Nos últimos anos tem-se observado uma grande quantidade de pesquisas voltadas ao bem-estar de diferentes espécies de animais. Após a segunda guerra mundial ocorreu uma expansão na pecuária industrial com a intensificação da produção animal. Em função da necessidade elevados ganhos em quantidade para abastecer a crescente população mundial, os animais passaram a perder em qualidade de vida e então começaram a surgir os problemas sanitários decorrentes de ambientes de criação inadequados.
A partir das exigências dos países da União Europeia quanto às leis de bem-estar dos animais de produção, principalmente de suínos e aves os produtores estão atualmente diante de uma situação de readequação de seus sistemas de criação e manejo tradicionais. No entanto, a ovinocultura e a caprinocultura caminham de forma mais lenta em termos de avanços relativos ao bem-estar animal quando comparados às outras espécies também de interesse zootécnico.
A ovinocultura apresenta uma grande importância social para o Brasil e passa por uma expansão na produção atualmente. A atividade concentra um grande número de animais na região Nordeste do nosso país e convive constantemente com problemas de origem climática que afetam não só os animais, mas também a quantidade e qualidade de alimentos disponíveis para estes. Grande parte dessa exploração é feita por pequenos produtores, com mão de obra familiar.
Sistemas agrossilvipastoris de criação têm sido adotados e integram a agricultura nesta região através da criação de animais e do manejo de espécies florestais e são um meio de aumentar a produtividade da terra e manter a sustentabilidade da produção, tornando as propriedades rurais viáveis ecológica e economicamente, inclusive as familiares.
Pesquisas mostram que do ponto de vista agrícola, estes sistemas de produção garantem o aumento da produção das espécies vegetais cultivadas, o aporte de biomassa comestível e a renovação de energia dentro do sistema. Na área pecuária, esse arranjo se baseia no uso racional dos recursos naturais e na potencialização do desenvolvimento dos animais com a elevação da produtividade.
Os ovinos apresentam uma boa adaptação a climas quentes e talvez por isso seu conforto seja um tanto quanto negligenciado ou deixado em segundo plano. No entanto, elevadas temperaturas apresentam-se como entraves para a produção animal, visto que, o estresse causado pode comprometer a produtividade dos animais podendo afetar o ganho de peso, o comportamento natural da espécie, a reprodução e a saúde dos animais.
Quando oferecemos boas condições ambientais aos animais estes não precisam acionar seus mecanismos de adaptação (aumento da frequência cardíaca, respiratória, sudorese e diminuição da ingestão de alimentos) que fazem com que estes percam energia. Ao invés disso, a economia dessa energia passa a ser um fator positivo para a produção, que resulta em diminuição das perdas e num melhor rendimento econômico para o produtor.
A tecnificação presente hoje em dia em outros sistemas de criação garante o conforto térmico dos animais e favorece as condições de bem-estar animal e consequentemente, de máxima produção. Já em sistemas agrossilvipastoris, que tem por base a aplicação do conceito de sustentabilidade, preconiza-se o uso de modificações ambientais primárias, como a disponibilização de sombras naturais, que são capazes de reduzir a radiação e a temperatura do ar sob a copa das árvores, fator importante durante o pastejo dos animais nos horários mais quentes do dia, bem como, também, o posicionamento correto das instalações e os aspectos construtivos relacionados a uma boa ventilação natural, que facilitará a dissipação de calor e a renovação de ar.
Tais procedimentos são opções simples e baratas que podem viabilizar ou aprimorar técnicas de criação de ovinos já existentes, no sentido de favorecer os animais e, ainda, agregar valor ao produto final, visto que esses sistemas levam em consideração aspectos favoráveis com relação às boas práticas de manejo, ao meio ambiente e ao bem-estar animal.
Uma parceria entre o Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (NEAMBE) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Caprinos e Ovinos (EMBRAPA) avalia atualmente o desempenho de um sistema agrossilvipastoril inserido no semiárido cearense quanto ao bem-estar proporcionado aos ovinos. Quando concluída, essa pesquisa se somará a outras e resultará em um manual que servirá de base para o direcionamento de manejos adequados a serem adotados por produtores que se interessem por este tipo de sistema de criação.
Embora exista um considerável conhecimento a respeito dos sistemas agrossilvipastoris, os estudos desenvolvidos para a criação animal dentro destes ainda são deficientes, o que torna necessária uma maior investigação do quanto estes sistemas podem ser benéficos aos animais e também do balanço real entre a produtividade e o bem-estar. Dentro desta perspectiva faz-se necessário que estes conhecimentos possam chegar aos produtores e serem aplicáveis em suas propriedades, com recomendações que sejam capazes de proporcionar qualidade de vida aos animais e rentabilidade ao produtor.
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