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A importância econômica de insetos sugadores da parte aérea do milho
Pesquisas objetivando determinar o efeito do dano do percevejo Dichelops melacanthus sobre o rendimento de grãos de diferentes cultivares de milho Bt têm confirmado o alto potencial que a praga tem para causar prejuízos ao cultivo desse milho no Brasil
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Ivan Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo
01/12/2015

 

Por muitos anos, o principal problema do milho com relação aos insetos fitófagos foi a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), exigindo invariavelmente medidas químicas de controle, muitas vezes utilizadas sem o devido critério técnico, demandando aplicações adicionais de inseticidas. Outras espécies fitófagas, embora presentes, não demandavam controle específico, possivelmente por causa do controle involuntário propiciado pela aplicação de inseticidas contra a lagarta-do-cartucho. O controle de algumas espécies, notadamente sugadores, só era necessário em situações especiais, como em áreas de plantio direto e/ou na segunda safra. A modificação do cenário agrícola, incluindo novas tecnologias e até mesmo mudanças no clima, também pode ser apontada como causa do aumento e/ou da diversidade de espécies atacando os cultivos agrícolas. A própria lagarta-do-cartucho, antes praga-chave quase só da cultura do milho, é hoje igualmente importante em algodão e arroz. Por outro lado, os percevejos da soja atualmente são importantes no milho cultivado na safrinha, após a colheita da soja.

A introdução da tecnologia dos transgênicos, através da liberação comercial e do plantio de milho Bt, pode, sem dúvida, estar contribuindo para a redistribuição de espécies-pragas de importância econômica no milho. O alvo das atuais cultivares de milho Bt no Brasil são as espécies de Lepidoptera, como a lagarta-do-cartucho, S. frugiperda, a lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea e a broca-da-cana, Diatraea saccharalis. Apesar de haver diferenças entre as cultivares em relação ao efeito sobre tais pragas, de maneira geral, a adoção da tecnologia tem funcionado bem e propiciado a redução no uso de inseticidas químicos. A ação das cultivares de milho Bt é imediata, reduzindo a população de lagartas em seus primeiros instares, sendo que muitas vezes não se percebe o dano provocado pela alimentação na folha ou no colmo da planta. Ausência de competidor e plantas sadias e sem resíduos ativos de inseticidas oferecem condições propícias para a ocupação e permanência de outras espécies de insetos-pragas na cultura do milho. É o que acontece, por exemplo, com a Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae), que tem sido uma das espécies a ocupar o nicho da lagarta-do-cartucho, conforme já documentado na Argentina. No Brasil, a presença desta espécie e do tripes Frankliniella williamsi Hood (Thysanoptera: Thripidae) também tem sido maior no milho Bt do que no milho convencional. Outras espécies de insetos sugadores que têm aumentado de importância, tanto no milho convencional como no milho Bt, incluem o percevejo, principalmente Dichelops melacanthus (Dallas) (Hemiptera: Pentatomidae), a cigarrinha-das-pastagens, Deois flavopicta (Stal) (Hemiptera: Cercopidae) e o pulgão, Rhopalosiphum maidis (Fitch) (Hemiptera: Aphididae), que poderão se transformar em pragas-chaves na cultura do milho Bt.

Tem sido postulado que o sistema de semeadura direta e o cultivo de safrinha (segunda safra) são situações que têm propiciado o estabelecimento do percevejo-barriga-verde, D. melacanthus, na fase inicial de desenvolvimento das culturas do milho e do trigo. Além desta espécie, geralmente oriundos do cultivo da soja, podem também ser vistos atacando plântulas de milho: Nezara viridula Linnaeus (Hemiptera: Pentatomidae) (percevejo-verde), D. furcatus (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae) (percevejo-barriga-verde), e, mais recentemente, Euschistus heros (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae) (percevejo-marrom).

De acordo com dados da literatura, o percevejo-barriga-verde D. melacanthus atacando plântulas de milho foi relatado pela primeira vez em 1993, no Estado de Mato Grosso do Sul. Desde então, o seu ataque tem sido documentado em outros estados brasileiros, incluindo Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. O maior impacto de D. melacanthus em áreas cultivadas tem sido atribuído, principalmente, à ampla adoção de rotação de culturas em sistemas de plantio direto, que favorece os percevejos por oferecer alimentação contínua e condições de sobrevivência em períodos adversos do ano (inverno ou estação seca), sob os restos de culturas. Outro fator favorável ao inseto é o cultivo de plantas hospedeiras em sequência, como soja, milho e trigo. O inseto não é considerado uma praga importante de soja e também não coloniza as plantas de milho, apesar de causar severos danos em plântulas neste cultivo.

Resumidamente, o ataque do percevejo geralmente ocorre em plântulas, especificamente na região do coleto. À medida que o milho cresce e as folhas se desenvolvem, a lesão aumenta, formando áreas necrosadas no sentido transversal da folha. Pode-se observar perfurações na planta causadas pela introdução do aparelho bucal do inseto. Como resultado do dano, há o comprometimento do desenvolvimento das plantas, causando o “encharutamento”, com presença de amarelecimento das folhas (Figura 1).

Pesquisas objetivando determinar o efeito do dano do percevejo Dichelops melacanthus sobre o rendimento de grãos de diferentes cultivares de milho Bt têm confirmado o alto potencial que a praga tem para causar prejuízos ao cultivo desse milho no Brasil. Por exemplo, a presença de apenas um indivíduo alimentando-se continuamente por semana numa planta recém-emergida é suficiente para reduzir a produtividade de grãos entre 20% e 33%, dependendo da cultivar. Portanto, a presença do percevejo-barriga-verde em milho deve ser monitorada, especialmente durante a fase inicial de desenvolvimento da cultura, quando a planta é extremamente suscetível ao dano provocado.

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