Conhecer como funciona a produção americana de feijão é uma experiência extremamente interessante. Afinal, para nós, é difícil imaginar como é ser produtor em uma região do mundo que tem um longo inverno, com temperaturas de até -40°C. O custo de produção parece ser menor que o nosso, mas são duas safras em dois anos contra cinco no Brasil. Porém, comparações são inevitáveis.
Nos Estados Unidos, produção está concentrada em feijões branco, preto e pinto beans.
Conscientes de que a organização é a chave para o crescimento da cadeia produtiva, os Estados Unidos têm ativas associações estaduais. A organização central é ligada ao USDA, que monitora oportunidades de negócios para a produção americana. Internamente, apoia as universidades na busca de aumentar o consumo nacional, e para isso, lança mão de tecnologias que resultam, até o momento, em centenas de produtos diferentes criados, de muffins a cereais matinais, passando por bebidas. Sim, bebida à base de feijão! Feijão como cereal matinal! Quem pensou que os tradicionais Sucrilhos dariam lugar ao feijão? Desidratados ou em farinhas, as saudáveis virtudes do feijão ganham o status de super alimento. E o consumo cresce. E cresce mais rapidamente que a produção.
Estrategicamente, os Estados Unidos disseminam pelo mundo as credenciais do nosso amigo feijão e desenvolvem novos mercados.
O que o Brasil não faria com apoio similar?
Aprender é evoluir. É perceber o privilégio que os brasileiros têm em ser os maiores consumidores de feijões do mundo e isso abre os olhos para possibilidades de aumento de consumo per capita. Se sem qualquer tipo de comunicação coordenada das virtudes do feijão o Brasil está aumentando a cada ano o consumo, o que se poderia esperar de se houvesse uma articulação mínima? A projeção oficial aponta para um aumento de consumo per capita e absoluto no país, que poderá elevar o consumo total a cerca de 4,4 milhões de toneladas em 2021/22. Se seremos mais ou menos dependentes das importações está também nas mãos de produtores, mas, acima de tudo, nas mãos de políticas minimamente inteligentes. Que aprendamos com nossos companheiros americanos!
É preciso refletir no modelo norte-americano. Caso o Brasil opte por continuar trabalhando sempre em emergências, assim como tem feito nos últimos anos, sem pensar na estratégia de médio e longo prazo, veremos as oportunidades escoarem entre os dedos. Já se perdeu muito tempo com discussões básicas. O preço de São Paulo ainda é tomado como referência, sendo que este preço diz respeito somente àquela cidade. A maior parte do ano, nem mesmo os empacotadores do interior do estado buscam abastecer-se na capital. Quanto produzimos de cada variedade, preto, carioca e vignas? Não se tem certeza... Outro desafio que a pesquisa não vence diz respeito à perda de cor do feijão carioca. E, se tem cor durável, o cozimento deixa a desejar. A mosca branca e a helicoverpa ainda têm presença constante nesse mundo brasileiro do feijão. Até quando? Por fim, nem precisamos aqui nos alongar quanto à verba sempre restrita. Se velhos problemas persistem, não temos como esperar inovações. Nem de trabalhar nelas. Quando os maiores consumidores de feijão do mundo desvendarão a receita do “muffin de feijão”? Será ele feito com farinha de feijão? Será que novidades assim não aumentariam ainda mais o consumo do produto?
A agenda estratégica da cadeia produtiva do feijão existe, mas está guardada nos computadores de alguém, como que a sete chaves. Por que é segredo? É sempre lembrada, mas não implementada. O que falta para que possa ser analisada e posta em prática?
Produtores e empacotadores precisam dar as mãos para atingir objetivos comuns. Onde esta o IBRAFE - Instituto Brasileiro do Feijäo? Cabe aos interessados injetarem recursos necessários, arregaçar as mangas e tomar as rédeas do futuro.
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