Solos supressivos são aqueles que apresentam-se inóspitos a alguns fitopatógenos, sendo de dois tipos: a) o patógeno não pode estabelecer-se no solo (solo com supressividade ao patógeno); b) o patógeno estabelece-se causando doença severa no início e esta diminui de intensidade à medida que se sucedem os anos de cultivo (solo com supressividade a doenças). Esses tipos de solos passam, em sua maioria, despercebidos pela baixa incidência de doenças mesmo quando o patógeno está presente em alta densidade de inóculo.
Os mecanismos envolvidos na supressividade de solos a fitopatógenos são variados e complexos, sendo de grande interesse conhecer a natureza da interação entre a planta hospedeira, o patógeno e a comunidade microbiana ao redor, de modo que os solos agrícolas possam ser manejados para estimular a supressão às doenças. Patógenos de plantas, antes de penetrarem no hospedeiro, comumente são transeuntes no solo, sendo expostos durante este período a várias interações com outros micro-organismos presentes. Há um somatório de vários estresses subletais no propágulo do patógeno, como parasitismo, predação, exaustão e lise, de modo que a diversidade biológica presente no solo exerce papel fundamental na manutenção da estabilidade dos sistemas.
Como, então, desenvolver a supressividade do solo? Certamente, as possibilidades incluem ênfase na manutenção da matéria orgânica do solo para suportar a atividade biológica e a busca por práticas agrícolas que, seletivamente, interfiram de forma positiva na qualidade do solo. Dentre os numerosos métodos disponíveis para o manejo da matéria orgânica do solo destacam-se as práticas de cultura de cobertura e de adição de matéria orgânica de fonte externa, por meio de composto (processo termofílico) e húmus de minhoca, também conhecido como vermicomposto.
As minhocas, principalmente as espécies detritívoras, facilitam o trabalho dos micro-organismos decompositores da matéria orgânica e o desenvolvimento de populações consideráveis desses micro-organismos. São essas populações de micro-organismos úteis que tornam o húmus de minhoca superior ao composto pela liberação de enzimas e outras substâncias que agregam as partículas do solo; pela liberação de nutrientes minerais (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, manganês, magnésio, enxofre, cobre, zinco e outros) e orgânicos (aminoácidos, acúçares, gorduras, ácidos húmicos e outros) em decorrência da decomposição da matéria orgânica; além da liberação de várias substâncias formadas pelos próprios micro-organismos (hormônios de crescimento, antibióticos e vitaminas) e que, em conjunto, contribuem para a nutrição de plantas e sua resistência a doenças.
De forma surpreendente, a investigação da utilização do húmus de minhoca na supressão a doenças de plantas é relativamente recente em comparação aos compostos termofílicos. As investigações, em sua grande maioria direcionadas à avaliação de diferentes origens do húmus de minhoca na supressividade a doenças em vários patossistemas (interação patógeno/hospedeiro), indicam um futuro promissor desta prática de manejo de doenças de plantas, muito embora a supressão a doenças mediada por húmus de minhoca permaneça altamente variável e dependente, dentre outros fatores, da engenharia de produção do húmus ou, em outras palavras, do resíduo orgânico e da espécie de minhoca empregados no processo de obtenção do húmus, bem como do método de produção.
Na prática, a supressão específica ocasionada pelo estímulo de micro-organismos antagonistas específicos, como fungos e bactérias, envolve a combinação de efeitos diretos e indiretos relacionados, respectivamente, às interações patógeno-antagonistas e patógeno-planta-antagonista. No primeiro caso, os mecanismos propostos de supressão específica envolveriam o parasitismo, a antibiose, a competição por nutrientes ou sítios específicos de infecção e enzimas extracelulares envolvidas na destruição de propágulos do patógeno ou na prevenção de sua germinação. A resistência induzida (respostas de defesa das plantas) tem sido, por outro lado, apontada como efeito indireto mediado pelo hospedeiro na presença de micro-organismos específicos (eliciadores).
Esforço de pesquisa, relacionado à utilização de práticas agrícolas sustentáveis para o controle de doenças de plantas, centradas no aumento da diversidade de populações microbianas benéficas do solo, vem sendo empreendido na Embrapa Clima Temperado. Enfoque tem sido direcionado para a implementação de práticas efetivas de utilização do húmus de minhoca e seu extrato aquoso (húmus líquido), especialmente em horticultura, para o desenvolvimento de solos supressivos ao fungo Sclerotium rolfsii, patógeno com ampla gama de hospedeiros e de difícil controle em solos infestados. À parte das características potenciais de supressão a doenças, o húmus de minhoca tem sido investigado quanto a seu potencial como veículo para agentes de biocontrole, ou seja, como substrato que poderia não somente suportar o crescimento e a proliferação de organismos de biocontrole, mas aumentar o potencial de controle de doenças pela provisão de grau adicional de supressão.
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