O processo de degradação da natureza teve início há doze mil anos com a invenção da agricultura, que, segundo alguns autores, teria sido o maior feito do homem na sua história. Nesse período dois aspectos pesaram decisivamente no aumento da poluição ambiental: o crescimento populacional e o avanço tecnológico. Até o ano de 1240 d.C. o aumento da população no planeta foi relativamente lento, havendo acréscimos mais acentuados até 1780. Quando teve início a Revolução Industrial o crescimento passou a ser cada vez mais rápido culminando com uma população superior a sete bilhões de habitantes, ainda em expansão.
Antes da invenção da agricultura os seres humanos eram nômades, deslocando-se em busca de comida. Quando os alimentos tornavam-se escassos, o homem mudava-se. Assim, a poluição era inexistente ou, pelo menos, pouco expressiva. Com o início da agricultura, 10.000 a.C., o homem passou a cultivar as plantas e domesticar os animais, fixando-se em alguns locais. No começo, isso ocorria próximo a fontes naturais de água, o que deu início à poluição pela concentração de resíduos de alimentos e de dejetos animais e humanos. De modo espontâneo, em função das suas necessidades básicas de alimentação, vestuário e habitação e da concentração de pessoas em vilas e cidades, a poluição foi se agravando.
Em 1960, a população mundial era de três bilhões. Em apenas 39 anos, dobrou, passando para seis bilhões. Analisando o crescimento ao longo do tempo observa-se que os intervalos em que a população dobrou ficaram cada vez mais curtos: um milênio, entre 40 d.C. e 1240; quinhentos anos, de 1240 a 1740; cento e cinquenta anos, de 1740 a 1890; setenta anos, entre 1890 e 1960; e apenas trinta e nove anos, de 1960 a 1999.
Aliado ao aumento populacional houve um incremento nas necessidades humanas geradas pelo desenvolvimento cerebral, provocando as revoluções: industrial, que se estendeu de 1780 a 1830; tecnológica, de 1830 a 1945; e digital, que teve início em 1970 e continua em nossos dias. Essas revoluções no modo de produção e consumo trouxeram consigo aumentos expressivos na poluição e consequente alteração no ambiente natural.
Nas últimas décadas ganhou importância a questão das mudanças climáticas, que, segundo o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), devem-se à influência humana. Essa responsabilidade do homem em relação à degradação ambiental tem induzido não apenas cientistas, mas toda a população a buscar formas de remediar e solucionar o problema, que tem se agravado.
O IPCC foi criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial para fornecer informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáticas, seus impactos potenciais e opções de adaptação e mitigação.
As mudanças climáticas se devem a várias causas. Parte dos cientistas afirma serem naturais, enquanto a outra acredita que o homem tem participação ativa nessas causas, em função da poluição ambiental e da emissão dos gases de efeito estufa. Pertenço ao segundo grupo e, por conseguinte, defendo que o ser humano deve dar a sua contribuição para reverter esse processo.
A produção de alimentos é praticamente toda feita em condições ambientais não controladas, embora haja avanços no sentido de proteger os cultivos com telados e casas de vegetação. No início da agricultura o homem utilizava ferramentas rudimentares e as próprias mãos para cultivar o solo, ceifar os cereais e colher as frutas e hortaliças. A criação de animais era feita em áreas abertas, sem cercas.
Com o tempo, o homem passou a utilizar a tração animal, cultivando áreas maiores e transportando o alimento por grandes distâncias. Com a Revolução Industrial surgiu a máquina a vapor e, a seguir, os primeiros tratores e ceifadeiras, que possibilitaram o cultivo de grandes áreas, com menor emprego de mão-de-obra, que restringia a força necessária à grande produção.
Em 1970, o engenheiro-agrônomo Norman Borlaug – que ganhara o Prêmio Nobel da Paz por pesquisas que permitiram mais eficiência no plantio de trigo em países como México, Índia e Paquistão – foi o mentor da chamada “Revolução Verde”. Essa revolução provocou uma mudança drástica na forma de produzir alimentos, aumentando a produtividade, mas, ao mesmo tempo, ocasionando o aumento da poluição ambiental pelo uso intensivo dos pesticidas agrícolas. A agricultura que em um primeiro momento ganhou com a mecanização dispunha agora de novas cultivares mais produtivas e de produtos químicos para controlar pragas, doenças e ervas daninhas.
As plantas normalmente são saudáveis e expressam o potencial produtivo em seus centros de origem. Uma vez fora deles, e modificadas geneticamente, precisam, em geral, de proteção química para resistir às doenças e pragas. Nesse caso, alterado o ambiente (clima, adubação, densidade, monocultivo extensivo e outros fatores) e a genética, precisam de suporte bioquímico para fazer frente às situações adversas.
