Com a chegada do período de chuvas na região do Brasil Central cessam as preocupações com os graves problemas das queimadas e dos incêndios florestais nos campos, que muitas vezes alcançam grandes proporções e causam sérios prejuízos econômicos, ambientais e sociais. Cabe, entretanto, perguntar: até quando, em toda estação seca na região, teremos que conviver com essas ameaças?
Extensas áreas de pastagens são queimadas causando a morte de plantas, aves e animais, inclusive de bovinos, já debilitados pela falta de alimentos nas pastagens degradadas, que predominam na pecuária extensiva da região. Toneladas e toneladas de gás carbônico são emitidas para a atmosfera, contribuindo significativamente para elevar ainda mais os índices de emissão desse gás de efeito estufa (GEE), que é tido como um dos principais responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas.
Esta é uma situação caótica e recorrente, fruto da falta de consciência e preparo dos produtores rurais, do descaso e da omissão das autoridades públicas, e da falta de comprometimento da sociedade civil e das organizações não governamentais (ONGs).
Os produtores rurais não têm consciência dos riscos que a vegetação seca apresenta em relação à ocorrência de queimadas, em especial, as pastagens ressequidas em consequência da longa estiagem e a palhada que recobre o solo nas áreas sob sistema plantio direto (SPD).
Na maioria das propriedades rurais da região do Brasil Central, principalmente durante a estação seca, não se observa a utilização de aceiros e da queima controlada da vegetação das áreas que margeiam as estradas e rodovias para evitar o surgimento de focos de queimadas e seu consequente o seu alastramento por amplas áreas.
Nas pequenas propriedades, em especial nas áreas de assentamentos, ainda é comum o uso das queimadas para o preparo das áreas para o plantio dos cultivos de subsistência. Esta é uma prática centenária e enraizada na cultura do nosso homem do campo, mas o fato dela perdurar também é fruto do descaso e omissão dos órgãos competentes, em especial, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Nas margens das rodovias federais e estaduais, nas áreas de domínio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e do Departamento de Estrada de Rodagem (DER), respectivamente, pode-se observar a vegetação seca ou tórrida, sem nenhum manejo (corte ou roçagem), constituindo-se num verdadeiro barril de pólvora, pronto para iniciar os focos de queimadas.
É preciso reconhecer que esses são locais de trânsito de vagantes ou mesmo de pessoas de pouca educação, que acendem fogo para se aquecerem do frio da madrugada, utilizando capim e galhos secos da vegetação arbustiva, mas que não eliminam o fogo ao deixarem o local, ou atiram bitucas de cigarros ainda acessas. Então vem o vento e se encarrega de dar corpo e espalhar as chamas rapidamente. Em pouco tempo a catástrofe está instalada e a estrada fica coberta com tanta fumaça, que reduz a visibilidade dos motoristas e, muitas vezes acaba provocando graves acidentes de trânsito.
Quando chamados à responsabilidade e dever de manter limpas as áreas de domínios das rodovias tais órgãos dão a velha desculpa que não tem recursos, como se tal argumento os eximissem da culpa. Recentemente produtores do Triângulo Mineiro conseguiram convencer o Ministério Público para marcar uma audiência pública com a participação destes órgãos, além da Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros e prefeituras municipais.
Creio que essa pode seu uma iniciativa que desperta a consciência dessas autoridades e mobiliza o setor para que se discuta e envidem esforços visando à implantação de medidas preventivas, adotadas de forma coletiva, sistemática e participativa se, afinal, pretendemos ter um meio ambiente mais saudável. Iniciativas como essa contribuem para a construção da própria democracia, e vale lembrar que nesse sistema quem está organizado faz e quem não está pega feito e paga o preço.
Em muitos dos novos plantios florestais também não se nota a adoção de medidas de prevenção como as citadas anteriormente para as áreas de lavouras e de pastagens, além da construção de mirantes que permitem o monitoramento permanente, a longa distância, identificando focos iniciais de queimadas, possibilitando o deslocamento de patrulhas anti-incêndio, devidamente preparadas.
Será que os mentores e os responsáveis pelo Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estão cientes dos riscos permanentes das queimadas para as pastagens na entressafra e para as áreas de lavouras conduzidas sob o sistema plantio direto, que se apresentam cobertas com palhada no período da seca?
Será que têm idéia dos riscos dos incêndios florestais para as áreas de reflorestamento e de integração lavoura-pecuária-floresta, que foram financiadas com dinheiro público pela linha de crédito do referido Programa?
Cumpre ressaltar a necessidade da realização de uma campanha massiva e permanente de conscientização dos riscos das queimadas e da necessidade imperiosa da adoção de medidas de prevenção, de forma sistemática e coletiva, envolvendo os três níveis de governo: federal, estadual e municipal, as entidades representativas dos produtores, em especial a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e demais envolvidos do setor do agronegócio.
Vale sempre lembrar que é melhor prevenir do que remediar, visto que nesse caso o remédio chega sempre tarde, quando o paciente (a vegetação) já virou cinzas.
Artigo originalmente publicado em 26/10/2011
|