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A suplementação mineral tem uma relação direta com o tema da sustentabilidade, uma vez que aumenta o desempenho dos animais, melhorando a eficiência da produção, maximizando a produtividade por área.
Historicamente, têm-se os primeiros relatos da suplementação da dieta de bovinos em pastejo, aproximadamente nos anos 100 a.C, com o uso de apenas sal branco (cloreto de sódio). Já bem mais tarde, em 1920 iniciou-se o uso da mistura sal branco + farinha de ossos. Posteriormente, já na década de 1950, iniciou-se a utilização de sal mineralizado, em que óxidos e sulfatos eram utilizados como fontes dos minerais.
Com o avanço dos conhecimentos no campo da nutrição de ruminantes, novas tecnologias foram sendo desenvolvidas, buscando melhor aproveitamento dos minerais pelos animais. Neste contexto, já na década de 1980, foram desenvolvidos os primeiros suplementos minerais quelatados (complexos de microelementos minerais e aminoácidos de grande biodisponibilidade, ou seja, apresentando maior retenção no organismo com participação em funções metabólicas e/ou estruturais). Esta tecnologia foi sendo aprimorada até que na década de 1990 surgiram outros complexos de minerais em forma orgânica, alguns com a utilização de leveduras, todos de elevada biodisponibilidade.
Toda essa tecnologia foi desenvolvida para que a mineralização se tornasse mais eficiente e a nutrição dos animais fosse realizada da forma mais adequada, visando à obtenção de melhores índices zootécnicos e consequentemente redução do ciclo de produção. Deste modo obtém-se maior eficiência produtiva, cobertura cada vez mais cedo das fêmeas e abate dos machos mais precocemente, gerando maior giro de capital e lucratividade para a atividade pecuária.
O interesse pelo desenvolvimento contínuo de novas técnicas e tecnologias para a correta mineralização do gado foi devido à percepção de que 80% das pastagens brasileiras estão degradadas, ou seja, elas não são suficientes para suprir adequadamente as exigências de minerais dos animais. As áreas de pastagens no Brasil são muito pouco produtivas e ineficientes. Porém, estes novos mecanismos dão oportunidade para que a atividade pecuária tenha maior eficiência.
A falta de uma correta mineralização acarreta, além de baixo desempenho animal, depravação de hábitos alimentares, conforme observar-se na Figura 1, que mostra um animal deficiente em mineral ingerindo osso, na tentativa de suprir suas exigências de minerais.
Outro fator importante, que merece atenção, são as fontes utilizadas para produção de suplementos minerais. Os ingredientes utilizados para fabricação de suplementos minerais devem ser de alta biodisponibilidade, livres de metais pesados e de contaminantes. Na Figura 2, observa-se um animal com sintomas de intoxicação por Flúor.
O Flúor é um não-metal halogênio, da mesma família que os elementos cloro, bromo e iodo. Há duas formas crônicas de intoxicação por flúor; a fluorose dentária e a osteofluorose. O sinal mais evidente da fluorose dentária é o aparecimento de pontos amarelados, acastanhados ou pretos nos dentes do animal, ocorrendo com maior frequência nos dentes pré-molares e molares, “dentes de trás”, que nos incisivos, “dentes da frente” (Figura 2).
Deste modo, as matérias-primas utilizadas na fabricação de suplementos minerais devem ser adquiridas de empresas idôneas, devidamente credenciadas e fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA), que demonstram com transparência seus processos de produção, garantindo a qualidade e segurança para seus clientes e consumidores.
Os aspectos a serem considerados na escolha da fonte de fósforo, para uso na alimentação animal são:
Custo de fósforo biologicamente ativo na fonte;
Nível de biodisponibilidade do fósforo na fonte;
Nível de biodisponibilidade do flúor na fonte;
Palatabilidade da fonte para os animais (o nível de acidez influencia no consumo)
Quando um rebanho é exposto à deficiência mineral, tem-se queda no desempenho animal, na taxa de fertilidade, presença de animais debilitados, pelagem opaca e aumento da incidência de doenças e taxa de mortalidade. Para que isso não ocorra, além do uso de suplementos minerais de qualidade e segurança comprovada, alguns aspectos práticos e estruturais devem ser observados.
O dimensionamento e a manutenção dos cochos em que os suplementos minerais serão oferecidos aos animais são fatores que merecem muita atenção. O cocho saleiro deve ser coberto, com altura adequada para o acesso dos animais. Sendo assim, a altura do cocho deve ser compatível com a categoria animal que se deseja suplementar, conforme se observa na Figura 3.
