Ao longo do tempo todas as áreas florestais do planeta sofreram alterações pela interação com o homem, além daquelas naturais. A história é um trabalho de Pesquisa & Desenvolvimento, originária da investigação de eventos e processos ocorridos anteriormente. De onde viemos, onde estamos e para onde vamos – este é o campo de domínio da história. Do grego antigo στορία, a técnica envolve pesquisa ou investigação voltada para conhecer o comportamento do homem e sua aventura no tempo e espaço. Existem correntes do pensamento na ciência histórica, com destaque para a Providencialista (de Deus), Idealista (ideia gera realidade), Materialista (Econômica) e Psicológica-Social (Sociedade). A pré-história trata de averiguar o passado com base em evidências de vários tipos (tradição, contos, registros físicos etc.), quando ausentes textos comprobatórios, mas presentes elementos que possibilitam a sua compreensão geral. A proto-história, ou história, trata dos documentos e registros, oficiais e extraoficiais. Hoje a história é dividida entre idades: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. As florestas têm acompanhado a história humana desde antes do seu acontecimento, e apresentado diferentes papéis ao longo da evolução da comunidade global.
A pré-história inclui o surgimento da primeira árvore há 245 milhões de anos, glaciações e desmatamentos naturais, assim como o processo de integração entre o homem e a floresta, com a prática de coleta e caça e o domínio do fogo, há meio milhão de anos. O sistema silvicultural de coleta seletiva e regeneração natural está ajustado a uma sociedade que concebia os recursos florestais como infinitos, retirando aquilo que necessita sem preocupação com o ritmo da reposição. A coleta seletiva e regeneração natural são utilizadas quando existia o que hoje é uma visão romântica da sociedade global, apropriada para uma situação de algo como 27 mil árvores disponíveis para cada cidadão.
A pré-história das florestas ocorreu na África, na Ásia, na Europa, na Oceania e nas Américas de formas bastante similares, relacionadas com a evolução climática do planeta. O estudo deste comportamento das florestas nos diferentes continentes, relacionado diretamente com a evolução e mudanças climáticas históricas, determina o principal mecanismo da co-evolução entre as florestas e a sociedade, tendo como principal motor os fenômenos naturais envolvidos. As florestas também têm relação com a espiritualidade, com a alma, dos seres humanos influenciando a forma mítica como as pessoas ainda consideram, nos dias de hoje, algumas áreas florestais. A obra o “Senhor dos Anéis”, com suas árvores que caminham e falam, retrata as florestas de uma forma semelhante à como são vistas a magia praticada na Floresta Negra da Alemanha, as criaturas abomináveis que caminham no Alaska e Sibéria, os dinossauros escondidos nas Selvas Africanas e os eldorados perdidos da Amazônia Brasileira. Heródoto e Tucídides foram dois gregos que começaram a questionar o mito, a lenda e a ficção do fato histórico, narrando as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso respectivamente.
Deixa-se a pré-história e entra-se na história pela Idade Antiga, ou Antiguidade, que vai da invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Na América, pode-se considerar como Idade Antiga a época dos astecas, maias e incas. Na China a Idade Antiga termina por volta de 200 a.C., com o surgimento da Dinastia Chin, enquanto que no Japão é apenas a partir do fim do período Heian, em 1185 d. C. Na Índia, uma civilização de mais de 5 mil anos, estão os registros mais antigos da ciência florestal, que incluem prescrições sobre reflorestamento e o cultivo de árvores nas margens de corpos d’água descritos nos Vedas. Nas religiões estão registros de eventos florestais, como a Oliveira de Jesus Cristo, a Figueira do Buda e as Tamareiras do Alcorão. Neste tempo os homens exploravam as florestas utilizando machados de pedra e depois serrotes de metal, com a substituição de áreas para uso agropecuário e residencial avançando no mesmo ritmo do crescimento populacional, ainda bastante pequenos para ter impactos significativos na modificação dos cenários rurais, aonde vivia praticamente toda a população mundial. Durante todo o período as florestas sempre foram vistas como infinitas, por isso o corte seletivo e regeneração natural era a prática usual de manejo das áreas florestais, ajustado para a disponibilidade de cerca de 27 mil árvores por habitante. Na Amazônia brasileira há fortes evidências de extenso desmatamento para uso agropecuário e residencial, que ainda estava presente no início da colonização europeia.
