vegetação natural, enfim, áreas com diversas peculiaridades. Mas de uma coisa tem-se certeza, uma estrada é formada por pessoas, pela sociedade que faz da estrada uma estratégia de organizar fluxos e fixos. As soluções técnicas para projetar, construir, manter e recuperar estradas existem e são consolidadas. Soluções técnicas para tratar a estrada como um passivo ambiental também existem, mas poucas estão consolidadas.
O crônico problema das estradas rurais vem da distante predisposição de organizar uma gestão compartilhada entre poder público, privado e de usuários diretos e indiretos. É óbvio que delegar a gestão das estradas rurais somente para o poder público leva a perenizar e aumentar os impactos negativos da degradação além de alimentar uma crescente insatisfação legal dos usuários. Sendo assim, é necessário partir para resolver o problema crônico diminuindo distâncias, inserindo a força comunitária. A lógica que direciona os estudos para uma gestão eficiente de estradas rurais inclui uma participação efetiva dos moradores locais, e a gestão de cada pedaço da estrada é compartilhada com os diferentes usuários, diretos e indiretos. A gestão compartilhada de estradas pode ser entendida como um conjunto de atividades a serem desenvolvidas em três níveis: um para administrar (atividades burocráticas como planejamento, contabilidade, treinamento, etc.), outro para gerenciar (liderança, condução de equipes, otimização de recursos disponíveis, etc) e um para operar (execução, procedimentos, padrões, etc.). Em estradas, a gestão compartilhada surge como solução alternativa a partir da percepção de que as dificuldades enfrentadas pelas prefeituras ou empresas públicas só vão aumentar.
O crescimento desordenado do município acrescenta na gestão pública, a cada ano, o fardo de algumas dezenas de quilômetros de novas estradas e outros tantos para recuperar leitos e áreas lindeiras degradadas. Consolidar inteligência coletiva, estabelecer práticas eficientes de manutenção, mitigar os efeitos ambientais e otimização de recursos é o que se espera da gestão compartilhada para atuar com excelência na estrada, perenizando a trafegabilidade, produzindo beleza cênica e uma enorme sensação de coletividade organizada.
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