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O lodo de esgoto é um resíduo repleto de matéria-orgânica que normalmente é descartado em aterros sanitários e pode causar grandes prejuízos ao meio ambiente se não for manipulado de forma correta. O desperdício e problemas ambientais podem ser evitados com a utilização do lodo de esgoto na agricultura, já que ele pode oferecer nutrientes ao solo, principalmente nitrogênio. No caso da cultura do milho, experimentos realizados por pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) durante sete anos mostraram que a aplicação aumenta a produtividade do cereal. A produção de milho passou de 6 toneladas, com uso de adubo convencional, para 6.400 toneladas com a aplicação de 10 toneladas de lodo por hectare, durante sete anos.

Os resultados foram apresentados pelo engenheiro ambiental José Rafael Pires Bueno, mestre em agricultura tropical e subtropical na área de gestão de recursos agroambientais do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), durante o VII SIBIO (Simpósio Interamericano de Biossólidos) que aconteceu na cidade de Campinas, em São Paulo, entre os dias 26 e 28 de outubro. Bueno diz que foram testadas duas dosagens diferentes: 10 t e 20 toneladas por hectare e a diferença entre as duas não foi significativa. A legislação brasileira não permite o uso de mais de 10 toneladas de lodo de esgoto por hectare, por questões preventivas, e foi a dosagem recomendada por lei que deu resultados para o milho. O engenheiro ambiental frisa que é muito importante que os produtores sigam a legislação para evitar problemas.
— O benefício é que este resíduo oferece ao solo matéria orgânica, macronutrientes como nitrogênio, fósforo e enxofre, e também os micronutrientes presentes na composição do lodo. Outra vantagem é que é um resíduo que atualmente tem a sua exposição em aterro sanitário, o que é um desperdício muito grande, já que a gente pode aproveitar estas características dele na agricultura. Além das propriedades químicas, outra vantagem são as características físicas do solo porque o lodo também serve como condicionador físico e proporciona melhor agregação do solo, dando mais estabilidade. Isso acarreta em maior porosidade do solo, melhor aeração, assim como a maior capacidade de retenção de água. Ocorre a mineralização dos nutrientes, que vão sendo oferecidos à planta na medida em que o lodo for se decompondo no solo. Os nutrientes serão oferecidos de forma mais lenta, porém em longo prazo — explica Bueno.
A taxa de aplicação recomendada é calculada em função da quantidade de nitrogênio que tem disponível no lodo utilizado. Do nitrogênio total presente no lodo de esgoto, 30% é considerado disponível para a cultura. A partir daí é calculada a quantidade de lodo necessária para suprir as necessidades da planta. O estudo foi feito entre os anos de 2001 e 2008, sendo que as aplicações de lodo só foram feitas até 2007. Os pesquisadores estão estudando agora a recomendação de uma redução da quantidade de lodo aplicado por hectare, já que o solo está em melhores condições após as aplicações anuais sucessivas e a quantidade de nitrogênio disponível no solo é maior. Por enquanto, este estudo ainda não foi finalizado.
— A adubação com lodo deve ser feita na época convencional, cerca de 30 dias antes de entrar com o plantio da cultura. O lodo é amontoado e aplicado manualmente com carrinho de mão e pá. Fazemos a incorporação no solo com enxadão. Em escala comercial podemos usar adubadeira ou o equipamento para aplicar calcário, só que o lodo é um pouco mais úmido. O principal é que o agricultor sempre tenha atenção ao ph do solo, que deve estar em torno de 6,5. Ele nunca deve aplicar o resíduo no solo quando o ph se encontrar abaixo de 5,3 porque isso pode favorecer a atividade de algum metal pesado que possa estar presente no lodo. É preciso tomar alguns cuidados básicos. Sempre que o produtor for mexer com resíduos deve evitar contato com a pele usando equipamento de proteção — ressalta.

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