A Idade Média vai da queda do Império Romano até a queda de Constantinopla – Império Romano do Oriente, em 1453 (ou outro evento importante em data próxima – conquista de Ceuta, chegada à América). Na Idade Média ou Idade das Trevas, as florestas representavam perigo. Os bosques incluíam-se nas áreas denominadas como incultos, por não haver atividade humana no trabalho da terra, sendo espaço de caça e de extração vegetal e mineral. O homem rural trabalhava as florestas como infinitas, sem qualquer preocupação com seu cultivo efetivo. Durante a Alta Idade Média, entre os séculos V e XI, a madeira A madeira foi a matéria-prima mais utilizada pela sociedade em todos os setores e exerceu uma importante função na produção material da vida dos homens medievais. O manejo florestal era executado com base no corte seletivo e regeneração natural, e levava a exaustão e baixa quantidade dos estoques florestais, ao mesmo tempo em que avançava o crescimento populacional e substituição de áreas para agropecuária, residencial, comercial e outros usos não florestais da terra. As guerras do período contribuíam para dizimar grandes áreas florestais. Nesta época o número de árvores por habitante decresce para 25 mil e tem início o uso de substituição da madeira por outros materiais.
A Idade Moderna surge depois do fim do Império Romano do Oriente e segue até o fim da Revolução Francesa, em 1789. A madeira continua sendo a principal matéria-prima para todos os setores da economia. Até o início do século a exploração das florestas europeias pelo sistema de corte seletivo com regeneração natural resultou em um estoque médio de 100 m³/ha e uma produtividade de 1 m³/ha/ano na região. As grandes navegações ocorreram neste período e com elas a ocupação e substituição de usos da terra florestal por agropecuária, residencial e comercial chegou aos litorais dos países tropicais. Na América do Norte ocorreu a conquista do território, e as florestas nativas foram dando lugar a cultivos de todos os tipos. No Brasil fomos de colônia para Império, com as florestas sob o domínio da coroa e as explorações em direção ao centro do continente ajudando a definir os limites territoriais do país. A exploração do Pau-brasil nas costas brasileiras quase levou a espécie à extinção. Em 1713 nasceu a primeira escola de florestas do mundo, na Alemanha, que iniciou o período de mudanças nos sistemas silviculturais, focados na seleção de indivíduos, coleta de sementes, produção de mudas, melhoramento genético de usos de interesse, plantios planejados com fertilização e irrigação, com produtividade e estoques aumentados no final da intervenção. Nesta época o número de árvores por habitante decresceu para menos de 4 mil. O homem continua rural, mas o crescimento populacional fez surgir a preocupação com o cultivo efetivo das florestas para produção de madeira e outros produtos florestais para fornecer uma crescente população urbana.
A Idade Contemporânea é o período que se inicia a partir da Revolução Francesa, e coincide com a chegada da era industrial no globo. A explosão demográfica foi acompanhada pelo aumento exponencial do ritmo de substituição dos usos da terra florestal em todo o mundo. Novas áreas de cultivo e criação de animais domésticos, novas áreas residenciais, comerciais, industriais e para a deposição de resíduos foram sendo incorporadas e a urbanização planetária tornou-se uma realidade. Hoje mais de 50% da população mundial vive nas cidades; no Brasil este número está próximo dos 90%. A silvicultura contemporânea alcança níveis de produtividade nunca antes vistos e os produtos florestais tem uma diversidade fantástica, presentes em todos os setores. O mercado de produtos florestais tem favorecido o crescimento de áreas com plantações florestais de alta performance e o desenvolvimento de uma indústria de alto nível tecnológico. O homem urbano pensa a floresta como um ativo financeiro e busca a maior rentabilidade possível do investimento, o homem rural não tem mais o poder de decisão, que está centralizado nas cidades. Na Amazônia Brasileira a prática silvicultural do corte seletivo e regeneração natural persiste, mesmo tendo sido abandonada pelo mundo ainda na idade moderna. Hoje, no mundo, há cerca de 370 árvores/habitante, o que demonstra a necessidade de fazer com que cada uma delas tenha uso e valor para a sociedade.
