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Rodrigo Souza Santos
07/12/2013
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A alimentação está intimamente relacionada com a saúde das pessoas. A falta ou excesso de nutrientes pode causar disfunções orgânicas, portanto, devemos privilegiar a qualidade em detrimento da quantidade de alimento consumido diariamente. Uma alimentação saudável ultrapassa o âmbito apenas da ingestão dos nutrientes necessários para as funções metabólicas do corpo (proteínas, carboidratos, vitaminas, sais minerais e lipídeos), passando para a qualidade do alimento, o que remete ao sistema de cultivo utilizado.
Dentre os sistemas utilizados na produção de alimentos, podemos citar o convencional, orgânico, hidropônico e o transgênico. Muitas vezes o consumidor pode se confundir pela falta de informações a respeito desses sistemas de produção e o que isso implicará na qualidade do produto final.
O sistema de produção convencional de alimentos implica na utilização intensiva de insumos e tecnologias agrícolas (agrotóxicos, fertilizantes químicos, mecanização, etc.), geralmente utiliza grandes áreas agrícolas e prevalece o regime de cultivo de apenas uma cultura (monocultivo), com ênfase na produtividade em larga escala. Essa prática leva à obtenção de alimentos mais “padronizados” (ex.: peso, tamanho de fruto, coloração, textura do alimento, etc.), produzidos para atender uma grande demanda nacional ou internacional, tendo como exemplos clássicos a soja e o milho. A principal desvantagem do sistema convencional é a utilização extensiva de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças nas culturas. Mesmo após o período de carência, resíduos dos defensivos permanecem nos alimentos que, quando ingeridos, podem desencadear desde pequenas alergias até mesmo desenvolver doenças mais graves em longo prazo, como o câncer. O risco de contaminação do agricultor e do meio ambiente também é elevado, além do fato de as pragas se tornarem resistentes às moléculas químicas utilizadas, sendo necessária a aplicação intercalada de diferentes tipos de agrotóxicos (rodízio).
No cultivo orgânico os alimentos são produzidos em sistemas de produção nos quais não são utilizados fertilizantes, agrotóxicos e transgênicos. A agricultura orgânica possui como base os princípios agroecológicos, como o uso saudável e responsável da água, do solo, do ar e dos demais recursos naturais. Utiliza emprego de rotação de culturas, cobertura verde, compostagem, métodos culturais, biológicos e físicos para o controle de pragas e doenças, visando impactar minimamente o ecossistema e seguir práticas sustentáveis. Nas propriedades orgânicas, geralmente atua a mão de obra familiar e procura-se diversificar a produção de espécies vegetais e animais e, dessa forma, criar ecossistemas mais equilibrados para manter a biodiversidade na área. Assim, quando comparados aos alimentos convencionais, os orgânicos são mais saudáveis, pois não apresentam resíduos de agrotóxicos. No entanto, no Brasil, os alimentos orgânicos ainda são produzidos em escala reduzida, apresentam um preço final mais elevado ao consumidor e há pouca demanda, embora esta esteja em franco crescimento.
Há também, dentro da agricultura orgânica, uma classificação de alimento orgânico, alimento com ingredientes orgânicos e alimento não orgânico. Para ter o nome “orgânico” ou “produto orgânico” no rótulo, o alimento deve conter, no máximo, 5% de ingredientes “não orgânicos” (ou seja, 95% de sua composição provêm de ingredientes orgânicos), exceto ingredientes que estejam proibidos pelas regras da produção orgânica. Os “produtos com alimentos orgânicos” são aqueles que possuem em sua composição, no mínimo, 70% de ingredientes orgânicos e até 30% de não orgânicos. Os produtos que tenham menos de 70% de ingredientes orgânicos na sua composição não podem ser certificados como orgânicos.
Na hidroponia os alimentos são produzidos em ambientes protegidos (estufas), onde não há uso do solo. Geralmente são cultivadas hortaliças nesse sistema, produzidas no interior de tubos plásticos perfurados, sendo alimentadas com uma solução nutritiva (água + adubos químicos). Caso haja necessidade, o agricultor hidropônico pode utilizar agrotóxicos no controle de pragas e doenças. Alguns trabalhos científicos demonstram que, nos alimentos hidropônicos, há uma alta concentração de nitritos e nitratos, que são substâncias tóxicas para os seres humanos.
Por fim, os alimentos transgênicos são aqueles que, mediante técnicas de engenharia genética, contêm material genético de outras espécies de organismos. Geralmente inserem-se na planta-alvo genes de interesse (ex.: genes que conferem resistência a doenças, pragas e à seca, etc.), entre duas espécies diferentes. Transgenia é diferente de melhoramento genético que utiliza técnicas de seleção e cruzamento, procurando aumentar o número de características favoráveis em uma cultivar ou animal. Uma grande parte da soja e do milho produzido atualmente no Brasil é transgênica. Isso implica em alimentos que contêm ingredientes transgênicos, comumente encontrados em supermercados, mas, que a maioria da população desconhece (ex.: óleo de soja, batata frita, maizena, etc.). Pelo fato de muitas variedades transgênicas serem mais resistentes a agrotóxicos, como forma de aumentar a eficiência do controle de pragas e plantas daninhas, essas podem apresentar como desvantagem uma maior quantidade de resíduos de agrotóxicos. Além disso, ainda não há estudos pormenorizados, em longo prazo, que demonstrem que o consumo de alimentos transgênicos é totalmente seguro à saúde das pessoas.
Numa visão holística, uma alimentação saudável ultrapassa o limite de ser equilibrada e nutritiva. A forma como os alimentos que ingerimos foram produzidos também determinará o quão saudável eles serão. Assim, a frase de Hipócrates, considerado o pai da medicina, “Que teu alimento seja teu remédio”, está cada dia mais atual.
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