Uma questão que afligiu a humanidade por muito tempo deveu-se ao enunciado do inglês Thomas Malthus, que em 1798 previu que a população cresceria a uma velocidade superior a dos recursos naturais, ou seja, não seríamos capazes de alimentar tanta gente. Porém, com as pesquisas do Nobel Borlaug isso deixou de nos preocupar.
A preocupação atual é “como conciliar a produção de alimentos e insumos de forma sustentável”. Os grandes centros mundiais de pesquisas agrícolas – criados com o apoio da Fundação Rockfeller, Ford e outras a partir da década de 1950, para levar adiante as ideias produtivistas – precisam ser repensados no sentido de aliar de forma mais consistente a produção de alimentos com a preservação ambiental. A Inglaterra, por exemplo, tem hoje o Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente em um único órgão, visando dirimir conflitos com maior agilidade e conciliar a produção agrícola com a preservação ambiental.
Agora, no nosso entender, é o momento oportuno de instalar ao redor do mundo alguns grandes centros de pesquisa, a exemplo dos agrícolas, para buscar soluções ambientais. Esses centros deveriam ser apoiados pelos governos e pelas empresas petrolíferas, automobilísticas, do aço, do cimento, da informática, além de outras que contribuem de forma direta para a poluição ambiental e o aquecimento global. Os centros regionais existentes devem ser fortalecidos.
Nos sistemas de produção de alimentos tem-se o uso intensivo de agroquímicos, fertilizantes, que poluem as águas, o solo, o ar, os próprios alimentos e toda a cadeia alimentar, incluindo o homem. O uso do solo sem conservação degrada-o e polui os rios e os oceanos. A criação de animais em sistemas confinados gera dejetos e resíduos nas propriedades agrícolas, em níveis muito elevados, que requerem tecnologias adequadas - nem sempre aplicadas - para a sua destinação correta.
A própria criação de bovinos, ovinos, caprinos e outras espécies em pastagens gera poluição pela emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, por exemplo, para cada pessoa há mais de um bovino nas pastagens: a população humana é de 193,9 milhões e a de bovinos, de 212,8 milhões (IBGE, 2012). Em Santa Catarina, a população humana é de 6,4 milhões e a de suínos de 4,5 milhões. No entanto, considerando que cada suíno polui 10 vezes mais que um homem, em termos de potencial de poluição, a população de suínos corresponde a sete vezes a população humana.
A agricultura contribui para o efeito estufa com emissões de gases como o metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N2O) e óxidos de nitrogênio (NOx), ao mesmo tempo em que constitui uma atividade influenciável pela mudança do clima.
As principais fontes agrícolas geradoras de gases de efeito estufa são o cultivo de arroz irrigado por inundação, a pecuária, dejetos animais, o uso agrícola dos solos e a queima de resíduos agrícolas. Estima-se que 55% das emissões antrópicas de metano provêm da agricultura e pecuária juntas. Nos solos agrícolas, o uso de fertilizantes nitrogenados, a adição de dejetos animais, a incorporação de resíduos culturais, entre outros fatores, são responsáveis por emissões significativas de óxido nitroso.
O uso da água para irrigação, especialmente em lavouras tratadas com agroquímicos, além de poluir, gera conflitos com os habitantes das cidades que utilizam a água para o consumo e a higiene pessoal.
Além de se alimentar, o homem precisa proteger-se do sol, do frio e do calor, e vestir-se adequadamente e por vontade própria andar na moda. A indústria do vestuário gera grande poluição ambiental porque utiliza produtos para o tratamento dos tecidos e couros. A indústria de cosméticos, por sua vez, utiliza muitos produtos sintéticos que ocasionam poluição química ao ambiente.
Quando o homem habitava cavernas sua contribuição para a poluição era praticamente nula. Do uso da palha em choupanas aos materiais utilizados na construção civil moderna passaram-se muitos séculos. Nas últimas décadas a evolução se deu de forma rápida, com o uso de materiais cada vez mais elaborados, o que potencializam a poluição.
Com o advento do cimento, em 1824, e o posterior uso do concreto armado na construção civil, houve uma redução significativa no avanço do emprego da madeira retirada das florestas. No entanto, a produção desses materiais aumentou a poluição ambiental, decorrente de novos fatores, como o uso da energia elétrica, do transporte e o revolvimento dos solos e rios para a retirada de areia, solo, pedras e calcário. O uso das tintas sintéticas para proteger todos os tipos de edificações gerou um tipo de poluição ainda mais severa.