O estudo histórico facilita identificar a influência social - e sua magnitude, e a influencia natural, e sua capacidade de alterar em conjunto as características gerais das florestas. A história florestal está dividida em duas partes principais: A história da ciência florestal e a história das florestas. No primeiro caso, estuda-se o relacionamento entre a sociedade e as florestas, e os desenvolvimentos tecnológicos ocorrendo ao longo do tempo. No segundo caso estuda-se o relacionamento das florestas com o planeta, notadamente o clima e suas modificações.
No campo da Ciência Florestal, os países desenvolvidos destacam o papel do consumo da madeira como fundamental para a sustentabilidade das florestas. O padrão de desenvolvimento sócio-economico-ambiental dos Países Desenvolvidos – PD está alicerçado na hegemonia do bilionário mercado global de produtos florestais madeireiros, com um elevado consumo e produtividade, uma indústria de alta tecnologia e legislação que incentiva e fomenta o emprego da madeira como fundamental para reduzir os impactos ambientais da atividade humana. A integração das dimensões ambientais, sociais e econômicas da atividade florestal em torno do consumo e produção de madeira industrial é resultado de uma silvicultura de alta precisão e adaptada às demandas de uma sociedade que cresce. Perto de 100% da produtividade anual é utilizada, e a contribuição social e econômica da atividade florestal é notória.
Nos Países em Desenvolvimento – PED há uma contradição aparente entre o elevado nível de desenvolvimento silvicultural e tecnológico de um aparato industrial contemporâneo que convive com áreas de florestas naturais. Sob o uso de tratamento silvicultural de corte seletivo e regeneração natural, o resultado é que a contribuição econômica da atividade florestal nativa é irrisória, com alta exclusão social associada aos elevados custos de transação e regulamentação. A indústria florestal nativa competitiva é sustentável com emprego de silvicultura avançada. O consumo elevado de madeira tropical vai impulsionar a adoção de tratamentos silviculturais de alta produtividade, que podem fazer com que as madeiras de espécies nativas voltem a demonstrar vigor na sociedade.
O futuro reserva um eldorado para o setor florestal nativo dos países em desenvolvimento. Com potencial latente, as florestas naturais e a ciência florestal nestas regiões devem avançar consideravelmente nos próximos anos. Assim como melhora a condição econômica e social, o poder transformador do trabalho do homem também realiza impactos positivos no ambiente. Este poder transformador deve ganhar força como propulsor de uma nova realidade para as florestas naturais e a ciência florestal nos países em desenvolvimento, capaz de fazer frente aos desafios apresentados para a conquista de seus territórios e de um maior equilíbrio planetário. O aumento do uso das florestas nos países em desenvolvimento vai de encontro ao objetivo de conservar sua biodiversidade, na medida em que a demanda por produtos florestais nativos for incentivada. É este aumento do consumo vai gerar melhores condições para a gestão das florestas, impulsionando a atualização das florestas naturais dos países em desenvolvimento para as condições do clima e sociedade contemporâneos.
A valorização das áreas de florestas nativas pelo seu papel no combate às mudanças climáticas globais, biodiversidade e serviços ecossistêmicos é uma realidade que começa a ser regulamentada em todo o planeta. A tecnologia silvicultural que permite otimizar a produtividade dos sítios florestais pode receber aportes financeiros do fornecimento de serviços ecossistêmicos que incluem o sequestro e estoque de carbono, a produção e qualidade de água, a biodiversidade, os polinizadores, os habitat, a beleza cênica, a cultura e uma série de serviços distribuídos em grupos classificados como de: suprimento, suporte, regulatório e cultural. A alta produtividade é uma importante função do ecossistema florestal, que pode estar aliada a uma série de outros serviços ecossistêmicos dentro de uma estratégia regional (Infraestrutura Verde).
Na economia tradicional o uso dos fatores de produção (conhecimento, capital, recursos naturais e humanos) da maneira ótima resultava no maior ganho possível. Na Economia Verde a sustentabilidade do desenvolvimento integrado dos fatores ambientais, sociais e econômicos sinaliza a melhor oportunidade de investimento. As florestas funcionam como máquinas de mitigação dos Gases de Efeito Estufa – GEE e como pilares para adaptação às mudanças climáticas globais. A Economia Verde traz condições de competitividade que favorecem o cultivo e uso de produtos florestais, com vantagens comparativas significativas para a diversidade de essências, sabores, cores e qualidades das madeiras das florestas dos países em desenvolvimento, como as tropicais brasileiras.
