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Agroindústria  
Pesquisa desenvolve mandioca com mais amido para a indústria
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Léa Cunha, Embrapa Mandioca e Fruticultura
13/12/2018

A indústria baiana de farinha e fécula de mandioca contará a partir de agora com uma nova variedade de mandioca capaz de fornecer muito mais amido. Desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e com a fecularia Bahiamido, a BRS Novo Horizonte é capaz de apresentar até 33% de amido extraível, índice superior ao das variedades usadas no mercado, cujo melhor desempenho alcança até 28%. O resultado é uma produtividade de 8,66 toneladas de amido por hectare, bem superior à obtida por outras variedades. O novo material é destinado às microrregiões baianas de Valença, Jequié e Santo Antônio de Jesus.

“O ponto principal é o acúmulo de amido. A nova variedade consegue entrar com uma renda muito alta na indústria, tanto que a gente obteve 33% na extração. São índices que nem no Paraná [maior região produtora de amido do país] se atinge”, frisa Manoel Oliveira, encarregado de desenvolvimento agronômico da Bahiamido.

A produtividade da nova mandioca também impressionou pesquisadores. Nos testes, foram colhidas 27,5 toneladas de raízes por hectare, em média, enquanto as concorrentes locais oscilaram entre 12,1 e 17,8 t/ha.

Amido fácil de ser retirado
O pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Eder Oliveira explica que o sucesso da BRS Novo Horizonte não se deve somente ao teor de amido, mas também à facilidade de sua extração. “A quantidade superior obtida pela Bahiamido se deve, muito provavelmente, à presença de um amido mais extraível na raiz. Às vezes há até muito amido, mas ele está tão aderido à fibra que a eficiência do processo de extração não é tão elevada. E, aparentemente, a Novo Horizonte tem uma eficiência de extração alta, por isso, o rendimento de amido tem sido bastante interessante. E é isso que a indústria quer: carregar menos água e ter materiais com mais amido o que, de certa forma, influencia muito no custo de produção”, detalha.

Outra vantagem é que a nova mandioca possui casca de cor clara. Isso facilita a extração de amido sem traços escuros, o que aumenta a qualidade do produto para a indústria de alimentos que utiliza o amido nativo, como a indústria de fécula para tapioca. “Para nós, industrialmente, é fantástico”, afirma Manoel Oliveira.

O elevado teor de matéria seca nas raízes, aproximadamente 36,98%, também aumenta a eficiência industrial na extração de amido, utilizado pela Bahiamido na fabricação de fécula, amido modificado, tapioca, farinha, polvilhos doce e azedo.
 
Duas décadas de pesquisa

O lançamento da variedade deve impactar na já elevada produção local de mandioca. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Laje, município que sedia a fecularia, foi o principal produtor baiano de mandioca em 2016, com 3.778 hectares de área colhida e produção de 61.507 toneladas. Somente na Bahiamido, cerca de 650 dos 1.500 hectares estão plantados com quatro variedades da Embrapa: BRS Formosa, BRS Kiriris, BRS Poti Branca e, mais recentemente, a BRS Nova Horizonte.

As pesquisas que levaram ao lançamento da variedade tiveram início em 1998, quando o Programa de Melhoramento Genético da Mandioca era liderado pela pesquisadora Wania Fukuda, hoje aposentada. “Resgatamos alguns clones, começamos a fazer avaliações nas fazendas da Bahiamido e percebemos que esse era um material com potencial competitivo em relação aos materiais locais”, recorda o pesquisador Eder Oliveira.

Depois de 17 ensaios competitivos realizados entre 2011 e 2016, a variedade BRS Novo Horizonte demonstrou características agronômicas superiores em relação às principais doenças da parte aérea (antracnose, mancha parda, mancha branca e queima das folhas) e de raízes (podridão radicular). O porte reto, com algumas ramificações acima de 1,50 m de altura, confere aptidão ao cultivo mecanizado, maior adensamento de plantas e ampla cobertura do solo, de forma a reduzir a ocorrência de plantas daninhas.
 
Parceria
A parceria com a Bahiamido foi importante para a validação das variedades da Embrapa. “A empresa faz a multiplicação em condições de campo, tem áreas bastante expressivas das nossas variedades e a ideia é que, em três ou quatro anos, já tenha substituído totalmente ou quase completamente a área”, prevê Oliveira, da Embrapa.

O cientista conta que a empresa costuma fornecer uma pequena quantidade de material como apoio inicial para os produtores interessados. “Naturalmente, os agricultores querem saber o que uma grande indústria está cultivando e que, possivelmente, pode ser utilizado por eles. O material empregado na indústria de amido certamente se dá bem na indústria de farinha, que também é bem forte na região”, analisa.

Para Manoel, a expectativa em relação à BRS Novo Horizonte, especificamente, é grande. “A nossa aposta é muito alta. Notamos que o futuro e a segurança do negócio estavam em novas variedades. Desenvolver e difundir esses materiais com a Embrapa foi fundamental para promovermos o crescimento do setor. A Bahiamido tem um papel importante de servir de modelo para os pequenos e médios agricultores da região, e estimulá-los a cultivar e fornecer matéria-prima para a própria Bahiamido, movimentando o mercado local, gerando emprego e renda”, explica.

A produtividade de cultivares
A produtividade média de raízes frescas da BRS Novo Horizonte foi de 27,50 toneladas por hectare (variando de 14,18 a 44,27 t./ha), o que significa uma superioridade de 14,18% e 95,36% em comparação com outras variedades da Embrapa e variedades locais, respectivamente. Já a produtividade média de amido foi de 8,96 toneladas por hectare (variação de 4,68 a 15,41 t./ha) sendo, portanto, superior em 22,45% e 117,66% quando comparada com outras variedades da Embrapa e variedades locais.

Nos testes realizados em Laje, a BRS Formosa mostrou-se superior em 37% e 44%, na produtividade de raízes e amido, respectivamente, em comparação com as variedades locais (superior em 61% e 60%, na produtividade de raízes e amido, respectivamente, considerando a média dos ensaios).

Já a produtividade média de raízes frescas conferiu à BRS Kiriris uma superioridade de 19,30% e 103,85% em comparação com outras variedades da Embrapa e variedades locais, respectivamente. A produtividade média de amido foi superior em 17,70% e 110,32%.

Em Cândido Sales, a BRS Poti Branca apresentou o maior número de manivas de 20 cm por planta (16,24), enquanto a Sergipe, a cultivar de mandioca mais plantada na região, produziu 10,51 manivas por planta – esse número de manivas de 20 cm por planta é importante por indicar aquelas que têm maior produção de material de plantio. Quanto à produtividade de raízes, a BRS Poti Branca produziu 19,44 toneladas por hectare, enquanto a testemunha Sergipe produziu 15,02.

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