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A partir deste mês, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) dá início à pesquisa sobre tecnologias de cultivo, colheita e secagem de 14 espécies que compõem o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Primária à Saúde no Estado de Minas Gerais (Componente Verde da Rede Farmácia de Minas). O projeto prevê oportunidade de geração de renda para agricultores familiares de Minas Gerais e oferta de material vegetal de qualidade para o Sistema Único de Saúde (SUS) do estado, visando à implantação da fitoterapia como opção terapêutica à população.
O projeto tem duração de três anos e foi aprovado pela Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) com recursos de R$ 200 mil. Coordenado pela EPAMIG, o estudo tem a participação das Universidades Federais de Viçosa, de Minas Gerais (campus Montes Claros) e de Ouro Preto, além do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas Biológicas e Agrícolas da Universidade Estadual de Campinas (CPQBA/UNICAMP) e da Embrapa Meio Ambiente. Para iniciar o trabalho de inserção da fitoterapia no SUS em Minas Gerais, serão analisadas as seguintes plantas: calêndula, erva-baleeira, alcachofra, alecrim-pimenta, espinheira-santa, melissa, hortelã-pimenta, hortelã-rasteira, guaco, alfavaca, maracujá-doce, maracujá-azedo, tanchagem e barbatimão.
Segundo a pesquisadora da EPAMIG Zona da Mata, Maira Christina Marques Fonseca, que coordena o projeto, não existem tecnologias de cultivo e manejo para algumas dessas espécies medicinais, sendo várias delas obtidas via extrativismo. Como conseqüência, pode ocorrer falta de material vegetal de qualidade e em quantidade suficiente para atender os usuários do sistema público de saúde. “A utilização da fitoterapia pelo SUS é de importância estratégica para ampliar as opções terapêuticas aos usuários, incentivando a implantação de novos programas, promovendo o uso racional e sustentável da biodiversidade mineira e desenvolvimento da cadeia produtiva de plantas medicinais com geração de emprego e renda aos agricultores familiares”, destaca.
Acesso a medicamentos — Maira Fonseca explica que a prática de uso dos recursos naturais nos cuidados com a saúde, especialmente das plantas medicinais, tem aumentado em função da existência de ampla faixa da população brasileira sem acesso a medicamentos, da influência de fatores culturais transmitidos de geração em geração, do interesse popular e da implantação de Programas de “Farmácia Viva” em municípios brasileiros.
O Brasil possui a maior diversidade genética vegetal do mundo, com cerca de 55 mil espécies catalogadas (de um total estimado entre 350 mil e 550 mil) e conta com ampla tradição do uso das plantas medicinais, vinculada ao conhecimento popular transmitido entre gerações. Apesar da riqueza da flora brasileira, nos últimos vinte anos o número de informações sobre plantas medicinais tem crescido apenas 8% anualmente, ressalta a pesquisadora. “A origem da matéria-prima vegetal é de grande relevância para a garantia da qualidade, eficácia e segurança das espécies medicinais utilizadas, daí a importância da pesquisa. É a oportunidade de fusão do saber do povo com o saber do técnico”, ressalta Maira Fonseca.
Sistemas de produção de plantas medicinais — As áreas experimentais de cultivo das 14 espécies medicinais serão implantadas em duas fazendas da EPAMIG (Oratórios e Prudente de Morais), e na área experimental do CPQBA/UNICAMP e da UFMG (Montes Claros). Ao longo do projeto, pequenos produtores locais serão incorporados às áreas experimentais, organizados de forma a produzir dentro dos padrões de qualidade exigidos pelo Programa Componente Verde. Com a manutenção dos bancos de plantas medicinais, os agricultores deverão caracterizar cada material vegetal pela descrição agronômica de seu desenvolvimento e desempenho.
A pesquisadora da EPAMIG, Andréia Fonseca Silva, irá realizar a identificação botânica das espécies e incorporar as exsicatas (exemplar vegetal prensado, acompanhado de etiqueta com informações sobre a espécie) ao Herbário da Empresa. A obtenção das sementes e mudas, realização de tratos culturais, colheitas, análises fitoquímicas, secagem das plantas para obtenção dos extratos e triagem dos constituintes químicos serão realizadas pela equipe de pesquisadores do projeto. Junto aos agricultores, serão realizados dias de campo para difundir as tecnologias geradas. “Com a disponibilização do conhecimento, pretende-se diversificar a produção, visando à utilização de práticas produtivas ecologicamente equilibradas, ao menor uso de insumos industriais, bem como à preservação das tradições culturais e do patrimônio genético”, considera Maira Fonseca.
Com isso, pretende-se oferecer matéria-prima de qualidade e promover aumento da renda familiar através da venda das plantas medicinais ao SUS de Minas Gerais, contribuindo para o combate a pobreza e estimulando o processo organizativo com a participação efetiva dos agricultores familiares.
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