A soja tem se constituído em uma espécie estratégica para a viabilização do aumento da produtividade e da produção agrícola no Centro-Oeste brasileiro. Nos últimos 30 anos a produtividade média da soja nos Cerrados do Centro-Oeste tem aumentado significativamente, de 1.200 para 3.200 kg/ha. Entretanto, a lucratividade tem declinado. No início de sua expansão pela região, a cultura da soja, com produtividade de apenas 1.200 kg/há, permitia obter-se cerca de 10% de lucro líquido em lavouras com tamanhos inferiores a 300 hectares. Atualmente, os custos e as relações de preços de insumos e produtos mudaram de maneira que é necessária uma produtividade de soja superior a três toneladas por hectare para que o produtor obtenha lucro líquido e crescimento sustentável do seu negócio. Neste contexto, a gestão econômica das propriedades rurais torna-se muito relevante.
Nos dias atuais, tem-se discutido muito sobre o futuro das produções agrícolas no mundo, no médio e longo prazo. Entre as forças envolvidas nas discussões devem ser ressaltados o crescimento da população mundial, o aumento da renda dos consumidores levando a uma maior demanda por alimentos, aumento da competição por terra, água e energia, e crescimento dos questionamentos sobre mudanças climáticas. Neste contexto, deve-se estudar, no médio e longo prazo, a sustentabilidade da produção de soja no Centro-Oeste brasileiro.
Estudos indicam que a agricultura brasileira continuará crescendo principalmente sobre áreas atualmente ocupadas por pastagens degradadas, localizadas nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. O Centro-Oeste contém ecossistemas de Cerrado, Mata Atlântica e Campos de Altitude, e é onde atualmente são obtidas as maiores produtividades de soja, milho, sorgo, feijão e algodão do Brasil. Estudos recentes feitos na Embrapa Cerrados indicam que essas regiões possuem os maiores índices de produtividade anual de grãos no Brasil. Entretanto, a lucratividade da cultura da soja na região é inferior à dos estados da região Sul, e dos países do Mercosul e dos Estados Unidos.
A soja, por suas características de capacidade de fixação biológica de nitrogênio, liquidez no mercado e valor agregado, tem se constituído na base do sistema agrícola do Centro-Oeste. A região possui regime de chuvas bem distribuído de outubro a abril, relevo plano e solos com boa estrutura física, embora originalmente fossem quimicamente pobres. Atualmente, depois de alguns anos de cultivo de soja, já tiveram a sua base química construída. Por suas características químicas, os solos da região demandam dosagens elevadas de fertilizantes que aumentam os custos de produção e reduzem a rentabilidade do negócio.
Esse fato tem levado os produtores da região a buscarem a economia de escala para alcançar a viabilidade econômica. Para tal, os empreendimentos rurais da região têm adotado estratégias de exploração em grandes áreas. O que demanda altos investimentos em máquinas e instalações. Como resultado, os requerimentos de capital para aquisição de todos os ativos necessários são maiores, e variações nos preços da soja e dos insumos implicam em maiores riscos para o negócio.
Estudos feitos na Embrapa Cerrados têm indicado que a evolução de preços, em reais por saca de 60 quilos de grãos, de produtos agrícolas no Brasil, a partir de julho de 1994, tem sido influenciada por diferentes forças que atuam sobre o mercado internacional de commodities agrícolas (como a soja) e também, sobre o mercado interno de alimentos (como o feijão) básicos da dieta do brasileiro. E, no caso de soja em grãos, os preços entre março a junho, época da colheita e de maior volume comercializado no Brasil, tem sido pressionados para baixo. Com isso, dependendo da época de venda da soja e da modalidade de venda efetuada, os produtores que exploram somente a cultura da soja no verão possuem perfil de custos que não oferecem margem de lucro operacional em suas atividades.
Embora nas últimas duas safras o preço da soja tenha estado acima das médias históricas, os custos também estão. E dependendo da modalidade utilizada pelo produtor para financiar a produção (recurso próprio, crédito bancário oficial, troca de soja por insumos), a margem de lucro se desfaz. Como a maioria dos produtores tem utilizado a modalidade de troca ou adiantamento de recursos por meio de operações de vendas antecipadas junto a companhias (Tradings) exportadoras, e que esta operação é feita entre a colheita (maio) e o plantio da próxima safra (outubro), com as maiores taxas de juros do mercado (em torno de 20%) grande parte dos produtores da região Centro-Oeste não está obtendo lucro na atividade.
Embora a safra 2010/2011 tenha sido uma das melhores da história, com preços e produtividade considerados excelentes, grande parte dos produtores de soja da região Centro-Oeste podem não ter alcançado a situação de lucro operacional. Isso resulta na falta de capital de giro para gestão do negócio agrícola no Brasil, e especialmente no Centro-Oeste onde os custos com insumos são mais altos, requerendo maior volume de capital para custeio das lavouras. A falta de acesso ao crédito oficial pela maioria dos agricultores os coloca em situação de desvantagem a ponto de perderem a margem de lucro e a capacidade de continuar na atividade produtiva, mesmo em anos considerados excepcionalmente bons. Levando a uma concentração ainda maior das terras agrícolas nas mãos daqueles que conseguem trabalhar com menores custos financeiros.
Trabalhos preliminares de análise bioeconômica indicam que o custo financeiro parece ter maior impacto que a própria economia de escala sobre o agronegócio da soja no Centro-Oeste. E a elevação dos preços da soja no mercado internacional não é aproveitada pelo produtor descapitalizado, pois os custos de produção (insumos) sobem junto com o preço da soja. Essa situação poderá levar a sojicultura brasileira a uma situação de concentração nas mãos de grandes grupos com economia de escala e capacidade de se autofinanciarem. Pela importância que a cultura da soja tem na sustentabilidade do sistema agrícola do Centro-Oeste brasileiro, o governo brasileiro precisa criar condições para que os pequenos e médios produtores de soja possam voltar a ter acesso ao crédito oficial de forma a democratizar os benefícios que a cultura da soja pode trazer a todos os agricultores e ao sistema de produção agrícola como um todo.
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