Embora o Brasil seja detentor de abundantes recursos hídricos e grande biodiversidade, sua produção aquícola ainda é irrisória. O desempenho da aqüicultura é baseado em espécies exóticas com o uso de tecnologias importadas, como acontece com o camarão marinho e a tilápia. A produção de espécies nativas é pouco representativa e bastante amadora, por falta de informações e tecnologias. O projeto Aquabrasil procurará desenvolver informações e tecnologias adaptadas às condições regionais e locais para melhorar o desempenho da aquicultura brasileira, a fim de propiciar o abastecimento do mercado interno e a exportação, tendo como linha mestra a promoção de um grande salto tecnológico capaz de promover a sustentabilidade da atividade, do ponto de vista econômico, social e ambiental, com geração de emprego e renda e a inclusão social de parcelas significativas do campo. Está baseado na ênfase à pesquisa nas espécies de valor econômico, considerando as peculiaridades regionais e a proteção à biodiversidade, tendo sido definidas como prioritárias as espécies camarão marinho L. vannamei, a tilápia GIFT, O. nilótica, proveniente da Malásia, em âmbito nacional e o tambaqui, C. macropomum e a cachara, P. reticulatum, em âmbito regional.
Este projeto coloca foco na pesquisa, na medida em que elege espécies prioritárias e executa as ações de pesquisa com visão de cadeia produtiva, da fazenda ao consumidor. Busca, através do melhoramento genético, a obtenção de alevinos de qualidade e produtivos, o desenvolvimento de rações nutricionalmente balanceadas em consonância com os hábitos alimentares de cada espécie, a identificação e o controle sanitário integrados, o desenvolvimento e adoção de boas práticas de manejo dos sistemas de cultivo para produção de matéria-prima segura e passível de processamento agroindustrial, melhorando e desenvolvendo novos produtos práticos, seguros e com alto valor agregado, com aproveitamento máximo do pescado e eliminação de resíduos ao mínimo possível.
Melhoramentos genéticos efetuados com peixes têm mostrado um potencial de ganho de crescimento de 15% por geração. Cada nova geração melhorada serve de base para o próximo passo e se estima que na sexta/sétima geração alcancem o dobro da taxa de crescimento da população original, resultando em alevinos de qualidade e produtivos a serem disseminados na piscicultura nacional. Cada geração melhorada será imediatamente transferida para a iniciativa privada, de forma a se obter gerações sucessivas melhoradas e de melhor desempenho que a anterior. A iniciativa privada já é parceira no projeto, possibilitando a transferência de tecnologias de melhoramento e de produção.
Aliadas à obtenção de alevinos de qualidade e mais produtivos, via melhoramento genético, torna-se necessária a formulação/obtenção de rações nutricionalmente balanceadas que estejam em consonância com os hábitos alimentares de cada espécie, a fim de obter desempenho máximo com redução ao mínimo de descarga de compostos fosforados e nitrogenados nos sistemas de cultivo. Ingredientes alternativos regionais serão testados para avaliar a possibilidade de redução de custo de rações, mantendo o princípio do atendimento aos requerimentos nutricionais de cada espécie, ao tempo em que serão testados probióticos tanto para melhorar o desempenho produtivo da tilápia e do tambaqui como a resposta imune do camarão branco, L. vannamei.
Na medida em que houver incremento das atividades de cultivo, mais e mais a sanidade e a biossegurança serão demandadas e constituirão entraves ao desenvolvimento do setor. Métodos de prevenção e desenvolvimento de tecnologias visando a redução do uso indiscriminado de antibióticos e quimioterápicos serão cada vez mais demandados. Nesse sentido, serão desenvolvidas ações que sejam capazes de promover a identificação e controle sanitário integrados, a padronização de metodologias de análises parasitológicas em peixes, metodologias para estudos hematológicos e metodologias de coleta de amostras de peixes e água para estudos parasitológicos, hematológicos e histopatológicos, de forma a se obter procedimentos padrões para todo o território nacional, possibilitando a obtenção de produtos sadios e seguros.
O próximo passo refere-se ao desenvolvimento e adoção de boas práticas de manejo nos sistemas de cultivo de cada propriedade/fazenda para otimizar os índices sócio-ambientais e econômicos, o que implica em maximizar o uso da água em seus quesitos de qualidade e quantidade. Água de boa qualidade é condição imprescindível para produção de peixes de qualidade. Para tanto será necessário considerar não apenas o corpo d’água na propriedade, mas também o entorno e a origem da água utilizada, o que envolve, por exemplo, controle da erosão na propriedade e no seu entorno, entre outros fatores. Exige também o uso de rações de qualidade que minimizem a descarga de compostos fosforados e nitrogenados bem como assegurar-se de que a ração esteja sendo fornecida na medida do consumo dos peixes. Exige também um acompanhamento diuturno para avaliação das condições de saúde dos peixes, por exemplo, para minimizar o uso de quimioterápicos. O desenvolvimento e a adoção de boas práticas de manejo garantem a produção de matéria-prima segura e passível de processamento industrial, de forma a agregar valor, melhorando os produtos já existentes e desenvolvendo novos produtos práticos, com aproveitamento máximo do pescado produzido. Ações de pesquisa serão desenvolvidas para reduzir ao máximo os resíduos produzidos no processo de criação e processamento industrial. Está em desenvolvimento um software, “Aquisys”, no qual os produtores poderão entrar com as informações do seu sistema de cultivo e receber resultados quanto ao seu manejo, bem como informações sobre órgãos ligados ao licenciamento ambiental, opções para auxiliar a avaliação de boas práticas de manejo de tilápia, diagnóstico rápido de boas práticas de manejo por avaliação visual da propriedade, avaliação visual de alterações físicas e comportamentais dos peixes para diagnósticos de saúde e avaliação de qu
|