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O agronegócio representa mais de 1/4 do PIB brasileiro, gera mais de 1/3 de todos os empregos do país, é responsável por um saldo comercial na balança externa muito maior que o saldo do país todo (o que significa que os outros setores são deficitários). Cria demanda por insumos agrícolas, dando origem aos florescentes setores industriais de máquinas e implementos, fertilizantes, sementes, defensivos; demanda serviços, como crédito, planejamento, seguro, e ainda abastece a indústria de alimentos em geral, sem falar na área de roupas e calçados, celulose e papel, borracha, madeira para construção, etc.

Tem portanto, um peso notável na economia do país, mas não tem, nem de longe, a atenção política proporcional a esta importância. Ao contrário, é sistematicamente acusado de prejudicar o meio ambiente, usar trabalho escravo, fora o preconceito urbanóide que faz seu agente, o produtor rural, ser visto como atrasado, indolente, incapaz de competir.

Perdi a conta do número de vezes que tentei, nestes 45 anos de vida profissional em defesa do campo, criar programas de promoção do agronegócio, da agropecuária e do produtor rural, que mostrassem à toda a sociedade o imenso valor que temos nestes setores. Foi sempre muito desgastante esta luta, porque acabava por demandar recursos financeiros para campanhas promocionais e aí a coisa empacava.

Numa democracia, as políticas públicas são definidas acompanhando o pensamento dominante da sociedade. Se a maioria dos eleitores nos acham incapazes, é claro que  nenhum governo vai nos apoiar com iniciativas positivas. Por isso é essencial realizar campanhas que mostrem a excelência e a eficiência do nosso agronegócio, primeiro internamente, para gerar uma onda capaz de mudar políticas governamentais a favor de demandas legítimas do campo; e depois, lá fora, para que nossos produtos ganhem mercados hoje resistentes, seja porque estamos “desmatando a Amazônia” ou, pior ainda, “usando crianças no trabalho pesado do campo”...

Outros países fizeram isto no passado, com grandes resultados positivos, como França, Estados Unidos e Canadá, onde o agricultor é respeitado e amado pela sociedade em geral que compreende a importância de sua atividade e, mais ainda, sabe que depende dela para seguir a vida.

Aqui, finalmente, um grupo de fortes instituições do agronegócio decidiu investir pesado nesta luta para esclarecer a opinião pública sobre a verdade. Parece que agora teremos recursos para mostrar ao nosso povo o valor do agropecuarista brasileiro.

Mas é preciso entender as origens desta má vontade geral em relação ao campo, manifestada até mesmo em rodas mais elitizadas que deveriam conhecer melhor o tema.

O primeiro passo negativo foi dado por Pero Vaz de Caminha, que escreveu ao rei de Portugal, logo após o descobrimento, em 1500, que “nesta terra, em se plantando, tudo dá” – assim é a interpretação de sua carta ao chefe. E esta é uma das primeiras lições que todo brasileiro aprende na escola: “é moleza plantar no Brasil”. Pura ilusão: somos um país de terras pobres, e dependemos totalmente de calcário e fertilizantes (do que importamos mais da metade que consumimos). Todavia: no imaginário urbano brasileiro, ser agricultor é fácil demais.

Depois veio a história do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, estilizado numa figura meio ignorante, falando errado, e, embora esperto, inferior. Fazia sentido: nos tempos de antanho as famílias rurais eram grandes e os filhos mais inteligentes iam estudar na cidade, para serem advogados, médicos, engenheiros, padres. Ficavam os menos preparados para ajudar o pai a pagar os estudos dos outros.

Depois veio a urbano-industrialização, que o campo financiou. E, perdendo renda, reclamou com razão. Os governos que se seguiram, intolerantes com a legítima reclamação, passaram a desmoralizar e até punir os produtores com políticas inadequadas, criando um êxodo rural enorme, inclusive com os recentes Planos Collor e Real. Excluíram milhares, sobretudo pequenos.

São, enfim, razões compreensíveis, mas é preciso mudar isto tudo com uma forte campanha institucional que faça todo cidadão urbano compreender não apenas a importância do agronegócio, mas sua íntima dependência dele. Esta promoção deve atingir os 3 poderes da República com igual intensidade, bem como formadores de opinião qualificados para explicar e/ou ensinar a realidade.

Claro que isto custa caro, mas também é claro que devemos separar o joio do trigo: não podemos tolerar que uns poucos destruam os recursos naturais de maneira inconseqüente e muito menos que explorem trabalhadores rurais, porque isto custa muito mais caro.

Embora seja insignificante a minoria que faz isto, é preciso reduzir a zero esta parcela, porque ela dá ao adversário, que generaliza, o argumento que ele deseja, seja dentro de nossas fronteiras, por questões ideológicas ou conceituais, seja lá fora, por interesses comerciais. 

Artigo publicado em "A Granja" - fevereiro de 2010

 

 
 

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Marcelo M. Malamud
30/07/2011 - 11:29
Roberto,
ParabÚns pelo artigo. Porem em minha opiniÒo, o apoio polÝtico Ó agropecußria pura e simplesmente nÒo gera voto. Trabalho principalmente na ßrea de construþÒo civil e tenho uma pequena atuaþÒo na ovinocultura, o que me faz estabelecer um comparativo entre as duas ßreas. Na construþÒo civil, foi implantado um programa chamado "Minha Casa Minha Vida" que possibilitou o acesso de milhares de familias ao financiamento para aquisiþÒo da casa propria atraves de juros baixos, facilitaþÒo da aprovaþÒo de crÚdito e fornecimento de subsÝdios. Este programa gerou publicidade a favor do governo atingindo uma enorme parcela da populaþÒo, e como consequencia impulsionou toda a cadeia da construþÒo civil, produzindo mais, gerando mais emprego, mas sempre aliado ao interesse polÝtico. No caso da cadeia agropecuaria, eu nÒo vejo um programa de incentivo eficiente que resulte em conquista de voto em massa, e por este motivo o governo nÒo investe a devida atenþÒo. Veja o caso da reforma agraria que Ú no meu entendimento ocorre de forma totalmente equivocada apenas como forma de manipular voto de uma populaþÒo facilmente influenciavel.
Infelizmente no meu entendimento o que move o governo rumo ao incentivo da iniciativa privada que produz alimento, moradia ou o que quer que seja, Ú a capacidade destas aþ§es de gerar voto ou aceitaþÒo de um ou outro governo ou partido polÝtico.

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