A Figura 3 ilustra um cocho no sistema de “creep-feeding”, ou cocho do “Fosbovinho”, que possibilita suplementação diferenciada para as vacas e bezerros. A suplementação específica para cada categoria propicia maior desempenho para os bezerros e nutrição adequada às vacas.
Constantemente, deve ser realizada manutenção dos cochos saleiros, de modo que não haja acúmulo de água da chuva nas áreas a eles adjacentes, evitando a formação de lama ao redor do cocho, dificultando o acesso dos animais ao suplemento oferecido.
Os bebedouros devem ter boa vazão de água e devem ser alocados adequadamente na pastagem, mantendo boa distância do cocho saleiro. O dimensionamento do bebedouro deve permitir o acesso de todas as categorias animais. A manutenção dos bebedouros também é importante, evitando a formação de lama nas áreas próximas a eles, permitindo o fornecimento de água limpa e de qualidade aos animais.
No início do período das águas, com a rebrota do capim, observa-se ocorrência de “diarreias metabólicas” nos animais sob pastejo, podendo, em alguns casos, prejudicar o desempenho dos mesmos. Esta “diarreia metabólica” tem sido relacionada com o excesso de proteína vinda do nitrogênio não-proteico presente no broto do capim, sendo necessária uma correta suplementação mineral, especialmente no que diz respeito ao enxofre, auxiliando no bom aproveitamento do nitrogênio presente na forragem.
No rúmen dos animais, os minerais podem interagir. Estas inter-relações dos elementos podem ter efeitos sinérgicos ou antagônicos, aumentando ou reduzindo o coeficiente de absorções de um mineral. Como exemplo, temos o elemento cálcio. O cálcio é um elemento muito reativo e, quando utilizado em excesso, pode formar complexos insolúveis com outros minerais. Estes complexos são muito pouco absorvidos e aproveitados pelo animal, prejudicando seu balanço mineral.
Estudos sobre a composição mineral das forrageiras da América do Sul demonstram deficiência severa de alguns minerais (McDowell et al., 1983), especialmente alguns microminerais, como cobalto e selênio.
Apresentam-se abaixo algumas considerações sobre o uso de selênio em forma orgânica e cobalto:
O uso de selênio em forma orgânica proporcionou aumento do nível de selênio no leite e diminuição da contagem de células somáticas - CCS (Fisher et al., 1995);
A concentração de selênio no fígado, leite e sangue é de 2 a 3 vezes maior com a utilização de selênio em forma orgânica (Knowles, 1999; Ortman e Pehrson, 1999);
O selênio possui importantes propriedades antioxidantes, participação no sistema antioxidante do organismo e na formação da enzima glutationa peroxidase, atuando de forma sinérgica com a vitamina E;
A deficiência de selênio causa baixa motilidade espermática;
O cobalto é extremamente importante para o crescimento e multiplicação dos micro-organismos ruminais;
O cobalto é um componente da vitamina B12 (cobalamina). Os micro-organismos ruminais podem produzir 100% da vitamina B12 requerida pelos bovinos, quando a suplementação de cobalto é realizada de modo adequado (NRC, 2001).
A correta suplementação mineral possibilita melhor desempenho animal, maior taxa de fertilidade e de desfrute do rebanho, aumentando a eficiência e lucratividade da atividade pecuária.
Na busca de melhores índices zootécnicos, além do uso de tecnologias voltadas para a melhor nutrição, sanidade e manejo dos animais, deve-se investir no treinamento dos profissionais da fazenda, para correta aplicação das técnicas e obtenção dos resultados esperados.
Literatura Citada
Fisher, D. D., S. W. Saxton, R. D. Elliott, and J. M. Betty. 1995. Effects of selenium sources on selenium status of lactating cows. Vet. Clin. Nutr. 2:68–74.
Knowles, S. O.; Grace, N. D.; Wurms, K.; Lee, J. Significance of amount and form of dietary selenium on blood, milk, and casein selenium concentrations in grazing cows. Journal of Dairy Science, v. 82, n. 2, p. 429-437, 1999.
McDowell L.R., Conrad J.H., Ellis G.L. & Loosli J.K. 1983. Minerals for Grazing Ruminants in Tropical Regions. University of Florida, Gainesville. 86 p.
National Research Council. Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 7th ed. Washington: National Academies Press, 2001. 408 p.
Ortman, K.; Pehrson, B. Effect of selenate as a feed supplement to dairy cows in comparison to selenite and selenium yeast. Journal of Animal Science, v. 77, p. 3365-3370, 1999.
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