O Treino prático, além de melhorar o desempenho, pode fornecer ao produtor rural a condição que ele precisa para participar, de maneira mais eficaz, na consolidação da sua pequena ou média produção. O objetivo específico do treinamento é capacitar os produtores rurais para responderem aos desafios – seja na esfera pessoal (ligado ao ego) ou profissional (ligada à tarefa) – que o espaço rural do mundo moderno coloca diante de todas as pessoas ligadas à vida campesina.
A área rural também tem uma importante missão do ponto de vista empresarial. Vamos esclarecer esse ponto: missão significa aquilo que toda e qualquer empresa – seja rural ou não – se propõe a fazer para garantir a sua sobrevivência. A missão precisa ser estabelecida em conformidade com os produtos e serviços que a organização coloca à disposição de seu público alvo (clientela). Vejamos um exemplo: A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – tem a missão de visualizar soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural com foco no agronegócio, por meio de geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício dos diversos segmentos da sociedade brasileira. Ufa! Que missão grande! Se você assim pensou, pensou certo. É assim mesmo! Toda organização precisa, ao pensar e escrever sua missão, contemplar tudo que seja de vital importância à sua sobrevivência.
Uma vez estabelecida a missão, a organização precisa preparar aquilo que ela possui de maior valor: o seu capital humano – as pessoas. Nesse aspecto temos verificado, constantemente, que as ações empreendidas pelas empresas rurais para melhorar o desempenho dos empregados estão estruturadas de forma a fazer com que o empregado desempenhe, de forma cada vez melhor, as tarefas que fazem parte integrante de suas lida diária. O foco, nesse caso, está voltado somente para a execução das tarefas.
Você, que é empregado rural ou foi contratado recentemente por uma empresa rural, que tenha um grau mínimo de organização, participará de alguns treinamentos. Os programas de treinamento podem ser divididos em 2 (dois) grupos: O primeiro é denominado de Treinamento de Integração: que visa dar ao homem do campo, geralmente àquele que acaba de ser contratado, uma visão geral da organização rural em termos de sua missão, metas e planos de trabalho, bem como de sua estrutura organizacional – sua rede de comando. Já o segundo recebe o nome de Treinamento de Formação: que tem como foco a preparação do homem do campo, para que ele execute, de forma mais eficaz, as tarefas diárias que estão sobre sua responsabilidade.
Existem, ainda, os Programas de Desenvolvimento, que são específicos para a identificação de talentos e potencialidades; eles visam, na maioria dos casos, o aproveitamento do empregado rural em cargos que exigem maior complexidade e responsabilidade do que aquele que ele ocupa.
Agora que temos uma noção geral de como as empresas rurais podem preparar e desenvolver seus empregados, vamos lançar um olhar crítico nessa questão.
Temos verificado que as ações que a área rural vem implementando, com vista à melhoria de desempenho dos seus empregados, não estão estruturadas de forma a fazer com que os trabalhadores desempenhem, de forma cada vez melhor, as tarefas que fazem parte integrante de suas atribuições; ficando, assim, o foco das ações de treinamento voltado exclusivamente à execução simples e correta das tarefas. Precisamos analisar alguns aspectos dessa questão: em primeiro lugar, de pouco adianta desenvolver a eficácia de uma tarefa se esta não estiver, aos olhos do empregado, ligada aos objetivos da empresa rural. Precisamos procurar respostas às perguntas: Por que há necessidade de execução de tais tarefas? O que acontecerá se não as executarmos? Que relação elas guardam com o desenvolvimento do agronegócio? As respostas a estas perguntas não podem surgir de programas de treinamento que visem desenvolver a tarefa de forma isolada.
O treinamento precisa de um verniz de modernidade; acreditamos, portanto, que essas indagações só possam ser respondidas com o trabalho de sensibilização de todos os empregados que fazem parte do corpo funcional de cada empresa rural e com a implantação do hábito de estabelecer a discussão dos problemas do campo em todos os seus escalões – do dono do negócio ao empregado rural. Enquanto o treinamento procurar, sozinho, resolver os problemas de execução de tarefas, cada vez mais afastar-se-á da qualidade na execução das mesmas, uma vez que o mais importante na relação execução & tarefa é o homem do campo na sua essência de cidadão – aquele que irá, segundo seus princípios, anseios, desejos, valores e postura ética, dar personalidade às tarefas. Cada indivíduo empresta à tarefa um pouco de suas características pessoais – personalidade. É por isso é que as pessoas fazem as mesmas coisas com padrões de qualidade diferentes.
Quando falamos que o treinamento não deve estar sozinho, queremos dizer com isso que essa área – extremamente importante do ponto de vista do desenvolvimento rural sustentável – deve repensar suas ações, seus compromissos com o agronegócio, seu grau de participação nas decisões estratégicas da empresa rural e sua atualização em consonância com as tendências que o cenário rural moderno está impondo às empresas rurais e seus gestores.
Pouco adianta prepararmos, de maneira eficiente, os funcionários para o desempenho de suas tarefas. Esse trabalho não tem contribuído em nada para o incremento de uma relação mais eficaz com os clientes no âmbito rural. De um lado porque não sabemos como o cliente rural avalia o nosso trabalho e por outro devido a grande incerteza que todo programa de treinamento traz: o que se consegue, de fato, com programas operacionais (ensino de tarefas) de treinamento?
Treinamento não muda, nunca mudou, e dificilmente mudará a conduta rural. O que quase todo especialistas/técnico de treinamento pensa estar mudando na verdade não é a conduta, mas sim a habilidade de perceber os pontos chaves de determinadas tarefas – competências. Para que se instale no homem campesino uma mudança de conduta é necessário que ele esteja disposto a mudar, que perceba que a mudança é gratificante para ele e para o seu trabalho rural e – o mais importante – que participe da elaboração e discussão das ações que visam mudar, a médio e longo prazo, sua conduta. Nenhuma atividade de treinamento pode mudar condutas em curto prazo. O mais adequado seria falarmos de programas de sensibilização à mudança de conduta.
Finalizando, o que seria mudar a conduta rural? Mudar conduta é propiciar situações em que o ato criativo possa fazer parte integrante das ações do indivíduo no seu dia-a-dia de trabalho no campo. Trabalhar eficazmente (com qualidade) é descobrir, a cada momento, o que fazer para tornar o nosso trabalho mais criativo, ou seja, mais ajustado às necessidades, anseios, desejos e expectativas de nossas empresas rurais e de nossos clientes – rurais e urbanos.
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