dia de campo

a
Esqueceu a senha?
Quero me cadastrar
     22/11/2024            
 
 
    

 

No dia 20 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, será iniciada a conferência mundial sobre o meio ambiente, denominada Rio + 20 (http://www.uncsd2012.org/rio20/) em alusão a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) – ECO 92 ou Rio 92, cujo tema escolhido foi: Economia Verde, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza, onde a preservação do meio ambiente e o clima do planeta estarão entre os principais assuntos a serem debatidos.

A expectativa é que a Conferência Rio + 20 consiga comprometer os países, as organizações não governamentais (ONGs) e a comunidade internacional para a construção de uma economia verde e inclusiva, isto é, que consiga ser sustentável (economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente justa) e que promova a redução das desigualdades sociais.
 
O grande desafio atual da humanidade é conciliar o desenvolvimento das nações, juntamente com o crescimento da população mundial, com a oferta dos recursos naturais, solo, água, ar e biodiversidade. 
 
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que em 2050 a população mundial será de aproximadamente 9,1 bilhões de habitantes e que para suprir a demanda de alimentos será necessário dobrar a produção mundial atual de alimentos.
 
A própria FAO espera que o Brasil seja responsável pela produção de 40% deste aumento da produção de alimentos, em função dos diversos fatores favoráveis que o país dispõe, destacando-se: disponibilidade de terras agricultáveis, clima favorável, bom nível de tecnologias disponíveis e produtores capacitados e motivados para responder a este desafio.
 
Mas o que mais chama a atenção da comunidade internacional é que o Brasil possui tecnologias que lhe possibilita aumentar a produção de alimentos, de forma sustentável, sem a necessidade de expandir a área de produção, ou seja, que permitem intensificar a produção em áreas já cultivadas e recuperar áreas degradadas, em especial, de pastagens, incorporando-as ao sistema produtivo.
Trata-se de tecnologias desenvolvidas e adaptadas para a Agricultura Tropical (AT), isto é, aquela que se situa entre os trópicos de Câncer (latitude de 23º norte, que passa acima da Cidade do México) e de Capricórnio (23º sul, que corta o norte do Estado do Paraná), as quais surgiram no seio dos produtores rurais, em função das suas dificuldades e necessidades de resolverem problemas encontrados no dia a dia e que após aprimoramento pela pesquisa e validação regional pela assistência técnica e extensão rural vem sendo adotadas amplamente pelo produtores rurais, colocando o Brasil na posição de líder mundial em AT.
 
O exemplo mais sólido é o sistema plantio direto (SPD), que nasceu da necessidade dos produtores de estancarem o grave problema de erosão que carregava o solo preparado para o plantio, com o uso intensivo de arado e grades, para as partes mais baixas do terreno, assoreando nascentes, rios e represas, matando peixes e contaminando a água de cursos d’água utilizados para abastecimento humano. Com a adaptação de máquinas para plantio (semeadoras ou plantadeiras, como os produtores preferem denominá-las) sobre os restos culturais e o surgimento de herbicidas de controle total de plantas daninhas, os pioneiros Herbert Bartz, Frank Dikistra e Manoel Henrique Pereira (Nonô) conseguiram alavancar este sistema de cultivo que hoje é motivo de orgulho nacional.
 
O SPD é um sistema de cultivo que se baseia em três princípios fundamentais ou três pilares de sustentação: A = ausência de revolvimento do solo ou revolvimento mínimo da linha de plantio, proporcionado pelo uso de máquinas apropriadas; B = biodiversidade, alcançada pela rotação de culturas e pela diversificação de espécies; C = cobertura permanente do solo, possibilitada pela produção de palhada pelas culturas comerciais e/ou pelo cultivo de plantas de cobertura do solo.
 
A sustentabilidade do sistema depende do equilíbrio entre os seus pilares de sustentação, que podem ser comparados com as pernas de um banco de bar, conforme figura abaixo.
 
 
No SPD a cultura é semeada diretamente sobre os resíduos vegetais do cultivo anterior ou sobre a palhada da cultura de cobertura do solo, sem o preparo com grades e/ou arados.
 
 
A vegetação existente na área é exterminada com o uso de herbicidas de ação total (dessecantes), eliminando a necessidade de revolvimento do solo para controle das ervas invasoras ou plantas daninhas, o que acaba por desestruturá-lo, tornando-o mais suscetível à erosão. 
 
 
A adoção do SPD proporciona a redução da erosão laminar, com diminuição de até 90% na perda de solo e consequentemente de corretivos e fertilizantes, além de reduzir em até 70% o consumo de combustíveis fósseis em relação ao Sistema de Plantio Convencional (SPC), contribuindo significativamente para a diminuição na emissão de gases de efeito estufa (GEE).
A redução do escorrimento da água também diminui o carregamento de sedimentos de solo que causam a contaminação da água que é utilizada para o abastecimento da população urbana, reduzindo substancialmente os custos do seu tratamento para se tornar potável. 
  
