Dentre as pragas que atacam o cafeeiro destacam-se algumas espécies de ácaros que podem causar perdas significativas. O ácaro vermellho do cafeeiro Oligonychus ilicis e o ácaro plano Brevipalpus phoenicis são considerados os principais fitófagos para a cultura do café.
Quatro teorias podem explicar o aumento de ácaros após a aplicação incorreta de agroquímicos. A primeira é a queda da população de predadores pela aplicação de pesticidas não seletivos; a segunda é a melhoria nas condições da planta hospedeira, vinda da adubação e de práticas culturais, ou por mudanças provocadas por pesticidas na fisiologia das plantas (trofobiose); a terceira é o estímulo direto ao ácaro por dosagens subletais do pesticida (hormoligose) e a quarta a resistência aos agroquímicos.
O ácaro vermelho-do-cafeeiro, Oligonychus ilicis, já foi considerado a segunda praga de maior importância para o cafeeiro Conillon, Coffea canefora, no estado do Espírito Santo. O cafeeiro Conillon mostra-se mais sensível à ação do ácaro-vermelho do que o Arábica (Coffea arabica L.), assim como para a broca-do-café, Hipothenemus hampei (Coleoptera: Scolytidae). O ácaro vermelho-do-cafeeiro vive na face superior das folhas que, quando atacadas, ficam recobertas por uma delicada teia tecida pelos ácaros que aderem detritos e poeira, dando às folhas um aspecto de sujeira.
Para se alimentar, na página superior das folhas, perfuram as células e absorvem parte do conteúdo celular. Em consequência, as folhas perdem o brilho natural, tornam-se bronzeadas, dando um péssimo aspecto às plantas. O ataque geralmente ocorre em reboleiras, mas pode atingir toda a lavoura. Períodos de seca com estiagem prolongada são condições propícias ao desenvolvimento do ácaro, podendo causar desfolha das plantas. Em lavouras novas (até três anos), as plantas podem apresentar seu desenvolvimento retardado.
O controle químico, se necessário, deve ser realizado por pulverizações de acaricidas, de preferência seletivos, em especial aos Phytoseiidae, no sentido de conservar e propiciar o aumento dos mesmos. O controle deve ser direcionado às plantas nas reboleiras atacadas, abrangendo também uma faixa ao redor delas. As demais não devem ser pulverizadas para melhor preservação dos inimigos naturais no cafezal e menor custo de controle.
O uso excessivo de fungicidas cúpricos para o controle da ferrugem-do-cafeeiro, Hemileia vastatrix, e alguns piretróides no controle do bicho-mineiro Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae) também causa acentuado aumento no número de ácaros-vermelho, ocasionando o que é conhecido como ressurgência, ou seja, aumento do número de ácaros pela seleção de resistentes. A chamada ressurgência também pode ser decorrente da melhoria nas condições fisiológicas da planta provocada por algum produto (trofobiose) ou pelo estímulo direto na reprodução do ácaro por dosagens subletais de inseticidas e/ou acaricidas (hormoligose). Suspeita-se que os neonicotinóides também podem causar ressurgência, entretanto há necessidade de mais estudos. Os casos mais conhecidos de ressurgência são para espécies pertencentes à família Tetranychidae, a mesma do ácaro-vemelho O. ilicis.
O ácaro Brevipalpus phoenicis tem sido encontrado em cafeeiros (Coffea spp.) no Brasil, pelo menos desde 1951, juntamente com surtos de ácaro-vermelho. Posteriormente o ácaro B. phoenicis foi relacionado com a doença conhecida como mancha-anular do cafeeiro, causada por um vírus do grupo Rabdovirus, que é responsável por queda de folhas e má qualidade da bebida do café. Já foi constatada a presença do ácaro em todas as regiões cafeeiras do Brasil. Desde 1990, com destaque para 1995, as infestações de B. phoenicis e da mancha-anular têm sido relatadas causando intensa desfolha em cafeeiros, tanto em arábica quanto em canéfora. Os sintomas aparecem nas folhas, ramos e frutos, e caracterizam-se por manchas cloróticas de contorno quase sempre bem delimitado, às vezes com um ponto necrótico central.
A característica não sistêmica atribuída ao vírus, encontrado somente nas áreas atacadas pelo ácaro, e não nas adjacentes sadias, ressalta a importância do vetor na epidemiologia da doença, porque a presença do ácaro é condição essencial, sem a qual não ocorre sua disseminação. Uma vez infectado, o ácaro não perde mais a capacidade de transmissão, a qual ocorre somente durante o ato de sua alimentação. A transmissão transovariana não foi constatada para esse vírus.
O controle do ácaro deve ser realizado em função da incidência da doença e não do número de ácaros. Estudos relacionados à resistência desse ácaro foram realizados com acaricidas utilizados em pomares de citros, porém não foi constatada resistência. São necessários estudos com agroquímicos utilizados em cafeeiro para o controle do ácaro da mancha anular, pois pouco se sabe sobre resistência em relação a esse ácaro.
A rotação de acaricidas tem sido uma das principais estratégias utilizadas para prevenir e/ou retardar a evolução da resistência de artrópodes a pesticidas, inclusive para ácaro Brevipalpus e vermelho. A recomendação dos acaricidas em rotação ou mistura é baseada no seu modo de ação e na ausência de resistência cruzada.
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