O desenvolvimento da sociedade moderna está assentado na produção de energia, seja para gerar bens e transporte, seja para o conforto do ser humano. A produção e controle da energia é tão importante que determina a eleição de presidentes em alguns países e a queda de ministros em outros. Há pouco tempo, até o desastre do Japão em 2011, julgava-se que a energia nuclear era limpa e segura.
Atualmente vários países europeus estão desistindo dessa tecnologia e voltando-se a outras fontes de energia, que normalmente poluem mais, exceção feita às energias eólica e solar. De qualquer modo há a necessidade de grandes investimentos nessa área para reduzir a poluição ambiental e garantir a segurança das pessoas.
A produção de alimentos na atualidade é praticamente toda feita em ambientes abertos, dependentes das condições climáticas. Trabalha-se no sentido de ampliar a produção em ambientes fechados e protegidos e de monitorar as condições do clima, prevendo-se com alguma antecedência e confiabilidade o que vai acontecer; permitindo-nos na agricultura o plantio e a colheita em épocas adequadas e, no meio urbano, o planejamento do consumo de energia e a aquisição de vestuário para a próxima estação do ano.
Na atualidade um dos problemas mais sérios é a movimentação dos veículos nas grandes cidades, em função das vias urbanas existentes e do aumento indiscriminado de automóveis, que ocasiona “engarrafamentos” e poluição ambiental pela emissão de grandes quantidades de gases de efeito estufa. Os primeiros veículos movidos a petróleo eram altamente poluidores; hoje a indústria procura desenvolver carros que poluam menos, mudando inclusive o tipo de combustível. A inovação na área automotiva avança na busca de maior eficiência e diminuição na poluição, no entanto esse processo tem sido lento. Há uma preocupação da sociedade, especialmente do setor público na busca de soluções para o transporte de massa, que seja mais eficiente e menos poluente.
O setor da informação e comunicação também se mostrou muito poluente pelo uso das fibras óticas, antenas e aparelhos eletrônicos. Há pouco tempo não se imaginava o descarte tão grande de equipamentos e aparelhos utilizados nesse setor. Já são comuns, nos grandes centros, locais próprios para coleta e armazenamento desses aparelhos, no entanto a reciclagem ainda é precária. A produção e o uso de equipamentos utilizados nesse setor geram também grande poluição da natureza, de ordem física e química.
Em linhas gerais o Brasil está passando por uma mudança no padrão de suas emissões. Nos últimos anos, a participação do desmatamento diminuiu 64%, enquanto que os demais setores só aumentaram: energia, 33%; agricultura, 7%; indústria, 16% e resíduos, 14% (Azevedo, 2012).
O que fazer para reduzir a poluição ambiental e a emissão de gases de efeito estufa?
Em primeiro lugar é necessário conhecimento para que se possa transmitir educação, que se inicia no lar, passando pela escola e pela sociedade. O conhecimento tem uma fonte natural nas universidades e centros de pesquisa, que precisam do apoio da sociedade, como alternativa para a sua própria sobrevivência. Cabe aos pais, às escolas, às universidades, aos centros especializados e também às redes sociais fazer o importante papel de transmitir conhecimento e educação ambiental.
Em segundo lugar é preciso tecnologias inovadoras para reduzir a poluição ambiental e produzir com sustentabilidade. Atualmente os centros especializados geram tecnologias e informações para reduzir o impacto do homem sobre o meio, possibilitando um ambiente mais saudável para se viver. É preciso discutir formas mais adequadas de produção para se reduzir drasticamente os efeitos nefastos do homem sobre o meio ambiente. A tendência da indústria é de colaborar no sentido de produzir reduzindo a poluição ambiental.
Em terceiro lugar é necessário legislação adequada para mitigar os efeitos negativos da poluição ambiental. A legislação tem um efeito extremamente importante na condução da sociedade. Algumas leis visam a melhorar a conduta humana em relação ao ambiente. Leis específicas para as cidades têm grande importância. No caso de Curitiba a lei municipal 10.785 de 2003 obriga os cidadãos a construírem os prédios com sistemas de coleta de água da chuva, o que favorece o controle de enxurradas e possibilita a redução do consumo de energia com o transporte desse insumo, fundamental para o ser humano. Bons planos diretores, prevendo a construção de imóveis em locais seguros podem evitar calamidades em caso de desastres naturais e permitir o deslocamento adequado dos cidadãos, diminuindo a poluição ambiental.
“É preciso fazer melhor tudo o que estamos empreendendo para cuidar do nosso planeta adequadamente; a não ser assim, não nos resta alternativa senão investir mais no setor espacial para buscarmos outro lugar seguro para viver”.
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