A crise no nível de água nos reservatórios, neste começo de ano – e suas consequências tanto para abastecimento humano como para geração de energia -, torna necessário que se pense e discuta o tema, tanto no âmbito do clima quanto no da matriz energética nacional.

No âmbito do clima, não há como fugir ao que está nos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, de que a temperatura no planeta tem subido e mais subirá, com a elevação do nível de poluentes na atmosfera. Dependendo do que se faça, esse aumento da temperatura será de alguns graus neste século. Todas as regiões serão afetadas, embora não se tenha ainda precisão sobre a época e a intensidade.

O Brasil não está fora disso e sofrerá em todas as regiões. Problemas como o da recente estiagem provavelmente se repetirão. E é preciso saber com que estratégias serão enfrentados daqui para frente. Que se pensa? Ampliar a capacidade de armazenamento? Como? E onde? Haverá conflitos entre regiões? Como avançarão nossas políticas e programas para o clima?

Com a estiagem deste começo de ano, a discussão se focalizou nos altos volumes de água vindos dos Andes. Só que esse derretimento dos gelos andinos é um fator que já se conhece há muitos anos – e que precisa ser levado em consideração nos estudos de impacto ambiental das usinas – mas não foi, até aqui. Nesta crise, a Justiça de Rondônia chegou a proibir a elevação do nível da água em uma usina.

O segundo ângulo que exige discussões e decisões rápidas é o da matriz energética. E aí se impõe logo a visão de que é preciso trabalhar por mudanças substanciais. A começar pela necessidade de descentralizar a produção de energia e torná-la menos vulnerável.

A partir daí, uma das conclusões lógicas é de que será muito conveniente expandir a microgeração distribuída de energia. Além de eliminar a vulnerabilidade a fatores como o clima, a microgeração é peça fundamental para o desenvolvimento localizado – como já se comentou em newsletter anterior, a propósito dos projetos de geração de energia a partir do biogás resultante de dejetos de animais, em franca evolução no Paraná. Libertam o proprietário rural da conta de energia e ainda lhe permitem vender o excedente. Dispensam implantar linhas de transmissão de energia extensas e caras, nas quais as perdas são muito fortes. O mesmo raciocínio pode ser válido em parte para a implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCH´s), que também evitam muitos inconvenientes.

Esses raciocínios todos convergem também para a transição em curso no mundo, para reduzir o uso de combustíveis fósseis na geração de energia, em vários formatos – dada a influência desse caminho nas mudanças climáticas. E que aconselha caminhar em direção a energias não poluentes, como a eólica, a solar, a das biomassas. Sem falar em que reduzir ou eliminar a importação de combustíveis fósseis terá um efeito muito saudável na balança comercial brasileira.

Tudo isso precisa, cada vez mais, ocupar o centro do pensamento, quando se discutir a questão da energia.