Após uma safra 2010-2011 excepcionalmente boa, onde o mercado proporcionou bons preços e as condições climáticas proporcionaram a melhor produtividade de soja da história, a safra 2011-2012 está plantada e o cenário de preços e produtividade a serem auferidos pelo produtor está indefinido até o momento.
Embora com aumento da área plantada e aumento do nível tecnológico, as condições climáticas não estão indicando níveis de produtividade médios semelhantes aos alcançados na safra 2010-2011. Da porteira para dentro, os produtores em geral terão produtividades e preços menores, o que resultará em uma margem operacional mais apertada que as do ano passado. Em permanecendo este quadro, a sensação de aperto deve aparecer na época da colheita, pois ao colherem e venderem a safra os produtores de soja terão um menor faturamento disponível para pagar o financiamento da safra passada e estará diante de uma relação de troca soja/insumos mais estreita para financiar a próxima safra 2012-2013.
As condições climáticas ocasionadas pelo fenômeno “La Niña” estão afetando algumas das regiões produtoras de soja mais importantes do Brasil. Partes das regiões produtoras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Sudeste de Mato Grosso tem enfrentado longas estiagens nos meses de novembro e dezembro, o que já está comprometendo o desenvolvimento e a expectativa de produtividade das lavouras. No Paraná, as primeiras lavouras de soja precoce plantadas em setembro já estão sendo colhidas e proporcionando rendimento 15% abaixo do previsto em função de estiagens ocorridas no período posterior ao plantio. Nos demais estados e regiões citadas, os graus de perda de produtividade são variados, mas já se estimam perdas significativas ao nível de 6% no potencial produtivo da safra brasileira. Nos demais estados da região Centro Oeste, Nordeste e Norte, embora não se perceba ainda impactos negativos causados por estiagens, tem-se observado um regime de chuvas mal distribuído, com microrregiões bem supridas e outras mal supridas dentro da mesma região edafoclimática.
Devido à crise econômica européia, os preços internacionais da soja recuaram bastante, desde os preços obtidos na colheita da ultima safra. Embora o câmbio tenha expressado uma valorização do dólar perante o real desde que os indícios da crise européia ficaram mais evidentes, e isso possa internamente ter arrefecido a percepção de queda no preço interno da soja, a relação de troca de soja por insumos já piorou muito, pois os insumos tendem a acompanhar a valorização do dólar. Os especialistas sinalizam que pelo fato da Europa não ser uma consumidora de produtos agrícolas brasileiros, seus efeitos sobre a queda dos preços não deve ser muito drástico. Nos mercados agrícolas, especialmente de alimentos, a demografia tem papel de grande relevância para a demanda, que possui como crescimento mínimo a taxa de elevação da população mundial. A produção, porém, é limitada pelo estoque de terras disponíveis, recursos hídricos e tecnologias. Desta forma os preços da soja em 2012 não devem continuar a tendência de queda iniciada em 2011, pois é necessário incentivar a produção futura. Alem disso o consumo da China e da India não deve diferenciar significativamente dos níveis atuais. Porém a desaceleração econômica da Europa, certamente terá reflexos de alguma magnitude nas economias do mundo todo, incluindo nas dos países asiáticos, que atualmente são os nossos maiores importadores de soja.
Embora não se possa afirmar categoricamente qual será o cenário de preços na colheita da safra 2011-2012, é prudente que o produtor se prepare para uma situação mais apertada e se ajuste desde já. Enquanto os preços da soja permaneceram elevados, os possíveis problemas estruturais e de gestão de cada propriedade puderam ser, em boa parte, compensados por um fluxo maior de receitas. Com os preços da soja menores associados aos custos dos insumos maiores, tais problemas tendem a vir à tona.
Os agricultores brasileiros colheram 75,324 milhões de toneladas de soja no ano agrícola 2010-2011, representando safra recorde. De acordo com levantamentos da Conab (3ª avaliação, publicada em dezembro de 2011), a área plantada na safra 2011-2012 será de 24,350 milhões de hectares – 0,7 % (169,2 mil hectares) superior à da safra 2010-2011. E a previsão para a produção de soja na safra 2011-2012 no Brasil indica um volume de 71,287 milhões de toneladas, que é 5,46% (4,038 milhões de toneladas) menor que a safra anterior, devido ao cenário climático já citado.
As cotações futuras de soja fecharam com ganhos inexpressivos, na última sexta-feira, 23 de dezembro de 2011, na Bolsa Mercantil de Chicago, chegando US$ 26,07 por saco de 60 kg (cotação para maio de 2012, posto Chicago), valor 3 US$/saco (quase 10%) abaixo do ocorrido em 17 de dezembro de 2010 (um ano atrás). A principal motivação dos compradores futuros da soja foram os comentários sobre previsões climáticas adversas para a Argentina durante a semana útil a iniciar-se em vinte e seis de dezembro de 2011 e preocupações com a possibilidade de o clima mais seco do que o normal estender-se naquele país vizinho à fase de pleno desenvolvimento reprodutivo da soja (no próximo mês de janeiro de 2012), que traduziram-se na manutenção de prêmios de risco climático ora incorporados às cotações futuras da oleaginosa, em Chicago.
Diante desse cenário de preços em Chicago, o mercado interno ficará muito dependente das variações cambiais a ocorrerem no primeiro semestre de 2012. Estas por sua vez, dependerão da evolução ou recuperação da crise européia. E os produtores devem ficar atentos para aproveitar eventuais momentos de picos de preço e ir travando alguns lotes da soja a ser colhida no primeiro trimestre de 2012, pois, de agora em diante, ao se aproximar a colheita da safra sul-americana, o mercado especulativo de clima deve começar a atuar, juntamente com os humores da crise européia.
Vencida a etapa do plantio, o produtor de soja agora não deve se preocupar somente com o controle da ferrugem-asiática, lagartas, percevejos, etc., em suas lavouras, mas principalmente ficar de olho nas variações dos preços da soja, e na negociação da próxima safra. Especial cuidado se deve ter ao negociar os insumos para o plantio da safra 2012-2013, pois os insumos estão ainda com preços elevados, puxados pela alta da soja e das commodities ocorrido no último ano. Com o dólar elevado, possivelmente o preço dos insumos não deverá cair tão rapidamente quando o preço da soja já caiu. O produtor deve lutar para negociar uma relação de troca similar à que houve na ultima safra, pois na ocorrência de quedas ainda maiores do preço da soja, o produtor não conseguirá bancar um patamar de custos tão elevados, quanto o da última safra. A isso, devem-se somar as prestações de financiamentos de custeio e investimentos que a grande maioria dos produtores terá para pagar ao longo do ano 2012.
À grande maioria dos produtores que não estão capitalizados para custear a próxima safra com recursos próprios, este planejamento será fundamental. Embora não seja o mais provável, um desfecho desordenado da crise européia, que empurre mais países para a reestruturação forçada de suas dívidas pode ocorrer. Nestas circunstâncias, o sistema financeiro global seria afetado, produzindo um estrangulamento dos fluxos internacionais de crédito. O crédito para custeio vindo de tradings e empresas de insumos poderia se tornar escasso e ainda mais caro. No cenário incerto que neste momento se vislumbra, o mais importante é o produtor tentar fazer um custo de produção baixo na safra 2012-2013, com especial atenção no custo financeiro.
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