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Tecnologia  
Base Tuiuiu inova em modelo de gestão para compartilhar dados de pesquisa
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Ana Maio, Embrapa Pantanal
23/03/2016
 
Base Tuiuiu é o nome de uma base de dados que tende a mudar o conceito de coleta, organização e compartilhamento de dados de pesquisa e pode, a médio e longo prazo, estabelecer avanços significativos em políticas de desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação. A TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) foi desenvolvida em cooperação técnica entre a Embrapa Pantanal (Corumbá-MS) e o IFMS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul). No início de março as duas instituições obtiveram o registro do software no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual).
 
De acordo com o pesquisador Ivan Bergier, da Embrapa Pantanal, idealizador do projeto, a Base Tuiuiu é um modelo de gestão de dados que se propõe a maximizar o compartilhamento de dados de pesquisas gerados pela Embrapa e seus parceiros. "Por meio desse modelo é possível organizar as informações e dados produzidos por projetos cadastrados no sistema interno de gestão da Embrapa", explicou Ivan. Com isso, dados e informações passam a ser institucionalizados e acessíveis, estimulando um ambiente favorável à inovação científica e tecnológica.
 
De acordo com o pesquisador, os dados serão inseridos no sistema de forma contínua (séries temporais) ou pontual (dados discretos), por meio de sensores automáticos em campo ou de amostras coletadas no campo e analisadas em laboratórios. A organização de dados e informações leva em conta seis grandes categorias: ar, solo, água, planta, animal e microbiologia, que podem ser subdivididas com diversos tipos de atributos ou variáveis físicas, químicas ou biológicas.
 
O grande diferencial do sistema são a institucionalização da informação e a possibilidade de abertura de acesso aos dados e conteúdos. A partir do momento em que um ou mais dados são cadastrados, o usuário responsável pelos dados primários dispõe de até três anos para utilizá-los em publicações de resultados de pesquisas. Uma vez traduzidos em informação relevante em textos técnicos ou científicos, os dados tornam-se proprietários do usuário, com acesso restrito. Essa política assegura direito autoral dos dados brutos (primários), bem como dos dados processados e disponibilizados livremente (informação ou dados secundários). Interessados em utilizar os dados primários de uma dada publicação em suas pesquisas poderão solicitar autorização a quem detém o direito autoral através do coordenador do projeto.
 
Depois dos três anos, caso não tenham sido geradas publicações, os dados primários são desbloqueados e compartilhados integralmente entre os membros do projeto de vínculo. Após cinco anos de cadastro do dado primário, pesquisadores da Unidade Centralizada ou Descentralizada da Embrapa onde foi gerado e parceiros externos do projeto passam a ter acesso. Por fim, de acordo com Ivan, dez anos depois de sua inclusão na Base Tuiuiu, o compartilhamento passa a toda a pesquisa da Embrapa e seus parceiros.
 
Ivan explica que essas regras têm a finalidade de estimular o depósito de dados primários de pesquisa como ferramenta de tecnologia da informação e aproveitamento no longo prazo. "Também incentiva a produção de dados secundários, por meio de publicações", afirma. Outro objetivo é maximizar o compartilhamento de dados, tornando-os disponíveis para estimular a inovação científica e tecnológica entre a Embrapa e seus parceiros.
 
Mais informações sobre a Base Tuiuiu podem ser obtidas na Publicação Embrapa.
 
Registro
A proteção intelectual da Base Tuiuiu, concedida no dia 8 de março, motivou uma reunião de agradecimento pela cooperação técnica, realizada na manhã de sexta-feira (18) na Embrapa Pantanal. A chefe-geral Emiko Resende recebeu o reitor do IFMS, Luiz Simão Staszczak, a diretora-geral do instituto em Corumbá, Cláudia Santos Fernandes, o professor Sandro Moura Santos, diretor de ensino, pesquisa e extensão, além da secretária executiva Alexandra Lara de Souza, da assessoria de comunicação.
 
