Nem todo mundo sabe, mas as abelhas mais comuns na apicultura não são nativas do Brasil – são de origem africana e europeia. Nossas abelhas nativas, também conhecidas como meliponíneos ou abelhas indígenas, têm o ferrão atrofiado e podem ser manejadas sem os tradicionais equipamentos de segurança. A criação dessas abelhas – ou meliponicultura – é uma atividade em ascensão em Santa Catarina que permite aliar preservação ambiental e geração de renda nas propriedades rurais.
As abelhas nativas são importantes para a manutenção das matas. Estima-se que 83% das árvores brasileiras dependam da polinização delas. Mas por conta do desmatamento, a população dessas abelhas foi extremamente reduzida. Nos últimos anos, surgiu um movimento de resgate, com criadores buscando multiplicar colônias para restabelecer as populações naturais.
Hoje em dia, famílias rurais do Estado aliam a preservação com a oportunidade de lucrar com os produtos dessa atividade: o mel, a polinização de algumas culturas, a venda de enxames e a fabricação de caixas para colmeias. Enquanto o mel comum custa entre R$12 e R$13 o quilo, o das abelhas sem ferrão é vendido, em média, a R$100 o quilo.
A Epagri, com apoio do Programa SC Rural, desenvolve e dissemina tecnologias de manejo voltadas para a manutenção e a multiplicação de colônias de meliponíneos. Em 2016, a Empresa realizou visitas, oficinas, cursos, excursões, reuniões, palestras e outros eventos na área, alcançando mais de 2 mil pessoas no Estado.
Com incentivo e informação, a meliponicultura cresce em Santa Catarina. Já são 2,4 mil produtores que mantêm entre 10 e 500 colônias em suas propriedades com fins comerciais e preservacionistas. Outros 30 mil têm entre uma e dez colônias, mas com objetivo de preservar e consumir o mel. Como resultado desse movimento, algumas espécies deixaram de ser ameaçadas de extinção e a variabilidade genética dos insetos vem se restabelecendo.
Produção em parceria com a natureza
Em Santa Rosa de Lima, nas Encostas da Serra Geral, Flávio Eller desenvolve uma atividade que faz bem não só para o sustento dele, mas também presta um grande serviço para a natureza. Há cerca de 15 anos ele trabalha com a meliponicultura. São 200 caixas de abelhas nativas de oito espécies distribuídas pela propriedade. “Comecei como um hobby e fui me apaixonando pela atividade. É fácil de lidar; as abelhas ficam ao lado de casa, porque não têm ferrão, e fazem a polinização, o que é bom para a natureza”, diz.
Flávio multiplica enxames e vende as caixas com abelhas a preços entre R$150 e R$200, dependendo da espécie. “Vendo de 100 a 150 enxames por ano, mas a procura é cada vez maior”, conta. Os resultados também aparecem fora do bolso. “Algumas espécies que a gente não via por aqui, como guaraipo e bugia, estamos encontrando na natureza de novo”, revela.
O produtor é um dos 100 membros da Associação dos Meliponicultores das Encostas da Serra Geral (Amesg). Eles atuam de forma cooperada há mais de dez anos, conseguindo um significativo incremento de renda enquanto preservam a mais importante área de proteção de mananciais do Estado. A expansão da atividade em toda essa região é resultado da união da Amesg, da Epagri e da Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel), que fizeram um amplo trabalho de mobilização, conscientização e divulgação de informações sobre a meliponicultura.
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