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J.B. Matiello, S.R. de Almeida e A.W.R. Garcia, Agrônomos da Fundação Procafé
22/07/2016
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Nós, talvez por sermos mais antigos, e, por isso, já termos passado pelo dissabor de verificar os efeitos de diversas geadas no passado, temos recebido muitas consultas, sobre o que fazer com as lavouras de café que foram, recentemente, atingidas por geadas.
Nossa resposta, baseada, exatamente, em experiências e ensaios de recuperação de cafezais atingidos por geadas anteriores, é simples e aqui explicitada. No momento, não se deve fazer nada, pois não se pode conhecer, no curto prazo, a extensão da queima havida nos tecidos dos cafeeiros. Só esperando a reação das plantas, através das suas brotações, é que se poderá determinar, no médio prazo, o que deve ser feito em termos de práticas de podas de recuperação.
Assim, deve-se esperar a retomada do calor e das chuvas pra ver onde brotam as plantas, então poderá ser analisada a situação das lavouras e de cada planta, visando, sempre, atender ao conceito de cortar, ou não, o menos possível, sendo que em muitos casos vai ser preciso quebrar partes secas apenas com as mãos.
A antecipação da poda incorre, ainda, em outro risco. Aquele onde as plantas podadas ficam menos protegidas do frio, pela sua folhagem/ramagem, e, nesse caso, vindo novo frio intenso, o efeito poderia ir até o tronco da planta, com maiores prejuízos.
Apesar de não se conhecer, com boa precisão, a extensão das áreas afetadas pelas últimas geadas, já existem indicações de maior efeito em fundos de lavouras e em ares bem planas, na forma de geada de irradiação típica, na qual o ar frio se deposita nas partes mais baixas do terreno e, ainda, pela mesma razão, maiores danos têm sido observados em lavouras novas, em formação.
Pelo fato de ter diminuído, ao longo dos últimos 20 anos, a frequência de geadas, provavelmente pelo fenômeno do aquecimento global e pelo efeito dos reservatórios de água formados nas zonas cafeeiras, verificou-se que os produtores, até certo ponto, premidos pela falta de áreas nas propriedades, passaram a plantar café em terrenos mais baixos e, por isso, mais sujeitos a geadas. Outras condições e práticas que, certamente favoreceram, em algumas áreas, a ação do frio sobre os cafeeiros, foram as chuvas neste mês e, em certos casos, a irrigação e a manutenção de faixa de braquiária ou outra cobertura morta nas ruas das lavouras. As chuvas e irrigações, diluindo a seiva em sais, tornam os tecidos mais susceptíveis ao frio e a cobertura vegetal do solo diminui o armazenamento de calor por ele durante o dia e diminui, assim, a irradiação desse calor acumulado, durante as noites.
Especificamente no caso de lavouras novas, uma duvida é sobre a conveniência de retomada, mais rápida, da irrigação. Nossa indicação é que a pratica poderia, sim, reativar o crescimento das brotações, no entanto, caso volte a gear, as plantas irrigadas, que ainda não queimaram ficariam mais susceptíveis do que as de sequeiro. Para decidir o que fazer com essas lavouras, especialmente aquelas no 1º ano de campo, mais susceptíveis ao frio, deve-se, igualmente, esperar um pouco. Como pode ser que muitas plantas tenham parte do tronco sem queima, a espera serve pra ver, mais adiante, que percentual de plantas vai ter capacidade de brotar. Se este percentual for significativo, basta replantar eventuais falhas, de plantas mortas. Caso poucas plantas rebrotem, aí sim, valeria a pena fazer novo plantio. Nesse caso, como medida preliminar o cafeicultor deve ir se prevenindo com a produção de mudas, pra replantio/plantio.
Para plantas novas, atingidas por canela de geada, deve-se, primeiro, esperar as brotações, logo abaixo da canela. Quando os brotos estiverem com cerca de 10 cm deve-se efetuar a desbrota, conduzindo um broto por planta e, na medida em que esse broto estiver firme, cortar logo acima, eliminando a haste original, uma vez que a parte superior à lesão vai, aos poucos, amarelecendo até morrer.
Para exemplificar resultados de pesquisa de podas em cafeeiros atingidos por geadas, colocamos em seguida dois quadros de resultados, sobre época de realização da poda e tipo delas.
Quadro 1 - Resultados de produtividade de café em cafeeiros de duas idades atingidos por geadas de capote, em função de tipos de podas - Eloi Mendes e Paraguaçu, MG, 1979.
Quadro 2 - Resultados de produtividade de café em plantas podas por recepa, alta e baixa, em diferentes épocas após geada. Cafezal MN, aos sete anos idade, espaçamento 4x1m, atingido por geada severa. S.A. Amparo, MG, 1981
Estes dois trabalhos, sobre época e tipo de podas, em cafeeiros atingidos por geadas, mostram que os melhores resultados de recuperação em produtividade resultam de podas menos drásticas e na época 60-90 dias pós-geada.
Cafezal indo para o segundo ano de campo com faixa de braquiária na rua, fator de maior risco de frio. Área baixa e plana e plantas jovens são outros fatores para maior efeito de geadas. Neste caso, indica-se esperar pra ver até onde foi a queima pelo frio. Como a copa protege ramagem e o tronco, provavelmente haverá apenas necessidade de desbrotas. Rio Paranaiba, MG. Foto: Diego Rocha, COOPADAP
Na mesma região, queima mais superficial, em folhas e na forma de capote, em cafeeiros com três anos de idade na mesma região do cerrado mineiro. Neste caso, não haverá necessidade de qualquer tipo de poda – Rio Paranaiba, MG. Foto: Diego Rocha, COOPADAP
Geada de capote, em área bem no fundo de lavoura, junto ao vale, no Sul de Minas. Deve-se esperar pra ver até onde queimou, provavelmente não precisará de poda, apenas desbrota e quebra de ponteiros secos, posteriormente
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