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Marcelo Pimentel
26/07/2012
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O cio é o ponto de partida de tudo dentro de um criatório, cujo próprio nome já remete à ideia da cria. Éguas ciclando, parindo, amamentando, potros se desenvolvendo, animais trabalhando, se reproduzindo e até competindo. São essas as fases vividas dentro de um haras. Para cada uma delas, o organismo dos animais possui necessidades nutricionais distintas; uma hora querendo mais energia, outra mais proteína e por aí vai.
Nutrição hoje em um bom haras responde por 50 ou até 60% dos custos totais do criatório. Através dela, o equinocultor pode decretar o sucesso ou o fracasso da atividade. Sendo assim, não é difícil entender a vital a importância desse quesito.
A ideia defendida pelos especialistas é a de um programa alimentar específico para cada categoria do plantel. O conceito prevê dietas diferenciadas para cada um das fases da vida do animal, tendo por base a atenção às exigências nutricionais adequadas ao período em que se encontra. O resultado se materializa sob a forma da qualidade. E com o crescente ganho genético da tropa brasileira, ocorre o natural aumento das exigências nutricionais e de manejo.
“Criação de cavalo, como qualquer outro tipo de criação, tem seu sucesso baseado no tripé genética-manejo-nutrição. Se, por exemplo, o haras tiver uma boa genética, mas se descuidar do manejo e/ou da nutrição, o sistema não se equilibra, e assim por diante. Não adianta investir apenas em genética e não se preocupar em fornecer as condições necessárias ao animal para que seu potencial genético seja expressado de forma plena”, destaca Sigismundo Fassbender, zootecnista e gerente da linha de produtos equinos da Guabi.
Fassbender: genética boa requer nutrição e manejo adequados
Categorias
O zootecnista divide esses animais em grupos ou categorias de acordo com fase de vida: éguas gestantes, éguas em lactação, potros, reprodutores e animais de competição.
Éguas prenhas exigem um cuidado especial no terço final da gestação, que é quando o potro mais se desenvolve, chegando a crescer algo em torno de 70% do seu tamanho ao nascimento. A égua passa então a ter uma exigência maior de proteína, energia e outros nutrientes. E para que chegue bem a essa fase de reprodução, com escore corporal adequado, deve ter recebido antes também um bom acompanhamento.
Já para as éguas em lactação, a exigência aumenta muito nessa época. Boa parte do que ela ingere é para converter em leite e amamentar o potro. O criador deve cuidar para que ela atravesse esse período e não comprometa seus ciclos reprodutivos futuros.
Potros nos pés das éguas também necessitam de uma atenção especial porque crescem 85% de seu tamanho no primeiro ano de vida. É nesse período que o manejo nutricional vai determinar o que esse animal vai ser no futuro. Entre dois anos e meio e três anos, ele entra numa outra fase em que começa a ser montado e a ser trabalhado. Precisa, portanto, de suporte nutricional pesado para que consiga ao mesmo tempo continuar se desenvolvendo ou, no caso das fêmeas, ainda se preparar para emprenhar, então precisará estar bem para suportar a gestação.
Animais de competição, como salto, equitação (CCE), prova dos tambores e baliza, enduro, marcha, laço etc. possuem um necessidade de energia muito alta. É preciso trabalhar com eles com capim de boa qualidade e ração concentrada de alta densidade energética. Aliado a isso, há também o acompanhamento da preparação física e planejamento dos eventos que vão participar é muito importante.
Animais que competem necessitam atenção e planejamento diferenciados
Ao conceder essa entrevista ao Portal Dia de Campo, Fassbender, por coincidência, encontrava-se numa importante exposição nacional de uma raça equina e observava a falta de condicionamento de alguns animais que, ao final ou mesmo durante algumas provas equestres, já revelavam deficiências em aspectos nutricionais.
“São animais muito bons, com altíssimo potencial genético, mas sem condições de expressá-lo. Sem escore corporal compatível para o tipo de prova, rapidamente perdem rendimento, perdem potência”, avalia.
Reprodutores
Às vésperas do início da estação de monta no Brasil, que começa no período de agosto e setembro, a nutrição para os reprodutores deve receber atenção especial. O zootecnista explica que reprodutores têm que ser preparados um tempo antes da estação de monta para que tenham alguma reserva em função do desgaste que terão.
“Eles ficam naturalmente mais nervosos e excitados e podem vir a perder peso. Não se trata de deixar o animal obeso, mas num estado nutricional bom para que ele tenha boa qualidade de sêmen e consiga fazer as coberturas. Os reprodutores top, por exemplo, terão sêmen coletado até duas vezes por dia durante seis meses. O aporte nutricional é crucial para a qualidade desse material”.
Já as doadoras de embriões também precisam estar bem para fornecerem embriões de boa qualidade e em quantidade durante o período reprodutivo. A respeito das doadoras, Fassbender explica que geralmente não chegam a dar problemas, pois estão sempre muito bem tratadas. Já com as receptoras, a história nem sempre é essa.
Segundo ele, ainda acontece muito no Brasil de se colocar embriões resultantes de um cruzamento entre um cavalo campeão com uma égua campeã em uma égua que não esteja bem nutrida. O resultado é a perda desse embrião. Por não ter condições físicas, a receptora não consegue levar a gestação adiante porque a natureza tratará de interrompê-la. “O prejuízo não é tratar a receptora, mas sim perder o embrião, que muitas vezes pode valer R$ 30 mil a R$ 40 mil”.
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