O agronegócio é a principal locomotiva da economia brasileira: próspero e rentável. O leite é um dos alimentos de maior importância para o homem e o mercado leiteiro é um setor de grande impacto no agronegócio, com uma produção média estimada de 30,6 bilhões de litros em 2010 (IBGE) e 32 bilhões para 2011. Cerca de 90% dos produtores são considerados pequenos e apenas 10% são médios e grandes, que geram aproximadamente 4,2 milhões de empregos diretos e 42 milhões indiretos. A exportação do alimento é de 455 milhões de litros e é um importante componente para o equilíbrio da balança comercial brasileira.
Com a criação do Plano Nacional da Qualidade do Leite (PNQL), em 1996, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e com apoio de órgãos de ensino e pesquisa, houve muitos debates e discussões para implantar novos regulamentos técnicos e critérios para produção de leite. Este foi o ponto de partida de uma série de normativas e portarias que viria a culminar com a criação do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL) pela Instrução Normativa (IN) 37.
Com a publicação da IN 51 definiu-se parâmetros técnicos sobre a qualidade do leite (regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade dos leites tipos A, B e C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel).
Antes da criação e publicação da IN 51 não existiam parâmetros para contagem de células somáticas e de contagem bacteriana total para o leite C, somente ao leite A e B. Da data de sua publicação até 1° de julho de 2005 para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o limite máximo de 1 milhão de CCS e de CBT, as regiões Nordeste e Norte até a data de 1° de julho de 2007. Atualmente o teto está em 750 mil células/mL para CCS e CBT.
Os parâmetros atuais estão em vigor até 1° de dezembro de 2011, por motivo de prorrogação destes limites, já que, deveriam ter sido novamente modificados em 1°de julho de 2011, onde passaria de 750.000 cél./mL para 400.00 cél./mL e 100.000 cél./mL de CCS e CBT, respectivamente. Segue quadro comparativo abaixo:
Outras informações estão disponíveis no site do MAPA (www.agricultura.gov.br).
A CCS deve ser alcançada com o tempo, tentando baixar cada vez mais as concentrações. Outro fator a ser corrigido é a assistência, capacitação técnica, divulgação de informações de modo mais abrangente, que deve chegar a todos os produtores, oferecendo conhecimento com clareza, não só sobre as mudanças, mas também o modo correto de se adaptar as exigências da IN 51.
Cuidados contra a contaminação do leite
O produtor deve ter o conhecimento de que a quantidade de microorganismos presentes no leite varia de acordo com a contaminação inicial, o tempo e temperatura de armazenamento, podendo variar em decorrência de processos inflamatórios do úbere ou de enfermidades no rebanho.
Para a obtenção da produção de leite com qualidade, higienização no processo de obtenção, resfriamento do leite (4°C) e controle da mastite são de fundamental importância. Na higienização destaca-se a limpeza das mãos dos ordenhadores, dos equipamentos e do úbere da vaca, com água potável. O ordenhador deve estar com roupas limpas, ser organizado, manter uma rotina e seguir processos de higienização.
A sala de ordenha deve ser um local sem agitação, limpo e fresco. Os equipamentos devem ser lavados com água morna de 70°a 75°C e detergente alcalino clorado na dosagem indicado pelo fabricante. Depois, é preciso passar detergente ácido diluído em água à 45ºC. A sala de ordenha deve fornecer conforto térmico às vacas. Materiais como latões, caneca de fundo preto, papel toalha, frascos para imersão dos tetos, escova para limpeza do material, detergente, soluções desinfetantes, todos devem sempre estar disponíveis para uso. Para desinfecção dos equipamentos, materiais e até no pré e pós-dipping pode ser utilizado uma solução a base de cloreto de alquil dimetil benzil amônio (desinfetante) + poliexietilenonilfenileter (tensoativo)1.
