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O confinamento de ovinos é uma alternativa para o aumento da disponibilidade de animais gordos, principalmente na época de entressafra, em que os preços mais elevados têm sido estimulados. Mas para obtenção de ganhos que compense economicamente essa prática, a ração deverá conter níveis adequados de proteínas e elevados de energia, com ocorrência da maximização do uso de concentrados, visando reduzir o tempo de permanência dos animais na fase de terminação, elevar as taxas de ganho de peso e eficiência alimentar, consequentemente, diminuir os custos de alimentação (Medeiros et al., 2008).

Mesmo admitindo-se que a alimentação participa com percentual elevado nos custos totais de produção, para obtenção de elevados desempenhos produtivo e reprodutivo dos animais, as rações devem ser formuladas de forma a atender adequadamente as necessidades nutricionais dos animais, o que presume adição de concentrado. Contudo, nem sempre esta estratégia é economicamente viável e, às vezes, pode ocasionar distúrbios fisiológicos nos animais, tornando-se importante o estudo dos efeitos da inclusão de níveis de concentrados sobre o consumo dos nutrientes. Incluindo o fato de que os ruminantes requerem volumosos em suas dietas para maximizar a produção e se manterem saudáveis, em virtude da manutenção de ambiente estável no rúmen (Allen, 1997).

A fibra é fundamental por manter as condições ótimas do rúmen, pois altera as proporções de ácidos graxos voláteis, estimula a mastigação e mantém o pH em níveis adequados para a atividade microbiana (Mertens, 1992). Por outro lado, a fibra pode ser definida nutricionalmente como a fração indigestível ou lentamente digestível dos alimentos, que ocupa espaço no trato gastrintestinal dos animais (Mertens, 1997) e, dessa forma, limita a ingestão de alimentos. A fibra especificamente a fibra em detergente neutro (FDN) está relacionada tanto ao efeito de enchimento, quanto à densidade energética do alimento, podendo ser utilizada para relacionar os mecanismos de regulação de consumo, em uma mesma escala (Mertens, 1992).

Segundo Mertens (1992), o limite de ingestão de fibra em detergente neutro (FDN) está em torno de 1,2% do peso corporal do animal, valor este quando ultrapassado, implica na restrição de ingestão pelo efeito do enchimento do trato gastrintestinal. Porém, outros aspectos influenciam as respostas de consumo dos animais, como tamanho de partícula, frequência e efetividade da mastigação, fragilidade das partículas, proporções de FDN indigestível e taxas de fermentação da FDN potencialmente digestível (Allen, 1995).

A produção animal depende do consumo de nutrientes para atender as exigências conforme a produção desejada e a ingestão de MS é a base para o suprimento de nutrientes (Castro et al., 2007), onde, a maximização do consumo de alimento é um componente chave na formulação de rações e estratégia de alimentação para otimizar a rentabilidade da produção, pois o desempenho animal é, primeiramente, definido como consumo voluntário, já que este determina o nível de ingestão de nutrientes (Van Soest, 1994).

Consumo voluntário seria a quantidade de alimento que um animal ingere durante certo período de tempo, no qual ele tem livre acesso ao alimento. A motivação para a ingestão de alimento é um estado reversível do cérebro e depende dos sinais internos (fome e saciedade) e externos (principalmente os sentidos) (Forbes, 1995). Segundo o NRC (1987), o consumo de alimentos é controlado pelo hipotálamo, no qual existem dois centros ativos. O primeiro é o centro da fome (hipotálamo lateral), que estimula o consumo de alimentos, a menos que haja inibição do segundo, centro da saciedade (hipotálamo ventro medial), que recebe sinais do organismo como resultados da ingestão de alimentos.

Conrad et al. (1964) relataram que o controle do consumo de alimentos é explicado por dois mecanismos: o físico e o fisiológico. Por outro lado, Mertens (1994) acrescentou que a ingestão de matéria seca é controlada por fatores físicos, fisiológicos e psicogênicos. Segundo esse autor, o mecanismo físico refere-se à distensão física do rúmen-retículo, o fisiológico é regulado pelo balanço energético e a regulação psicogênica envolve a resposta comportamental do animal, frente a fatores inibidores ou estimuladores no alimento, ou no manejo alimentar, que não é relacionado ao valor energético do alimento, nem ao efeito de enchimento.

Segundo Van Soest (1994), a demanda energética do animal define o consumo de dietas com alta densidade calórica, enquanto a capacidade física do trato gastrintestinal determina a ingestão de dietas com baixa densidade energética. Contudo, Waldo (1986) relatou que o ponto de transição entre os mecanismos de controle do consumo não é fixo para todas as situações, o que é comprovado por respostas variáveis obtidas em estudo de avaliação da inclusão de concentrado nas dietas. Segundo Preston & Willis (1974), fatores como classe sexual, raça, idade do animal, qualidade do volumoso e do concentrado são determinantes do nível de concentrado na ração.

A FDN, por estar diretamente relacionada com o efeito de enchimento do rúmen e inversamente com a densidade energética da dieta, pode ser usada, em uma mesma escala, para caracterizar tanto os mecanismos físicos, quanto os fisiológicos de controle da ingestão de alimentos (Mertens, 1992). Contudo, a formulação de rações com base no FDN, embora alcance um dos mais importantes objetivos no balanceamento de ração, que é definir o limite máximo da proporção volumoso:concentrado, não contribui para estabelecer diferenças na fibra, que são associadas a cinéticas de digestão e passagem ou às características físicas da fibra, como tamanho de partícula (Mertens, 1997).

