A força da agricultura nacional na safra 2010/2011 levou o Brasil a atender 23% da demanda internacional de soja e a expectativa do governo brasileiro é ampliar essa participação. O produto agrícola é o mais comercializado no mundo, com vendas acumulando, anualmente, US$ 78 bilhões. A demanda mundial por soja segue em crescimento movida pelo aumento de renda das populações da China e Índia, e outros países emergentes. Tem-se observado o aumento do consumo de carnes e laticínios pelas populações dos países em desenvolvimento, paralelamente ao aumento da população urbana na China. O processo de urbanização acelerado tem aumentado a produção de carnes em sistema de confinamento, fato que tem acelerado a demanda por farelo de soja.
Além disso, a combinação do uso de produtos agrícolas para a produção de biocombustíveis tem contribuído para aumentar ainda mais a demanda por soja. Neste particular, a demanda mundial de biodiesel no ano de 2010 foi de 18 milhões de toneladas métricas. Sua produção utiliza 11% do volume mundial de óleos vegetais. No cenário atual de abastecimento, onde as reservas de oleaginosas existentes somente atendem 20% das necessidades mundiais, as cotações da soja no mundo seguem em alta, incentivando o incremento na área plantada no Brasil. Juntamente com o aumento das cotações da soja no mercado internacional, observa-se aumento proporcional nos preços dos insumos agrícolas. Com isso, as margens de lucro do produtor de soja seguem sempre estreitas, exigindo que este trabalhe no sentido de alcançar sempre altas produtividades como forma de garantir a sustentabilidade econômica de seu negócio.
É provável que o Brasil possa aumentar ainda mais a sua participação no mercado internacional de soja, tendo em vista que entre os grandes produtores mundiais desta oleaginosa o Brasil é o único que tem áreas disponíveis para aumentar a produção. De acordo com recente estudo feito pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e Embrapa (Brasil Projeções do Agronegócio 2010-11 a 2020-21), o Brasil deverá aumentar até 2021 cerca de 5,3 milhões de hectares na área plantada com soja. Segundo o estudo, a expansão em área se concentrará principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte-Nordeste, englobando os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Oeste da Bahia. Isso ocorrerá principalmente mediante a conversão de pastagens degradadas em áreas agrícolas.
Além da expansão em área, a sojicultura brasileira tem aumentado ano a ano de forma consistente a sua produtividade. De acordo com a serie histórica da CONAB, nos últimos 35 anos, enquanto a área cresceu 248%, a produção aumentou 506%. O que foi conseguido por um aumento de 78% na produtividade média da soja no Brasil. Na safra 2010/11, a produtividade média da soja brasileira foi de 3047 kg/ha, superando as produtividades médias norte-americanas e argentinas, e se destacando como a maior média mundial entre todos os países produtores.
Este ganho na produtividade da soja brasileira foi resultado de muita pesquisa científica, encabeçada pela Embrapa, nos setores de genética e melhoramento de plantas, solos e nutrição, máquinas agrícolas, entomologia e fitopatologia, entre outras ciências, que têm sido utilizadas de forma integrada e multidisciplinar. O empreendedorismo e criatividade dos agricultores brasileiros também são ingredientes fundamentais, sem os quais a sojicultura brasileira não teria evoluído nem em área e tampouco em produtividade.
O segundo Fórum Nacional de Máxima Produtividade, organizado pela CESB – Comitê Estratégico Soja Brasil, realizado no último dia 3 de agosto na sede da Embrapa em Brasília, divulgou os resultados do Desafio Nacional de Máxima Produtividade safra 2010/11. Os campeões nacionais produziram cerca de 6000 kg/ha, sendo que a média dos 16 primeiros colocados ficou acima de 5400 kg/ha. Embora seja um concurso que objetiva alcançar produtividades máximas, os produtores comprovaram o que a pesquisa já tem relatado - que a cultura da soja no Brasil tem potencial para ter sua produtividade aumentada utilizando as cultivares e as tecnologias disponíveis atualmente. Várias pesquisas têm indicado que a produtividade média da soja no ano 2030 deverá estar acima de 5400 kg/ha. E os resultados obtidos comprovam na prática esta teoria. O desafio passa a ser alcançar estes níveis de produtividade de forma economicamente viável.
Entre as principais conclusões que se chega é que a tecnologia agrícola disponível à cultura da soja tem evoluído muito no Brasil nos últimos anos e que atualmente não deixa nada a desejar às melhores tecnologias agrícolas do mundo. Podendo-se inclusive reiterar que, em termos de agricultura tropical, o Brasil ocupa atualmente posição de liderança. Para os próximos anos, os pesquisadores e produtores devem atuar conjuntamente para identificar os principais fatores que contribuem para a máxima produtividade da soja e suas interações, envolvendo principalmente o potencial genético das plantas, doses e formas de aplicação de fertilizantes, arranjo espacial das plantas, qualidade da semeadura, e manejo cultural.
É amplamente aceito que entre as tecnologias mais impactantes para o aumento da produtividade, o melhoramento genético ocupa papel de destaque. Diversos cientistas têm publicado que o aumento médio no potencial genético da soja obtido pelos programas de melhoramento de soja brasileiros está entre 1,0 e 2,0% ao ano. Se considerarmos o aumento médio obtido na produtividade da soja no Brasil nos últimos 35 anos, com base nos dados da CONAB, verifica-se que neste período o Brasil conseguiu um aumento de produtividade na cultura da soja da ordem de 1,64% ao ano. Para se alcançar este ganho, certamente estão contribuindo, alem do aumento do potencial genético das cultivares geradas pelos programas de melhoramento brasileiros, todas as demais tecnologias agrícolas que foram desenvolvidas e aplicadas no período. Em se considerando estes parâmetros, e em se mantendo estes mesmos níveis de crescimento, pode-se especular que em cerca de 10 anos a produtividade média da soja brasileira poderá estar na mesma ordem que os campeões de produtividade estão obtendo atualmente. A expectativa é bastante positiva. E o alcance destas metas irá contribuir muito não somente para o suprimento de alimentos, bioenergia, e matérias-primas ao mundo, mas também muito contribuirão com a sustentabilidade do planeta.
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