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José Heitor Vasconcellos, Embrapa Milho e Sorgo e Lebna Landgraf, Embrapa Soja
17/03/2016
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As plantas que persistem no campo competindo com a cultura sucessora são chamadas tigueras e estão mais resistentes devido à modificação genética. O milho que brota espontaneamente na lavoura de soja, em cultivo sucessivo, pode se tornar um problema para os produtores rurais.Os agricultores que adotam o sistema de produção que tem a soja seguida do milho safrinha, ambos geneticamente modificados para resistir ao herbicida glifosato, terão um novo desafio: controlar a presença do milho durante a cultura da soja. Pesquisadores recomendam investir em manejo.
O problema ocorre pela impossibilidade de eliminar o milho com o glifosato. No caso da soja, mais de 90% dos 31 milhões de hectares cultivados no Brasil utilizam sementes de plantas geneticamente modificadas para a resistência ao herbicida glifosato. Com o milho safrinha também resistente, ele pode virar uma planta competidora com a soja e de difícil combate. "Aqueles grãos de milho modificado que sobrarem da colheita poderão germinar e se comportar como uma planta daninha para a cultura da soja", alerta o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja.
De acordo com Adegas, o poder de competição do milho é bastante elevado e pode causar redução de produtividade na soja. "Se houver duas ou três plantas por metro quadrado, o milho pode reduzir em até 50% a produtividade da soja", confirma o pesquisador.
No Brasil, muitas regiões produtoras de grãos adotam o sistema de produção que engloba a soja, o milho e o algodão. "Com o aumento na utilização de cultivares resistentes a glifosato [comercialmente conhecidas como RR], o problema de manejo das plantas voluntárias tende a ser cada vez mais complexo no Brasil", pensa Adegas. Nos Estados Unidos, por exemplo, como há neve no inverno, a tecnologia não apresenta, de forma agravada, esse problema, assim como na Argentina, onde não há tradição de cultivo subsequente. "Por isso, precisamos desenvolver mais conhecimento para as nossas condições, visando ter respostas adequadas para os produtores brasileiros", pondera.
As tigueras
O milho é apenas um exemplo. Como no Brasil os plantios são sucessivos, isto é, depois da soja, planta-se o milho, o algodão ou o trigo, os grãos que caem durante a colheita de uma cultura podem germinar durante o ciclo da cultura seguinte.
São as chamadas plantas tigueras, ou seja, o aparecimento voluntário de plantas da cultura antecessora, como a soja, por exemplo, na cultura subsequente, como o milho e vice-versa. Se essas duas culturas tiverem o gene RR, o manejo torna-se mais oneroso e complicado.
Para o pesquisador Décio Karam, da Embrapa Milho e Sorgo (MG), "as perdas na colheita, o transporte dos grãos, o manejo inadequado do herbicida durante a semeadura e o cultivo repetido de culturas RR são alguns fatores que podem causar o aparecimento de plantas tigueras".
Karam alerta para um agravante. "Além de competir com a cultura sucessora, as plantas tigueras podem também servir de hospedeiras para insetos-praga e para microrganismos causadores de doenças no período de entressafra", frisa.
Manejo das plantas tigueras de milho
O primeiro passo para se diminuir os problemas com as plantas tigueras é a realização de uma colheita eficiente, com o menor percentual possível de perdas de grãos. No entanto, quando ocorrer o problema, a indicação do pesquisador Fernando Adegas é a de que os produtores controlem o milho com um herbicida que tenha um mecanismo de ação diferente do glifosato. "O ideal é fazer o controle antes da semeadura ou logo após a emergência da soja, quando as plantas do milho estão pequenas", explica.
Segundo Adegas, os graminicidas são uma alternativa para o controle de milho RR em lavouras de soja. No entanto, o pesquisador alerta que essa operação pode ter um custo mais elevado do que o controle de todo o complexo de plantas daninhas da soja, que normalmente utiliza o glifosato. "Outra opção de manejo é a utilização do método mecânico, ou seja, capinar as plantas de milho, quando estiverem pequenas", explica.
Karam acrescenta que o milho tiguera é muito mais fácil de controlar quando se encontra em estádios de crescimentos menores (V2–V3, duas e três folhas verdadeiras expandidas) do que quando em V5-V6 (cinco e seis folhas verdadeiras expandidas).
"Já as tigueras de soja, na cultura do milho, são mais fáceis de manejar, pois o herbicida atrazine, que é utilizado em mais de 75% dos cultivos de milho, apresenta boa eficácia de controle desta tiguera," explica o pesquisador.
Ele alerta ainda que dificuldades maiores poderão surgir à medida que forem incorporadas tolerâncias a outros herbicidas nas novas cultivares. Resta aos produtores ficar atentos às escolhas das cultivares e efetuar o manejo adequado da lavoura para evitar os prejuízos na produtividade e nos custos de produção.
Reportagem originalmente publicada em 15/4/2015
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