Staszczak e Emiko reconheceram que a parceria foi fundamental para os resultados obtidos. "Hoje em dia as redes de pesquisa são imprescindíveis. Ninguém faz nada sozinho", disse a chefe da Embrapa Pantanal. O reitor, por sua vez, lembrou que um "efeito colateral" dessa parceria foi o desenvolvimento de diversos outras pesquisas envolvendo docentes e alunos do IFMS.
 
"Além dos estudos realizados em Corumbá, o convênio estimulou a ações inter-campi na busca de soluções para esse projeto", lembrou Staszczak. Cláudia Fernandes fez questão de destacar a postura do idealizador do projeto, Ivan Bergier. "Ele é incansável. Como mentor, teve uma participação fundamental. Além do trabalho de pesquisa, estimulou uma aluna que estava com dificuldades e nos auxiliou a compreender o processo de proteção do conhecimento", afirmou a diretora. O reitor concordou: "O aprendizado sobre a propriedade intelectual vai ajudar muito na organização interna do Instituto. A parceria foi muito além da pesquisa", disse Staszczak.
 
Karla Guedes, analista da Embrapa Pantanal que acompanhou parte do processo de proteção intelectual, disse que o registro do software foi possível porque o INPI constatou não haver nenhum programa como esse produzido anteriormente.
 
Origem
A Base Tuiuiu começou a ser pensada em um projeto do Macroprograma 2 da Embrapa, desenvolvido em conjunto com o CNPq/Repensa (Repensa Redes Nacionais de Pesquisa em Agrobiodiversidade e Sustentabilidade Agropecuária), em 2010, no município de São Gabriel do Oeste (MS).
 
A parceria envolveu a Embrapa Pantanal, UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), UFPR (Universidade Federal do Paraná), Unesp (Universidade Estadual Paulista), Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a Cooasgo (Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste), a Prefeitura de São Gabriel e uma empresa de tecnologia, a Maxwell Bohr, originalmente responsável pelo desenvolvimento da base compartilhada de dados. "A empresa teve que abandonar a parceria em 2011, mas felizmente, foi criada uma unidade do IFMS que supriu nossa demanda no projeto", informa Ivan Bergier. "Esse modelo de parceria entre Embrapa e institutos federais de ensino e pesquisa deveria ser mais estimulado e adotado em todo o país", finaliza.
 
IFMS
O professor Roosevelt Fabiano Moraes da Silva, coordenador do curso superior de tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistema do IFMS, foi quem desenvolveu a primeira versão do sistema hoje batizado de Base Tuiuiu. Segundo ele, essa foi a primeira cooperação técnica do Instituto Federal junto a instituições externas.
 
"Foi uma experiência importante para abrir portas. Depois dessa iniciativas, já tivemos mais alunos – de ensino médio e superior – atendendo às necessidades de pesquisadores e funcionários da Embrapa na área de desenvolvimento", afirmou. Foi firmado um convênio de estágios entre os dois parceiros.
 
Roosevelt explica que o curso superior exige 240 horas de estágio obrigatório não remunerado, "o que é bom para os dois lados". No projeto da base de dados, o pesquisador da Embrapa havia disponibilizado bolsas de estudo para os estagiários.
 
O professor comentou que o maior desafio foi compreender a dinâmica de inserção dos dados de campo. Para isso, ele visitou São Gabriel do Oeste com o pesquisador da Embrapa, conheceu detalhes da suinocultura, se reuniu com produtores e pode definir, com mais segurança, qual seria o melhor sistema para a inserção de dados. Segundo Ivan Bergier, Roosevelt foi o responsável pela elaboração de 60% a 70% do sistema, o alicerce da base. O restante foi desenvolvido e aprimorado pelos estudantes.
 
O professor disse ainda que a demanda da Embrapa coincidiu com o projeto pedagógico do curso de tecnólogo. As disciplinas lecionadas foram utilizadas como base para que os estudantes pudessem atuar no projeto. O curso abriu a primeira turma em agosto de 2011 e oferece 40 vagas por semestre. Já foram formadas 10 turmas, totalizando cerca de 400 tecnólogos.
 
Em 2014, segundo Roosevelt, o curso de tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistema do IFMS foi o primeiro colocado no Brasil no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), entre 326 cursos similares. A nota obtida foi 4,99 – a máxima possível era 5,0.
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