O projeto Aquabrasil em suas ações contempla a implantação e condução de programas de melhoramento genético de peixes nativos e exóticos.
Em se tratando de espécies nativas, foram escolhidas inicialmente o cachara e o tambaqui, espécies com ampla distribuição no Brasil, com forte demanda regional e elevado potencial para alcançar os mercados consumidores de fora do país. O desenvolvimento de programas de melhoramento genético destas espécies é essencial ao crescimento e organização da cadeia produtiva, pois a realidade de produção dessas espécies é caracterizada pelo uso de reprodutores capturados na natureza, cujo potencial é equivalente aos dos frangos caipiras de 20 anos atrás.
Com os programas de melhoramento genético para espécies nativas de peixes, teremos condições de produzir alevinos melhorados, resultados de acasalamentos dirigidos, com vistas ao aumento da produtividade. Sendo assim, a partir de 2007, iniciou-se um processo de organização das famílias dos animais produtores da primeira geração de animais geneticamente selecionados. Para tanto, foram realizados levantamentos em diversas entidades públicas e privadas de produção de alevinos para avaliar a origem dos reprodutores utilizados por estas, de maneira a obter a maior variabilidade genética possível e consequentemente, uma resposta à seleção que poderá ser mantida por longo período de tempo. Após os esforços iniciais, foram formadas cerca de 60 famílias de cacharas e 60 famílias de tambaquis (cada família é composta por uma fêmea e dois machos para assegurar a manutenção da variabilidade genética).
Atualmente, estes programas estão sediados em empresas privadas parceiras, com a supervisão e assessoramento de pesquisadores da EMBRAPA e Universidades do país. A partir das primeiras avaliações genéticas, os animais melhorados serão distribuídos para os parceiros dos programas, de maneira a multiplicar e distribuir os alevinos melhorados para o sistema de produção. Posteriormente pretende-se atender a todos os produtores e entidades interessados, com reprodutores melhorados e provados.
O desenvolvimento de parcerias público-privadas foi essencial para o alcance dos objetivos propostos.Os parceiros da iniciativa privada são as Empresa Delicious Fish (MT), Piscicultura Buriti (MT), NATIV Pescados (MT), Piscicultura Boa Esperança (RO), Fazenda São Paulo (TO), Empresa Mar & Terra (MS), Piscicultura Piraí (MS) e Projeto Pacu (MS). Os parceiros públicos são a Secretaria de Produção do Amazonas, por meio da Estação de Piscicultura de Balbina, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Sebrae/Rondônia e Governo do Estado de Rondônia. As Instituições de pesquisa que participam desse grande esforço são a Embrapa Pantanal, Embrapa Meio Norte, Universidades Federais de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, liderados pela Universidade Estadual de Maringá.
Após a implantação dos programas, estamos nas fases de condução do cultivo e avaliação genética da primeira geração de animais. Espera-se que nos dois próximos anos tenhamos disponíveis no mercado de alevinos peixes avaliados geneticamente nas condições brasileiras de cultivo e desenvolvidos por instituições brasileiras e que servirão como reprodutores melhorados a todos os interessados.
Diferente dos peixes nativos, o programa de melhoramento genético de tilápias do nilo, está sendo conduzido, desde de 2005, quando foram importadas famílias da linhagem GIFT, desenvolvidas pelo WORLD FISH CENTER na Malasia, pela Universidade Estadual de Maringá, com o apoio da então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, atualmente o MPA. Dessa forma, o programa de melhoramento genético de tilápias do nilo está na quinta geração de avaliação genética, tendo disponibilizado animais melhorados há mais de cinco anos, animais cultivados e avaliados em condições brasileiras por instituições brasileiras, causando um impacto considerável na tilapicultura brasileira.
Como resultados temos que o ganho genético acumulado para velocidade de crescimento neste período é superior a 20%, equivalendo a um ganho genético anual de cerca de 4%. Os animais são avaliados em um sistema de produção em tanques-rede, com período de cultivo que ocorre entre o outono e primavera. Os resultados têm indicado que os animais mantém crescimento razoável no período em que as temperaturas são mais baixas e apresentam velocidade de crescimento elevada nos períodos em que as temperaturas estão elevadas.
Em função da demanda do consumidor de tilápia estar focada em filé, o programa de melhoramento tem procurado avaliar o impacto da seleção para velocidade de crescimento no rendimento de filé. Os resultados iniciais apresentam fortes evidências de que há resposta indireta à seleção para aumento do rendimento de filé. Além disso, um potencial inexplorado para o consumo de tilápias é na forma de peixe inteiro em que as ações do programa de melhoramento também permitirão produzir animais que atendam de forma surpreendente a esta demanda.
Como principais desafios estão as avaliações destes animais melhorados nas diversas condições de produção brasileiras, o atendimento das diversas demandas de mercado e a manutenção do programa sob a supervisão de instituições públicas brasileiras, para que sejamos detentores da genética e não apenas consumidores desta, como acontece em diversas cadeias produtivas.
O programa de melhoramento público-privado do camarão branco, Litopennaeus vannamei, está se iniciando neste ano de 2011, com a participação de empresas privadas do Nordeste, a Embrapa Meio Norte e Universidade Federal do Ceará.
Em vista do exposto, pode-se concluir que há um longo caminho a ser trilhado e que os investimentos públicos e privados têm que continuar, pois não se pode imaginar um programa de melhoramento de curto prazo. Estes programas devem ser permanentes, até como forma de soberania e independência genética para o país. Existe também uma necessidade crescente de material humano treinado e infra-estrutura apropriada. Portanto há desafios enormes, porém possíveis de serem alcançados com o esforço das diversas instituições, representadas pelas pessoas envolvidas neste processo. Se o desafio é o que nos move, então temos muito o que andar.
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