A integração entre o consumo e o cultivo de espécies florestais nativas vai depender de técnicas silviculturais adequadas para a sociedade contemporânea. O que se observa é uma reação biológica das florestas aos tratamentos silviculturais, que determinam aumento da produtividade a curto e longo termo. A substituição da regeneração natural pela plantação de florestas aumenta a produtividade. Somados, os efeitos da prática silvicultural moderna elevam o volume da colheita. A utilização intensiva e extensiva das florestas, através de manejo florestal sustentável com base científica, aumenta o volume médio de espécies comerciais estocadas por unidade de área, e também aumenta os incrementos anuais. No mundo, cerca de ¾ das plantações florestais são com espécies nativas dos países. Países com importantes reservas florestais naturais, como o Canadá e a Rússia, coordenam ações em microrregiões de ocorrência de espécies, as Zonas Ecológicas de Ocorrência, ou Ecoregiões. Na América do Norte a proporção de espécies introduzidas é de menos de 5%, enquanto na América do Sul menos de 5% são de espécies locais. Somente na Oceania vamos ter uma proporção de pouco mais de 20% de espécies nativas plantadas, na África (60%), na Ásia (70%) e na Europa (90%). O cultivo das espécies florestais nativas está diretamente relacionado com o seu consumo, e uma estrutura logística e comercial para colocar as diferentes madeiras tropicais nos mercados precisa estar disponível. Enfrentando uma competição altamente qualificada das plantações florestais de espécies introduzidas, da agropecuária e da urbanização, o manejo de florestas de espécies nativas precisa ter condições ótimas de mercado para seus produtos. O Armazém Florestal é uma proposta de estabelecimento de uma rede de suporte ao desenvolvimento do cultivo e comércio de espécies madeireiras nativas, um mecanismo para integrar o cultivo de espécies florestais nativas à realidade da sociedade contemporânea, fortalecendo o mercado especializado em madeiras tropicais de alta qualidade.
A história mostra que o sucesso da presença das áreas com floresta na sociedade está relacionado com o consumo da madeira. Recentemente o valor da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados ao papel renovador da qualidade ambiental das florestas tem ganhado destaque, e pode ser incorporado como forma de adaptar a gestão florestal a contemporaneidade. A cadeira de História Florestal fornece subsídios técnicos para o profissional florestal analisar a administração florestal e sua modificação ao longo do tempo, demonstrando como esta adaptação foi percebida, entendida e trabalhada pela história. E hoje o fenômeno do aumento da composição de carbono atmosférico está trazendo um novo elemento de modificação para a ciência florestal incorporar nos debates. Se de um lado é necessário entender como as modificações no clima causaram impactos nas florestas no passado, do outro é preciso compreender as soluções que os manejadores, ou gestores, florestais desenvolveram e aplicaram naquelas situações. O relacionamento entre o homem, e a sociedade com as florestas sempre existiu, e o nível de dependência parece mais significativo no passado.
No Brasil o nome do país está relacionado com uma espécie florestal, retratando um pouco da nossa história, enquanto a prática da intervenção estatal marca a prática legislativa. A pré-história das nossas florestas inicia-se com o Pangea, a formação do Escudo das Guianas, o vulcanismo das férteis “terras roxas” e os refúgios de biodiversidade das glaciações e inter-glaciações, até o surgimento do homem há 60 mil anos atrás. A Amazônia brasileira tem sinais de uma intensa atividade agrícola há 12 mil anos. Estudos já demonstraram que as áreas com maior cultivo de biodiversidade na Amazônia são aquelas associadas à presença humana, indicando o papel fundamental do cultivo de espécies florestais nativas, voltadas para atender as demandas de consumo de madeira da sociedade contemporânea como um meio importante para a conservação da biodiversidade de espécies florestais nativas. Plantas de MDF, OSB e outros painéis, pallets, briquets e outros produtos florestais madeireiros podem ser produzidos a partir de outra grande variedade de essências florestais tropicais nativas. É o cultivo consciente e científico de espécies florestais nativas para a produção e consumo de madeira industrial que vai fazer a diferença na conservação da biodiversidade tropical para um mundo de 12 bilhões de habitantes, esperado para o século XXII. Com a quantidade de árvores de hoje isto representaria 215 árvores/habitante, que precisam ser úteis para garantir sua sobrevivência. Cada árvore conta.
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