 
Com o SPD, o solo fica protegido com resíduos vegetais (palhada), aumentando a infiltração da água das chuvas, reduzindo ou praticamente eliminando o seu escorrimento sobre a superfície, possibilitando a recarga dos aquíferos e a regularização de vazão das nascentes, que formam riachos e rios e alimentam os lagos e represas.
 
A Agência Nacional de Águas (ANA) reconheceu estes benefícios proporcionados pela utilização do SPD e adotou uma iniciativa pioneira de pagamento por serviços ambientais (PSA) denominada Programa Produtor de Água, que tem como objetivo a redução da erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas rurais. O programa, de adesão voluntária, prevê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação da água e do solo, como, por exemplo, a construção de terraços e bacias de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o reflorestamento de áreas de proteção permanente (APP) e de reserva legal (RL), o saneamento ambiental etc. Prevê também o pagamento de incentivos (ou uma espécie de compensação financeira) aos produtores rurais que, comprovadamente contribuem para a proteção e recuperação de mananciais, gerando benefícios para a bacia e à população.
 
A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total, das ações e práticas conservacionistas previamente contratadas e os valores a serem pagos são calculados de acordo com os resultados: abatimento da erosão e da sedimentação, redução da poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo. 
 
O caso mais conhecido é o dos produtores rurais de Extrema em Minas Gerais, que compõe a bacia do Rio Jaguari, o qual é o principal manancial do Sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas da Grande São Paulo. 
 
Os produtores localizados nas microbacias dos sete riachos e/ou ribeirões que compõe a bacia do Jaguari, que aderem voluntariamente ao projeto de nominado Conservador das Águas recebem um bônus para proteger as nascentes, melhorar o manejo das pastagens, reflorestar as matas ciliares etc, enfim fazer a adequação ambiental das propriedades.
 
São parceiros neste projeto a ANA, o Governo do Estado de Minas Gerais, a Prefeitura Municipal, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a The Nature Conservancy (TNC).
 
Existem outras iniciativas relevantes como é o caso da implantação do PSA na bacia do Ribeirão João Leite, que abastece boa parte da população de Goiânia-GO, o qual prevê a criação de um fundo com diversas fontes de arrecadação de recursos para o pagamento dos produtores, o qual será administrado por um Conselho Gestor composto com representantes de todas as instituições envolvidas.
Com a adoção do SPD o assoreamento dos rios, lagos e represas também é reduzido, aumentando a vida útil dos reservatórios, em especial das usinas hidroelétricas, além de diminuir o desgaste das turbinas e os custos da sua manutenção, refletindo no menor custo da geração de energia elétrica.
 
Ao comprovar estes benefícios a Binacional Itaipu criou o Programa Cultivando Água Boa em parceria com a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP), com o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e com a Emater-PR, que incentiva os produtores rurais das áreas marginais da represa e dos afluentes imediatos do Rio Paraná a adotarem o SPD de qualidade visando à redução da sedimentação do reservatório de água da usina hidrelétrica.
 
A constatação científica desses benefícios foi realizada recentemente pela ecóloga Jane Siqueira Lino, estudante de pós-graduação da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), orientada pelo professor Gerd Sparovek, do Departamento de Ciência do Solo, a qual utilizou um modelo espacial de erosão para avaliar a carga de sedimentos em 23 bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, comparando a região Noroeste do estado, predominantemente agrícola, com a região Sul tradicionalmente de pecuária, em três períodos distintos: 1985, início da adoção do SPD; 1996, ano de consolidação do sistema; e 2006, ano da sua máxima adoção.
 
Os resultados mostraram que a carga de sedimentos não variou nas bacias da região Sul entre os anos de 1985 e 2006. Na região agrícola, houve redução da carga de sedimentos entre os períodos 1985-1996 e 1996-2006, em função do aumento da adoção do SPD. Na prática, a adoção do SPD promoveu uma redução média de 82% na carga de sedimentos, valor próximo da redução das taxas de erosão que tem atingido até 90%.
 
 
 
Outras duas contribuições relevantes do SPD são a redução da emissão de GEE e o sequestro de carbono. A primeira é proporcionada pela redução do consumo de combustíveis e pela redução no uso de corretivos, fertilizantes e herbicidas. A segunda pela absorção do carbono atmosférico capturado pelas plantas ao realizarem a fotossíntese, o qual é transformado em biomassa (troncos ou hastes, ramos, folhas, raízes e frutos), que após a sua maturação e colheita tem seus resíduos depositados sobre o solo formando a palhada.
 
No SPD a palhada permanece na sua superfície degradando-se lentamente e juntamente com a decomposição das raízes das plantas proporcionam o aumento no teor de matéria orgânica do solo (MOS), que por sua vez reterá o carbono por longos períodos (sequestro), se o solo não sofrer perturbações (movimentação provocada por operações de preparo como gradagem e aração).
 
