A antecipação da adubação da soja tem sido adotada pelos agricultores em áreas cultivadas em plantio direto. Apesar da época de semeadura estabelecida pelo zoneamento agroclimático para essa leguminosa ser relativamente ampla, com essa forma alternativa de fertilização procura-se aproveitar ao máximo o período em que o solo apresenta condições favoráveis de umidade para a realização da semeadura. Além disso, consegue-se aumentar o rendimento operacional da semeadora pela ausência da necessidade de abastecimento com fertilizante, sobretudo quando este é ensacado.
Contudo, a prática da adubação antecipada deve ser efetuada de forma bastante criteriosa, sob o risco de haver a indução de problemas diversos, que podem resultar em frustrações de safra e em impactos ambientais. Um dos principais critérios a serem observados refere-se à necessidade de que o solo apresente elevada fertilidade, uma vez que áreas cultivadas em plantio direto com baixa a média disponibilidade de fósforo e/ou potássio, apresentam maior produtividade de soja quando a adubação é feita no sulco de semeadura.
Por outro lado, em áreas com alta disponibilidade de nutrientes, onde a probabilidade de resposta à adubação é pequena, é possível realizar o manejo da fertilidade no sistema de produção, de forma alternativa. Neste contexto, a adubação não visa ao fornecimento de nutrientes para a espécie a ser cultivada, mas sim à restituição dos elementos que serão exportados pelos grãos, de forma a se manter a fertilidade do solo. De fato, resultados de pesquisa têm demonstrado, nesses casos, não haver diferenças na produtividade da soja, quando o adubo é aplicado à lanço e sem incorporação, antes do cultivo desta espécie, ou na semeadura da cultura de outono-inverno antecessora, em relação à adubação na linha de semeadura da leguminosa.
No entanto, a ausência de qualquer limitação na fertilidade do solo (especialmente, em relação a fósforo e potássio) é um requisito básico, mas não suficiente, para a tomada de decisão sobre a adubação antecipada da soja. É muito importante que o sistema produtivo adotado pelo agricultor permita, também, adequada manutenção da cobertura vegetal, devendo o solo estar, ao longo do ano todo, coberto com plantas em desenvolvimento e com generosa cobertura de resíduos ou palhada.
Dessa forma, propicia-se o acúmulo de matéria orgânica, com o conseqüente aumento da eficiência de aproveitamento de fósforo. O efeito benéfico da matéria orgânica sobre o fósforo está relacionado principalmente à formação de compostos menos sujeitos às perdas no solo. Porém, a presença da cobertura vegetal sobre a superfície também contribui para a diminuição da evaporação e para a manutenção do conteúdo de água no solo, o que facilita o movimento de nutrientes até a raiz.
O cultivo de outras espécies visando à cobertura vegetal ou mesmo para produção comercial, também propicia o reaproveitamento de potássio e de outros nutrientes eventualmente presentes em camadas mais profundas do solo. Os nutrientes absorvidos são transferidos para a parte aérea e disponibilizados com a decomposição dos resíduos vegetais. Áreas com declives maiores do que 2%, onde a cobertura vegetal permanente não tem sido considerada de forma adequada e, também, onde se fez a retirada indiscriminada de terraços podem apresentar elevadas perdas de nutrientes e matéria orgânica, por erosão hídrica (escorrimento superficial). Esse efeito é ainda mais acentuado quando a semeadura é feita no sentido do declive. Com isso, além dos efeitos relacionados à produção de soja, deve-se considerar que a adubação antecipada a lanço feita impropriamente, pode propiciar impactos ambientais negativos.
Na região dos Cerrados, a manutenção da cobertura vegetal do solo é dificultada pela não adoção de rotação de culturas, associada à pequena produção e à elevada taxa de decomposição de biomassa vegetal. Neste sentido, trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa Agropecuária Oeste têm demonstrado que a integração agricultura-pecuária, quando em arranjos de sistemas produtivos rotacionados, além dos efeitos positivos sobre as atividades econômicas é uma excelente alternativa para a formação de cobertura vegetal, que dificilmente seria conseguida com espécies anuais.
Tem-se verificado também que o aporte de palha e a reciclagem de nutrientes podem ser incrementados de forma considerável, por meio da consorciação do milho safrinha com espécies forrageiras, especialmente a Brachiaria ruziziensis, que se distingue pelo rápido crescimento vegetativo, por propiciar ótima cobertura do solo nos estádios iniciais da cultura de grãos, além da maior facilidade de dessecação.
Por fim, destaca-se que a prática da adubação antecipada também deve estar associada a outros três aspectos fundamentais: (1) correção de limitação física e/ou química na camada subsuperficial do solo, cuja ocorrência poderia acentuar problemas de déficit hídrico às plantas, devido ao menor crescimento do sistema radicular nessa camada; (2) adoção e/ou manutenção de práticas de controle de erosão, como os terraços, cordões de vegetação em contorno e plantio em nível, que permitem minimizar perdas de nutrientes por erosão laminar; (3) adequação do manejo de plantas daninhas, uma vez que em áreas infestadas com espécies resistentes a herbicidas, como a buva, a adubação à lanço em superfície poderá acentuar os problemas relacionados ao crescimento de plantas daninhas.
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