O bambu, também conhecido como taboca ou taquara, é uma gramínea de porte arbóreo que se caracteriza por seu rápido crescimento e elevada capacidade de produção de biomassa. Os tabocais localizados no sudoeste da Amazônia são considerados a maior reserva de bambus nativos do mundo. As áreas ocupadas por essas florestas se iniciam na Cordilheira dos Andes, em território peruano e boliviano, e se estendem pelo Estado do Acre até o sul do Amazonas. Essas florestas podem ser manejadas para fornecer matéria-prima destinada a diversos usos e suprir grande parte da demanda do Brasil e do mundo.
Praticamente tudo que é possível fazer com a madeira pode ser feito com a taboca, em alguns casos com vantagens, devido às características de suas fibras. Atualmente, já é possível transformar o bambu em madeira maciça e usá-la para todas as finalidades da madeira convencional. A obtenção da madeira de bambu é feita por processo industrial de laminação, colagem e prensagem das fibras com resinas especiais. As peças assim obtidas apresentam alta densidade e flexibilidade, similar às melhores madeiras tropicais. Os pisos de bambu estão entre os usos que mais vêm crescendo no mercado mundial, sendo também possível a sua aplicação em áreas externas, como decks para piscinas, com longa durabilidade. Isso mostra que os produtos de bambu podem ser bastante duráveis, quando bem manejados e tratados com processos que garantam a impermeabilização e imunização contra pragas.
O agronegócio do bambu no mundo atingiu, em 2009, cifras de 1,82 bilhão de dólares, considerando somente as exportações, segundo a United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Estima-se que a China, maior exportador de produtos derivados do bambu, movimente anualmente, em seu mercado interno, cerca de 6,5 bilhões de dólares na cadeia produtiva do bambu. Os EUA aparecem como o maior importador, seguidos da União Europeia e do Japão, sendo os painéis de bambu para pisos o produto mais exportado.
O Brasil tem um enorme potencial de produção e exportação de bambu manufaturado, podendo abastecer o mercado mundial, tanto pela costa leste, por meio dos portos do Atlântico, como pela costa oeste, pelos portos do Peru, por meio da rodovia interoceânica. E, por esta via, o Acre tem consideráveis vantagens competitivas, dada a sua localização geográfica estratégica e a abundância natural de bambu em suas florestas.
A lei do bambu, sancionada pela presidência da república em setembro de 2011 (Lei Federal nº 12.484/2011), que dispõe sobre a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu, foi um avanço importante, assim como o Memorando de Entendimento assinado entre o Brasil e a China para o desenvolvimento do bambu. Todavia, quase 2 anos após as assinaturas, ainda não são observados efeitos práticos. No caso da lei do bambu é primordial que seja regulamentada com urgência, para que tenhamos os instrumentos e fontes de recursos necessários para a sua aplicação. A sociedade civil organizada, por meio da Rede Brasileira do Bambu (RBB) e da Associação Brasileira de Produtores de Bambu (ABPBambu), deve intensificar as cobranças para que possamos avançar nesse processo.
Os estados e municípios também podem contribuir para o desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu. Uma das possibilidades seria a criação de programas que absorvessem a produção local, para uso na construção de moradias populares, como já é feito em outros países. O bambu poderia ser utilizado em obras públicas, tais como: escolas, postos de saúde, paradas de ônibus, quiosques em parques urbanos e pontes, entre outras. Mesmo que as construções não sejam feitas totalmente com bambu, seu uso apenas complementando a madeira já seria suficiente para absorver grande parte da produção. Quanto aos aspectos legais de segurança para o uso do bambu em construções, a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) poderia desenvolver e testar esses protótipos que seriam homologados para o uso. Deve-se considerar também o seu potencial como acessório na construção civil, com possibilidades de uso como andaimes, escoras, caixarias para concretagem (feitas de esteiras de colmos aplainados), etc., que, mesmo sendo um uso menos nobre, tem enorme potencial de absorção da produção.
O Acre já é reconhecido internacionalmente por desenvolver uma política de uso sustentável de seus recursos naturais e o fato de possuir a maior reserva de bambu do mundo contribui para essa notoriedade. Esse reconhecimento poderia aumentar com a implementação de um “plano estadual para o aproveitamento do bambu”, em que seria prevista a sua utilização maciça em obras públicas, com arquitetura diferenciada, planejadas para ter elevada durabilidade e proporcionar um ambiente belo e agradável aos usuários. Assim, Rio Branco poderia se tornar “a capital do bambu” e seria uma brilhante jogada de marketing, que consolidaria o estado como referência em desenvolvimento sustentável.
A iniciativa privada também precisa conhecer e investir no potencial do bambu e o setor madeireiro tem muito a ganhar e a contribuir para o desenvolvimento da cadeia produtiva. O bambu não precisa necessariamente competir com a madeira, pelo contrário, deve complementá-la e aproveitar o crescente nicho de mercado que exige produtos mais sustentáveis e com certificação de origem. O processamento primário do bambu por meio de uma planta simples, para obtenção de ripas aparelhadas, usadas para a produção de laminados, seria um avanço importante. Essa produção seria facilmente absorvida pela indústria de laminação no centro-sul do País. Porém, o mais interessante seria a instalação de uma indústria para a produção de madeira maciça de bambu no Acre, que poderia aproveitar os incentivos governamentais oferecidos por meio da Zona de Processamento de Exportação (ZPE).
Para que o desenvolvimento do bambu avance, como opção de negócio, se torna necessário superar alguns preconceitos e equívocos, que o colocam como um material de baixa qualidade e de pouca durabilidade, frequentemente vinculado à pobreza ou como uma planta daninha para a produção agropecuária. Mas, com a geração de conhecimento e informação à sociedade, será possível superar a barreira da falta de tradição no uso dessa maravilhosa planta. No Acre, temos matéria-prima em abundância e o capital humano e institucional necessários para o desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu, faltando apenas decisão política para acelerarmos esse processo.
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