Em relação ao resfriamento do leite, o tanque de resfriamento deve ficar próximo ao local da ordenha e de fácil acesso para o veículo coletor. O local deve ser coberto, pavimentado, com energia elétrica e água de boa qualidade. Deve haver um bom isolante térmico a fim de evitar o aquecimento do leite. A instalação do tanque deve ser feita perfeitamente em nível para facilitar o escoamento do leite e da água de lavagem aproveitando o desnível que já existe no fundo do tanque. A potência do resfriador deve ser suficiente para permitir rápido abaixamento da temperatura do leite sem que tenha alterações em sua qualidade.
A mastite
Sobre a mastite bovina deve-se entender como inflamação da glândula mamária. As principais causas são bactérias, fungos, leveduras e algas. A mastite pode ser clínica ou subclínica, podendo aquela ser detectada pelo exame da caneca de fundo escuro ou caneca telada, em que é identificada a presença de grumos. Já a forma subclínica, não apresenta sinais clínicos e por isso é assim chamada, pode facilmente ser detectada por meio do California Mastitis Testis (CMT). Outros métodos, como a análise da CCS (contagem de células somáticas), cultura bacteriológica e condutividade elétrica são também muito eficazes para a identificação destas mastites. Pode ser diferenciada pelo agente causador na forma contagiosa ou ambiental; sendo a contagiosa mais comum durante toda lactação por Staphycoccus aureus, Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis, Streptococcus uberis e ambiental, que ocorre principalmente no pré-parto e início da lactação, causada por Escherichia coli, Klebsiella sp, Enterobacter sp, Streptococcus dysgalactiae.
Para o tratamento da vaca em lactação com mastite recomenda-se a utilização de um antibiótico eficaz e seguro à base de gentamicina associado a um mucolítico (bromexina)2, administrado pela via intramamária associado a penicilinas3, estreptomicina4, oxitetraciclina + diclofenaco de sódio5 ou de acordo com a orientação do médico veterinário. Na secagem é recomendada a utilização de gentamicina6, em alta concentração.
Diante dos dados relatados, concluímos que ainda há muito a fazer até a adequação da IN 51. Como o agronegócio brasileiro é persistente e, apesar dos obstáculos, a participação do mercado é crescente. Como vantagens brasileiras, temos terras abundantes, potencial de produção, climas favoráveis, imensa disponibilidade de água doce e energia renovável, capacidade empresarial, tudo isso faz do agronegócio um importante componente da balança comercial que permite ao Brasil comemorar o superávit primário.
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1CB-30 T.A., 2Mastifin®, 3Penfort® PPU, 4Estreptomax®, 5Ourotetra Plus LA, 6Mastifin Vaca Seca – Ourofino Saúde Animal Ltda.
LITERATURA CONSULTADA
BARSZEZ J. C.; LIMA I. A.; KOVALESKI. A qualidade do leite com base na contagem de células somáticas e na Instrução Normativa N° 51: Um estudo de caso da industria Lactobom e seus produtores.
Disponível em:< http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/ebook/producao1/1_Julio_C_sar_Barszcz.pdf>.
Acessado em: 15 de ago. 2011.
CANI P. C.; ROSANA F. F. V. Como produzir leite de qualidade.
Disponível em:
<http://www.seag.es.gov.br/wp-content/uploads/2008/05/861.pdf>. Acessado no dia 10 de ago. 2011.
CAVALCANTI E. R. C.; Fatores que interferem na qualidade do leite.
Disponível em: <http://urutai.ifgoiano.edu.br/documentos/publicacoes/artigo_leite.pdf>. Acessado em: 01 de ago. 2011.
DÜRR, J.W.; CARVALHO, M.P.; SANTOS, M.V. O compromisso com a qualidade do leite no Brasil. Passo Fundo: UPF. Editora, 2004. 331p.
MILINSKI C. C.; VENTURA C. A. A. O serviço de inspeção do leite na região de Franca – SP a partir da criação do programa nacional de melhoria da qualidade do leite.
Disponível em: <http://www.facef.br/novo/3fem/Encontro/Arquivos/Claudine%20e%20Carla.pdf>.
Acessado em: 08 de ago. 2011.
SILVA R. O. P.; Instrução Normativa 51: breve reflexão sobre as consequências da implantação de uma boa idéia para o setor lácteo. Análises e Indicadores do Agronegócio, v.6, n.6, julho 2011.
Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=12155>.
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