 
No final do ano de 2009, durante a realização da COP 15, o Governo Federal assumiu compromissos voluntários de redução da emissão de GEE e para dar suporte aos compromissos assumidos criou em 2010 o Plano Nacional de Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa, onde os diversos setores da economia passariam a desenvolver ações focadas na metas assumidas.
 
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) foi pioneiro na proposição de ações concretas através da criação do Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC). O Programa ABC quer ampliar o SPD em 8 milhões de hectares até o ano de 2020, dos atuais 25 milhões para 33 milhões de hectares.  Ampliação do uso do trará uma possível redução de 16 a 20 milhões de toneladas de GEE, em equivalente carbono.
 
O Programa ABC conta com R$ 3,15 bilhões para financiar a adoção do SPD e de outras tecnologias que reduzem a emissão de GEE como a integração lavoura-pecuária (ILP), a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), a recuperação de pastagens degradadas e a fixação biológica de nitrogênio.
 
Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que prevê a criação de uma Política Nacional de PSA onde se espera que os produtores rurais possam ser reconhecidos e remunerados pelos serviços ambientais gerados, continuando a produzir agroenergia, fibras e alimentos com segurança alimentar, de forma sustentável, gerando trabalho, renda e qualidade de vida no campo, melhorando a qualidade do ambiente para toda sociedade, enfim, transformando o nosso agronegócio numa potente e competitiva Economia Verde.
 
 
 
 
 
 
 
,
 
Aviso Legal
Para fins comerciais e/ou profissionais, em sendo citados os devidos créditos de autoria do material e do Jornal Dia de Campo como fonte original, com remissão para o site do veículo: www.diadecampo.com.br, não há objeção à reprodução total ou parcial de nossos conteúdos em qualquer tipo de mídia. A não observância integral desses critérios, todavia, implica na violação de direitos autorais, conforme Lei Nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, incorrendo em danos morais aos autores.
Ainda não existem comentários para esta matéria.
Para comentar
esta matéria
clique aqui
sem comentários

Sistemas Sustentáveis de Produção - Artigos já Publicados

Queimadas e incêndios florestais são ameaças permanentes ao cumprimento das metas do Plano Nacional de Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa
11/02/2014

Mecanização Agrícola na Agricultura Familiar
20/01/2014

Integração lavoura-indústria-pecuária contribui para agricultura de baixo carbono
18/09/2013

PD: efeito da palhada no manejo do mofo branco da soja e do feijão
03/09/2013

Aprovada Lei que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
20/04/2013

Florestas plantadas no Distrito Federal
26/03/2013

Manejo da fertilidade do solo para altas produtividades
16/02/2013

O papel do Brasil na produção sustentável de alimentos e agroenergia
07/12/2012

Sustentabilidade do agronegócio brasileiro e o Código Florestal
03/12/2012

Florestas plantadas no Distrito Federal
31/10/2012

Importância da palhada no Plantio Direto: faça chuva ou faça sol
24/09/2012

Economia Verde e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
27/08/2012

A falta de Seguro Agrícola pode ameaçar o sucesso do Programa ABC
19/03/2012

Sistemas sustentáveis de produção
07/02/2012

Novo Código Florestal brasileiro: 1ª batalha - vitória do bom senso e da democracia
10/06/2011

Código Florestal brasileiro: dois pesos e duas medidas
15/04/2011

Contribuição do Sistema Plantio Direto para a redução da incidência da soja louca II
28/02/2011

Contribuição do Plantio Direto para a melhoria da qualidade da água
24/01/2011

Prevenção e controle das queimadas
01/11/2010

Um inimigo cruel das áreas de Plantio Direto e de Integração Lavoura-Pecuária
01/10/2010

Desafios para a implementação do programa Agricultura de Baixo Carbono
03/09/2010

Programa Agricultura de Baixo Carbono e o Sistema Plantio Direto
23/07/2010

Vazio Sanitário versus a produção de palhada para o Sistema Plantio Direto
09/07/2010

Capacitação da Assistência Técnica em ILPF e SPD
11/05/2010

Plantio Direto de qualidade ganha incentivos
08/04/2010

Manejo de doenças e pragas no Sistema Plantio Direto
02/03/2010

Serviços ambientais gerados pelo Sistema Plantio Direto
30/01/2010

Sistema Plantio Direto
18/12/2009

Sistemas Sustentáveis de Produção Agrícola
04/11/2009

Conteúdos Relacionados à: Agronegócio
Palavras-chave

 
11/03/2019
Expodireto Cotrijal 2019
Não-Me-Toque - RS
08/04/2019
Tecnoshow Comigo 2019
Rio Verde - GO
09/04/2019
Simpósio Nacional da Agricultura Digital
Piracicaba - SP
29/04/2019
Agrishow 2019
Ribeirão Preto - SP
14/05/2019
AgroBrasília - Feira Internacional dos Cerrados
Brasília - DF
15/05/2019
Expocafé 2019
Três Pontas - MG
16/07/2019
Minas Láctea 2019
Juiz de Fora


 
 
Palavra-chave
Busca Avançada