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     24/11/2024            
 
 
    

O biogás é mais uma forma de energia favorável ao meio ambiente, na medida em que contribui com a diminuição da emissão dos gases causadores do efeito estufa e reduz a contaminação do solo e dos lençóis freáticos. O biogás – seja ele gerado a partir de resíduos sólidos urbanos, efluentes líquidos, resíduos agrícolas ou dejetos de animais – já é conhecido pelos seus benefícios ambientais, econômicos e sociais.

Na geração de eletricidade a partir do biogás, ocorre a conversão da energia química do gás em energia mecânica por meio de um processo controlado de combustão; essa energia mecânica ativa um gerador que produz energia elétrica. No Brasil, o uso desta fonte energética vem ganhando cada vez mais espaço, tanto nas áreas urbanas – a partir do tratamento de esgotos e dos resíduos sólidos em aterros sanitários – quanto no campo com a implantação de biodigestores em cooperativas agroindustriais e propriedades rurais.

Rodrigo Regis de Almeida Galvão, diretor presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis–Biogás (CIBiogás-ER), enfatiza que a produção de biogás nas áreas urbanas e rurais possuem grandes vantagens ambientais e econômicas, porém as os modelos de negócios são distintos.

“Temos duas características distintas, quando se trabalha resíduos sólidos urbanos já está trabalhando com grande quantidade de concentração de biomassa e que tem potencial de produção de grande volume de biogás centralizado; e aí você tem um outro mercado pra ser explorado no Brasil que é bem menor embora haja grande concentração de gás pontuais, mas essa representação quando você pega todo potencial é bem menor do que o mercado do setor agropastoril. Se você tiver uma visão e isso é importante quando a gente pensa em expectativa do uso do biogás e do crescimento desse mercado no Brasil, é o seguinte: 40% do PIB brasileiro vem do agronegócio, 37 % dos empregos gerados no Brasil é no agronegócio e 34% do consumo elétrico no Brasil vem do agronegócio. No entanto, toda a forma de atender os fornecedores que atendem a demanda do agronegócio são fornecedores externos, seja pra energia térmica, elétrica ou veicular. E esta energia externa, esses fornecedores externos garantem a sustentabilidade, a segurança alimentar desse setor. O Brasil nos próximos 10 anos deve se tornar o maior exportador de proteína animal do mundo e para garantir a segurança alimentar e esse desafio de ser o maior exportador temos dois pilares para garantir que estão interligados a isto: que é a segurança ambiental e a segurança energética”.

O diretor ressalta ainda a importância do biogás na cadeia de produção do agronegócio:
“E essa segurança energética, com o uso do biogás eu consigo fazer com que eu diminua a dependência de fornecedores externos para conseguir produzir minha própria energia, dentro do meu próprio processo com os resíduos do meu processo produtivo. Desta forma sim, eu consigo diminuir essa dependência externa e garantir a competitividade do setor reduzindo meus custos e garantindo o fornecimento de energia principalmente em dois pontos: quando é que a gente sente falta da energia? A gente sente falta de energia quando o preço dela sobe – que é o que está acontecendo – se o preço da energia sobe, a gente sabe que todo o sistema de avicultura, desde o pintinho até o abate, 34% dele é energético – se o preço sobe isso impacta na competitividade do setor. Se falta energia, a gente sabe que o frango de corte, a galinha poedeira, o processo de climatização é muito importante, se falta energia e não tem como climatizar, em meia hora as aves começam a morrer. Então, eu preciso garantir sempre energia e quando você está no meio rural em fim de linha, você sempre tem uma qualidade de energia e fornecimento de energia muito precária e toda vez que falta energia frangos morrem e eu tenho um déficit diretamente ligado nesse mercado. Por isso que hoje as cooperativas já tem um preço diferenciado para quem tem geradores na fazenda, na avicultura. Então, a cooperativa paga pelo frango de corte mais do que para quem não tem, se você não tem gerador o preço é um, se você tem gerador o preço é outro, então com a segurança energética eu consigo garantir isso, e hoje os geradores são à diesel e se eu consigo garantir dentro desse mercado o biogás como um produto e um novo negócio e incentivar isso, eu consigo fazer com que haja diminuição na dependência do diesel e consiga garantir a segurança energética para aumentar a receita desses produtores”.

O Centro Internacional de Energias Renováveis–Biogás (CIBiogás-ER) possui 12 unidades de demonstração – 11 nacionais e uma em San Jose (Uruguai) – nas quais realiza o monitoramento técnico medindo a composição do biogás, a eficiência do tratamento, a geração de energia elétrica e análises físico-químicas das biomassas residuais. Segundo Rodrigo Regis, o modelo cooperativado de geração de biogás ajuda a diminuir os entraves econômicos da implantação de um sistema de produção em pequenas propriedades.

“Bem, quando você fala no pequeno produtor e associações, a gente tem um modelo de negócio aqui que é um modelo de produção de biogás cooperativado – cooperativas de agroenergia onde você produz o gás em pequenos biodigestores nas pequenas propriedades que é coletado por uma rede que leva para uma central onde a energia é produzida. Isso é, os cooperados unidos ganham mais forças para vencer essas barreiras que infelizmente o mercado coloca - que são as barreiras da viabilidade econômica e dos custos que são necessários. Então, a gente tem sempre que ver o seguinte: se eu trabalho cooperativado para a produção de biogás e consigo ter uma produção de biogás X na qual eu consigo ter uma receita que supera em determinado tempo meu investimento e minha operação, eu tenho um projeto viável. Essa viabilidade hoje é possível, nós temos vários modelos e vários trabalhos que estamos desenvolvendo no qual a gente mostra que isso é possível, que isso é viável. As barreiras tecnológicas de convencimento que a gente tem com as companhias de gás é uma coisa; e as barreiras de negócio que a gente tem que garantir do ponto de vista financeiro e mostrar para os investidores sejam produtores, sejam cooperativas, sejam fundos de investimento é mostrar pra eles que a gente tem condições, que cada projeto desse tem sua viabilidade e que hoje com as tecnologias que a gente tem de monitoramento remoto; do ponto de vista da tecnologia a gente já consegue operar usinas e micro usinas, termelétricas e pch's com quase ninguém operando, isso tudo automatizado. Se a gente conseguir levar esse nível de automação para geração distribuída é possível ter 10 unidades de microgeração que me geram, quando eu somo isso, uma quantidade razoável de energia, as quais eu tenho infinidades de modelos de negócio. Eu tenho um modelo de negócio através da [resolução normativa da Aneel] 482, através da própria comercialização de energia e aí só dentro da 482 a gente se prende muito a compensar na própria propriedade e a gente não pensa que podemos criar consórcios naquelas propriedades com CNPJ's distintos que fazem parte daquele consórcio produzindo no campo e compensando na cidade essa energia. A partir do momento que a gente consiga enxergar isso, conseguiremos ver que a compensação é um bom negócio, mas a gente tem que estabelecer esses modelos, ver os aspectos legais e colocar em prática, acho que esse é o grande desafio, esses são próximos passos que temos que dar no ponto de vista do biogás e os próximos passos que o CIBiogás tem que fazer acontecer”.

Outros conteúdos sobre Água, Energia e Sustentabilidade, acesse: www.webradioagua.org.

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