Será que o modelo de produção atualmente em uso se sustenta? Práticas agrícolas tidas como ultrapassadas, mas importantes para a sustentabilidade de qualquer modelo de produção, estão sendo deixadas de lado. Rotação de culturas, por exemplo, é uma prática agrícola extremamente importante quando se pensa em sustentabilidade de um sistema de produção. No entanto, o seu uso está cada vez menor. Qual ou quais as razões da pouca utilização da rotação de culturas?
A cada dia aumenta a lista de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Por que será? Será que os herbicidas estão com a suas eficiências diminuídas ou nós estamos utilizando mal estes produtos?
No caso da soja, estamos fazendo algumas coisas que são preocupantes no médio e longo prazo, dentre as quais se pode destacar: 1) a cada ano a semeadura é realizada mais cedo; 2) para uma mesma unidade de produção é cada vez maior o uso de cultivares precoces; 3) não há preocupação com a diversificação de cultivares, tão pouco com o escalonamento da época de semeadura; 4) para antecipar ainda mais o ciclo da soja é feita a dessecação, muitas vezes de forma extremamente antecipada – o que reduz a produtividade; 5) a colheita é feita em condições de solos com altos teores de umidade – degradação dos atributos físicos; 6) na sequência é feita a semeadura do milho ou do algodão – são utilizadas máquinas cada vez maiores, mais pesadas e a semeadura é feita também em solo com elevado teor de umidade, visando aproveitar a “janela para plantio” que é muito estreita; 7) a adubação é feita a lanço de forma indiscriminada - em nome da melhoria da eficiência do processo de semeadura, é semeada maior área em menor tempo; 8) para completar, agora vem a soja de “segunda safra”.
A cada dia é maior a demanda pelo novo para superar limitações que estamos impondo aos diferentes sistemas de produção. Será que a novidade não seria relembrar conceitos considerados por muitos como antiquados, como rotação de culturas, diversificação de cultivares, monitoramento das lavouras, observação do teor de umidade do solo ao executar uma atividade mecanizada, análise do melhor tráfego de máquinas, dentre outras inúmeras práticas cujo custo para o agricultor é zero?
A isto, soma-se o tamanho das máquinas e das áreas, que são cada vez maiores em nome da escala de produção. O resultado é que, a cada dia, o lucro por unidade produzida é menor, pois os custos são cada vez maiores, daí busca-se como alternativa o aumento das áreas para ganhar em escala. Será que é este o melhor caminho? Como está o controle de tudo aquilo envolvido para se produzir uma saca de soja, uma arroba de algodão ou uma arroba de carne. Temos controle? Sabemos quanto estamos gastando para produzir uma saca de soja?
Precisamos, além de relembrar "velhos" conceitos, também incorporar novas tecnologias aos sistemas de produção, o que inclui novas máquinas por exemplo. Como fica boa a semeadura quando o produtor utiliza uma máquina com sensor de sementes... A pergunta que fica é: como a semeadura feita com esta máquina está contribuindo para a melhoria da produtividade de todo o processo, inclusive para a produtividade física daquilo que está sendo semeado? Se conceitos consagrados continuarem a ser negligenciados, talvez não esteja havendo qualquer tipo de ganho; muito pelo contrário, pode estar havendo aumento de custos.
Em nome da escala de produção, da necessidade de agilidade na operação para aproveitar a curta “janela de plantio” deixa-se, por exemplo, de usar inoculantes na soja. Será que este é o caminho? Com a utilização adequada do inoculante, pode-se economizar com adubo nitrogenado, o que tem impacto significativo no custo de produção, além de evitar os efeitos negativos da sobrecarga de nitrogênio mineral sobre os recursos naturais.
Com a utilização das boas práticas agrícolas, relembrando o velho e o consagrado e observando a escala, é possível assegurar a sustentabilidade do negócio, produzir alimentos, fibra e energia para atender à crescente demanda da sociedade.
|