Entende-se como hábito alimentar os costumes, as preferências, as características e a forma com que os animais apreendem os alimentos para sua mantença. O conhecimento do comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na avaliação das dietas, pois possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho produtivo (Costa, 2008). Contudo, a capacidade do alimento de ser ingerido pelo animal depende da ação de vários fatores que interagem em diferentes situações de alimentação, comportamento animal e meio ambiente.

Segundo Carvalho (2005), a capacidade e o hábito de seleção observada nos pequenos ruminantes decorrem da adaptação dessas espécies às condições ambientais e possibilitam, através da seleção mais eficiente da forragem, a ingestão de uma dieta com menor teor de alimentos fibrosos, com isso mais digestíveis. Compensando a menor capacidade dessas espécies de ingerir forrageiras grosseiras, em razão do menor tamanho relativo do rúmen e consequentemente, menor tempo de retenção do alimento no rúmen-retículo, resultando em menor possibilidade do mesmo sofrer a ação dos microrganismos ruminais.

Os ovinos são classificados como animais selecionadores intermediários, embora, apresentem algumas preferências por determinadas categorias de plantas, são possuidores de uma grande plasticidade alimentar. Este comportamento alimentar é classificado como oportunístico, modificando facilmente suas preferências alimentares em função da época do ano, disponibilidade e qualidade dos alimentos (Carvalho, 2005). Os ovinos são capazes de diferenciar os alimentos por aspectos como tamanho, cheiro, forma e outras características sensoriais. O senso de visão detecta os alimentos em considerável distância. Uma vez identificado, o alimento pode vir a ser apreendido pela boca. Na boca, outro aspecto do alimento é identificado: a textura (Domingue et al., 1991).

Considerando-se todos esses aspectos, ocorre a decisão por parte do animal sobre a ingestão ou não do alimento, baseado também em experiências alimentares anteriores.

Os ovinos têm a capacidade de ajustar o consumo alimentar, principalmente em função de seus requerimentos energéticos e da capacidade de enchimento ruminal. Cordeiros em terminação, por exemplo, preferem alimentos ricos em energia e proteína como consequência de suas exigências nutricionais mais elevadas. Ovelhas no terço final da gestação também são mais seletivas do que ovelhas vazias, concluindo-se, que o comportamento ingestivo é consequência da associação de fatores sensoriais para identificação dos alimentos e estádio fisiológico em que os animais se encontram (Ribeiro, 2008). Outros fatores influenciadores do consumo em ovinos são: a presença de fatores antinutricionais, toxinas, facilidade de corte pelos dentes, assim como, a própria heterogeneidade alimentar.

O aumento do consumo tende a reduzir o tempo de ruminação por grama de alimento, fator provavelmente responsável pelo aumento de tamanho das partículas fecais, quando os consumos são elevados. Segundo Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor de parede celular dos volumosos.
 
Alimentos concentrados e fenos finamente triturados ou peletizados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a aumentar o tempo de ruminação.

A mastigação relaciona-se diretamente com o tamanho das partículas que chegam ao rúmen, interferindo na digestão dos alimentos e no consumo alimentar. As partículas alimentares, por sua vez, não podem deixar o rúmen até que seu tamanho seja inferior a 1 mm, já que esse é o diâmetro do orifício retículo-omasal de ovinos. Desse modo, dois processos afetam a quebra de partículas alimentares nos ruminantes: a mastigação durante a apreensão dos bocados, e a mastigação durante a ruminação. A digestão microbiana por si só não contribui para a redução do tamanho das partículas, mas facilita a quebra das partículas durante a ruminação (Domingue et al., 1991).

Para o perfeito entendimento dos processos de digestão dos alimentos, eficiência de utilização, absorção e manutenção das condições corporais dos ovinos é necessário o estudo do comportamento alimentar (Mendes Neto et al., 2007). A diversidade de objetivos e condições experimentais conduziu a várias opções de técnicas de registro dos dados, na forma de observações visuais, registros semiautomáticos e automáticos e parâmetros estudados selecionados para a descrição do comportamento ingestivo, como tempo de alimentação ou ruminação, número de alimentações, períodos de ruminação e eficiência de alimentação e ruminação.

Portanto, o completo entendimento do consumo de nutrientes e comportamento alimentar de ovinos poderá ser uma ferramenta para redução dos custos de produção, uma vez que o consumo de nutrientes e comportamento alimentar estão atrelados à alimentação.

Referências Bibliográficas

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CARVALHO, F.C. Comportamento alimentar de caprinos e ovinos em sistemas intensivos de produção. In: CAMPOS, A.C.N. (Ed.). Do Campus para o Campo: Tecnologias para Produção de Ovinos e Caprinos. Ed. Gráfica Nacional, 2005. p.147-153.

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Théo Gesteira
14/07/2012 17:52:22
Parabéns pela matéria.Temos sempre tocado nêsse assunto com relação à alimentação ideal para ovinos e tenho dito que atualmente ainda não temos conhecimento real de que tipo de ração e ou alimento ideal para conseguirmos ganho de peso em relaçao a custo. Digo também o que falta para os ovinos é o que se conseguiu para o frango e o suino. Quando isso for alcançado teremos então uma real condição de produção de ovinos em confinamento ou terminação.
theogesteira@oi.com.br

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