Carregando...
O Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de biodiesel, atrás apenas da Alemanha. Segundo Alexandre Alonso Alves, pesquisador em Genética, Genômica e Melhoramento na Embrapa, esse cenário, que não existia há alguns anos certamente se deve em grande parte ao Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), que criou as bases necessárias para a produção e comercialização deste biocombustível no país. Mas para o sucesso do Programa, é necessário um investimento na diversificação de matérias-primas, objetivo principal do Projeto Propalma, liderado pela Embrapa Agroenergia que visa promover o domínio tecnológico de palmáceas selecionadas pela sua densidade energética e distribuição territorial.
— Atualmente, mais de 80% do biodiesel brasileiro é produzido a partir do óleo de soja. Outras matérias primas vegetais, embora de reconhecida importância, não participam com mais de 2% na cadeia produtiva do biodiesel. Esse cenário se deve em boa parte à já implantada estrutura logística da soja e também ao fato desta cultura se basear em sistemas produtivos altamente tecnificados e em grandes áreas — afirma.
No entanto, ele diz que para o sucesso do Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, em longo prazo, será necessário ocorrer a diversificação de matérias primas. Isso porque, com a manutenção do atual cenário e com os crescentes aumentos na mistura mandatória do biodiesel ao diesel de petróleo, previstos no PNPB, será necessário direcionar um maior volume do óleo de soja produzido para a produção de biodiesel.
— Para que essa diversificação possa ocorrer, inúmeras questões técnico-científicas relacionadas não apenas à produção de matéria-prima, mas também à estratégia de seu processamento industrial e integração com cadeias produtivas regionalizadas devem ser resolvidas. A primeira grande questão relaciona-se às espécies ditas potenciais. Ao se considerar que a soja, produz em média 500kg a 600kg de óleo por hectare, fica claro que a incorporação de outras espécies que produzam maior quantidade de óleo por área é uma estratégia bastante interessante do ponto de vista da diversificação das matérias-primas para a produção de biodiesel — explica.
Nesse contexto, surge então o projeto Propalma (Pesquisa, desenvolvimento e inovação em palmáceas para a produção de óleo e aproveitamento econômico de coprodutos e resíduos), assinado em 2010, coordenado pela Embrapa e executado em parceria com Universidades Estaduais e Federais. O projeto visa promover o domínio tecnológico de palmáceas selecionadas pela sua densidade energética e distribuição territorial (macaúba, tucumã, inajá e babaçu) para sua incorporação e utilização como matérias-primas para a produção comercial de óleo e biodiesel.
— Essas espécies produzem cerca de 8 a 10 vezes mais óleo por unidade de área que a soja. No entanto, a exploração ainda ocorre por meio de modelos extrativistas sendo necessário o desenvolvimento de sistemas de cultivos tecnificados, que permitem sua exploração em larga escala. Esse é um dos eixos principais do Propalma, pois o projeto prevê estudos que vão de métodos de germinação e propagação, a estudos de consorciamento destas espécies com outras espécies de interesse agroenergético ou ainda espécies forrageiras.
Além disso, o pesquisador conta que o Propalma visa também remover os gargalos tecnológicos para o aproveitamento econômico dos coprodutos e resíduos destas espécies.
— Essas ações visam agregar valor às espécies, tornando-as economicamente mais interessantes e inserindo-as no mercado de produção de agroenergia. O projeto tem ainda o importante papel de buscar inserir as regiões de ocorrência e produção destas espécies na geopolítica de produção de agroenergia. Essas ações em conjunto buscam contribuir com os esforços voltados para a diversificação das matérias-primas para produção de biodiesel — diz.
O projeto na prática
O projeto é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que investiu R$ 4,4 milhões nele. Além disso, a Embrapa já aportou, por meio de recursos não financeiros cerca de R$ 1,7 milhão, totalizando um investimento de R$ 6,2 milhões no projeto.
Ele abrange principalmente as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, mas conta também com a participação da Universidade Federal do Paraná na região Sul. Funciona como uma rede de pesquisa que envolve 9 unidades da Embrapa e 7 Universidades. A liderança cabe à Embrapa Agroenergia e o gerenciamento é feito por um comitê gestor que envolve pesquisadores da Embrapa Agroenergia, Embrapa Cerrados, Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Roraima e Embrapa Meio Norte.
Resultados
— Sobre a macaúba, as análises do óleo da planta mostraram que os níveis de acidez são baixos no momento da colheita do fruto, mas aumentam logo em seguida. O Propalma está buscando formas de armazenar o produto para minimizar esse efeito, uma vez que a baixa acidez é essencial para utilização do óleo na indústria de alimentos. Já se avançou também em áreas como a produção de mudas e resultados muito significativos estão sendo obtidos em temas envolvendo recomendação de adubação, ponto de colheita e características do óleo. Com relação ao tucumã, os trabalhos tiveram progresso na propagação e produção de mudas. Verificou-se ainda que o óleo extraído possui um baixo índice de acidez, o que o torna favorável à produção de biodiesel. Quanto ao babaçu, foram realizadas coletas nos estados do Maranhão e Tocantins para aumentar o banco de germoplasma, que está instalado no Piauí. Resultados promissores também foram obtidos no que concerne à mecanização para quebra do babaçu, por meio do aperfeiçoamento de uma máquina existente — conta o pesquisador.
Alves espera que, com o desenvolvimento de sistemas de cultivos tecnificados, a produção da macaúba, do tucumã, do inajá e do babaçu possa ser realizada de modo economicamente viável em larga escala e também segundo modelos de cooperativismo, onde os pequenos produtores poderão em conjunto fazer uso de usinas de beneficiamento ou agroindústrias localizadas próximas à sua propriedade.
— Além disso, ao buscar alternativas de aproveitamento econômico para os coprodutos e resíduos destas espécies, espera-se que estas sejam cultivadas não apenas para suprir o mercado de biodiesel, mas também para suprir potenciais mercados de novos químicos de maior valor agregado — explica.
Para mais informações, basta entrar em contato com a Embrapa através do número (61) 3448-4433.
Reportagem exclusiva originalmente publicada em 07/05/2012
|