O Estado do Pará é o maior produtor de mandioca do Brasil há 24 anos, com uma produtividade média de apenas 15 t/ha, muito baixa considerando o potencial da cultura que pode obter 90 t/ha. No município de Tracuateua, PA, a produtividade média é de 18,4 t/ha e se destacam os agricultores da região dos lagos, no mesmo município, que obtêm produtividade média de 23,9 t/ha, adotando o sistema de parcagem.
Animais confinados para parcagem durante as noites
A técnica da parcagem é utilizada por 30 comunidades envolvendo 360 famílias de agricultores na região dos lagos de Tracuateua há décadas para o cultivo de mandioca, feijão-caupi e fumo, solteiros e/ou consorciados. A parcagem consiste no confinamento noturno de animais, bovinos, por determinado tempo, para que eles façam a adubação das áreas a serem cultivadas com a cultura da mandioca por deposição de suas fezes e urinas.
A Embrapa Amazônia Oriental conduziu um estudo com agricultores de Tracuateua sobre levantamento de custos de produção de mandioca em sistema de parcagem e preparo de solo com tração animal em 2012, que foi o ano em que o preço da farinha teve aumento de mais de 90% no Brasil e foi o produto que mais impactou a cesta básica do brasileiro. No período de março 2012 a março de 2013 a farinha aumentou no Pará de R$ 3,09 para R$ 7,41, um aumento de 139,81% (DIEESE/PA), enquanto a inflação para o mesmo período ficou em 7,22% (INPC/IBGE).
A pesquisa mostra a rentabilidade da produção de farinha e descreve como os agricultores manejam o solo utilizando a parcagem em substituição aos adubos químicos que não se socializaram na Amazônia por limitações, como indisponibilidade dos insumos e preços elevados.
Os indicadores econômicos obtidos (Tabela 1) tornam-se de grande importância para orientar os agricultores na busca de melhor eficiência do sistema, principalmente na redução de custos, agências de crédito para financiamento agrícola, bem como para subsidiar empreendedores na avaliação de oportunidade de investimento no negócio.
A margem líquida foi de R$ 15.718,50 e a relação benefício/custo do sistema foi de 2,69, significando que, para cada R$ 1,00 aplicado no custo total da produção de 1 ha de mandioca e fabricação de farinha, houve um retorno de R$ 2,69. O ponto de equilíbrio também confirma o bom desempenho econômico do sistema, pois, nas condições de mercado, será necessária a produção de 37,13 sacos de farinha ao preço unitário de R$ 250,00, para a receita se igualar aos custos.
Os resultados também podem ser confirmados pelo desempenho da margem de segurança, que nesse caso corresponde a -0,63, condição que revela que, para a receita se igualar à despesa, a quantidade produzida ou preço de venda (R$250,00) do produto pode cair em 63% (R$ 92,82). Isso significa que os produtores poderão diminuir suas vendas em 63% e, mesmo assim, não terão prejuízos na comercialização (Tabela 1).
Está atualmente se repetindo o que aconteceu em 2012/2013. O preço da farinha de mandioca se comporta novamente em alta no estado do Pará. Em abril de 2016 o preço do saco de 60 kg de farinha estava sendo vendido pelo agricultor de R$ 270,00 a R$ 300,00 e a farinha lavada do município de Bragança, acima de R$ 500,00. Em levantamento realizado pelo DIEESE/PA nas principais feiras livres e supermercados da capital e região metropolitana de Belém, constatou-se que o produto foi comercializado, em média, a R$ 5,43 o quilo no início de 2016. Em fevereiro, o valor subiu para R$ 6,58 e em março chegou a R$ 6,89 o quilo. A farinha está deixando de ser um produto de subsistência para ser um produto de luxo.
Para mais detalhes ler o artigo:
Custo de Produção de Mandioca com Parcagem e Tração Animal em Tracuateua, Estado do Pará.
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