Por muitos anos prevaleceu a visão de que a competição é uma das forças-chave que mantém o mundo dinâmico e produtivo. Embora considerado "motor do capitalismo" e base dos enormes ganhos de desempenho da indústria, que passou a ofertar para a sociedade produtos e serviços de melhor qualidade e preços mais acessíveis, o modelo fechado de competição se mostra cada vez mais incompatível com o nosso tempo. Tempo em que se avolumam desafios de grande complexidade, que não poderão ser enfrentados senão pela via da cooperação, da combinação de esforços, da sinergia.
Muitos dos problemas de hoje, como as mudanças no clima, os crimes cibernéticos e as migrações em massa, ultrapassam as fronteiras das nações. Ou trazem grandes incertezas, como os altos custos dos processos de inovação tecnológica e as rupturas cada vez mais frequentes nos modos de fazer, distribuir e consumir produtos e serviços, como na nascente economia de baixo carbono, queinaugura um novo ciclo industrial baseado em recursos renováveis. Tudo isso em meio a uma sociedade melhor informada e mais exigente que, mais que simples propaganda e mercadorias, exige transparência e entrega de valor. A transição que vivemos é tão profunda quanto a Revolução Industrial, só que muito mais acelerada.
Teremos que responder a essa realidade com criatividade, ousadia e atenção especial à lógica das redes e das alianças. A indústria farmacêutica, famosa pela competição férrea e custos elevados na criação de novos medicamentos, nos dá um exemplo. Empresas biofarmacêuticas se juntam em federações de descoberta pré-concorrencial para intercâmbio de conhecimentos, informações e recursos. Compartilham desafios iniciais de pesquisa, envolvendo também agências e institutos governamentais, universidades e escolas médicas. Superadas as custosas e arriscadas fases iniciais de desenvolvimento de um produto ou processo, cada parceiro segue o seu próprio caminho até o mercado, agora com maior chance de êxito.
Outro modelo de aliança que ganha espaço - inovação aberta - pressupõe que a empresa que se propõe inovadora deverá se abrir para idéias que venham de fora. Ao compartilhar ativos, competências, estruturas e modelos de negócios, parceiros se complementam e desenvolvem novos produtos com maior rapidez e eficiência. Exemplo recente foi o lançamento do sistema Cultivance para controle de plantas daninhas em lavouras de soja, resultado de modelo de cooperação público-privada inédito no Brasil, entre a Embrapa e a alemã Basf. De forma isolada, as empresas só chegariam a resultado igual em prazos mais longos e a custos maiores.
Na agricultura, é imensa a demanda por novas formas de relacionamento e cooperação. A produção de alimentos é condicionada por temas complexos, como água, energia, meio ambiente e pobreza. Diversos estudos mostram que a agricultura será desafiada por transformações tecnológicas, econômicas, sociais e ambientais cada vez mais profundas. Enfrentá-las exigirá modelo de operação e paradigma científico e tecnológico novos. Demandará investimentos crescentes e muita colaboração entre cientistas dos setores público e privado.
O caso brasileiro é ilustrativo. A agricultura terá que fortalecer sua capacidade de abastecer o mercado interno, a preços reais estáveis, em favor da população de renda mais baixa. A elevação de produtividade deverá se dar com tecnologias de baixo impacto, com redução de riscos e elevação da renda dos produtores. Diversificação, especialização e agregação de valor são necessidades crescentes para que os produtos brasileiros alcancem mercados mais dinâmicos, competitivos e rentáveis. Como pilar forte da economia, precisa ampliar as exportações, gerando divisas e contribuindo para segurança alimentar de uma população mundial crescente. Ao mesmo tempo, se obriga ao uso mais eficiente dos recursos naturais dos biomas brasileiros.
Em resposta a esses desafios, a ministra Kátia Abreu, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, lidera um processo de fortalecimento do sistema de pesquisa e inovação na agropecuária nacional. Este processo deverá culminar, em breve, na criação da "Aliança para a Inovação Agropecuária no Brasil", envolvendo amplo conjunto de organizações públicas e privadas de pesquisa, inovação e ensino. O objetivo é consolidar um modelo de governança capaz de atrair recursos de fontes nacionais e internacionais, e promover articulação, alinhamento e sinergia em torno de uma agenda de contínuo fortalecimento da agropecuária brasileira.
Diz o ditado que "para ir rápido, devemos seguir sós, mas se queremos ir longe devemos seguir juntos". A vida mais complexa que se desdobra à nossa frente exige cooperação e alianças, para que sigamos com mais segurança e menos sobressaltos em direção ao futuro.
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