A piscicultura na região Oeste de Santa Catarina caracteriza-se como uma atividade típica de propriedades familiares cujos sistemas de cultivo foram adaptados à realidade regional. Por isso o cultivo de peixes é realizado em viveiros escavados, com áreas médias de 3.000 m2 em função da topografia acidentada da região.
Fazendo um pequeno histórico, a piscicultura foi introduzida na região no final da década de 70 com o monocultivo de carpa comum, mostrando um modesto crescimento até o final dos anos oitenta. A partir de 1988, com a introdução das carpas chinesas (prateada, cabeça grande e capim), desenvolveu-se um novo sistema de criação de peixes para a região: o cultivo de espécies de diferentes hábitos alimentares, caracterizado como Policultivo Integrado. O objetivo era aproveitar os dejetos produzidos pela suinocultura e avicultura como fertilizantes para a produção de alimento natural na produção de pescado. O policultivo foi bem aceito pelos produtores rurais que passaram a produzir peixes a baixo custo e de alta competitividade possibilitando a Santa Catarina e, particularmente, ao Oeste Catarinense projetarem-se como os maiores produtores de peixes de água doce do país.
Com a demanda crescente por pescado a partir dos anos 90, o Oeste Catarinense passou a fornecer carpas para a região Sudeste do país, em especial para o abastecimento de pesque-pagues. A partir daí o policultivo de peixes fortaleceu-se como o principal sistema de criação de peixes de água doce em Santa Catarina com algumas variações entre as espécies principais e taxas de estocagem.
De 1989 a 1999 a produção catarinense de peixes cultivados passou de 900 para 15,7 mil toneladas, principalmente de carpas, o que possibilitou ao estado entrar definitivamente para o clube dos maiores produtores de peixes de água doce do Brasil. Mais de 50 % de sua produção era destinada a pesque-pagues e o restante era comercializado principalmente em feiras de peixes vivos.
A partir da segunda metade dos anos 90, um novo cenário se configurou e a piscicultura passou de fornecedor de peixes vivos, seja para a venda em feiras ou para pesque-pagues, a fornecedora de filé de tilápia. A tilapicultura fortaleceu-se a partir do momento em que produtores de alevinos adotaram a técnica de reversão sexual permitindo tanto a formação de lotes uniformes e de maior crescimento como, também, a introdução de linhagens melhoradas da tilápia nilótica melhorando o desempenho na engorda. O filé de tilápia foi gradativamente ocupando a preferência dos consumidores por ser de cor branca, sem espinhas e de sabor suave vindo ao encontro do gosto do consumidor de pescado do interior não acostumado ao sabor mais intenso como encontrado no pescado marinho.
Além de ter conquistado a preferência do consumidor, a tilápia é um peixe que se enquadra perfeitamente às necessidades da piscicultura da propriedade familiar rural. Por ser um peixe de fácil manejo, resistente a baixas concentrações de oxigênio dissolvido e com hábito alimentar omnívoro, permite desenvolver uma piscicultura de baixa intensidade, com a utilização de fertilizantes orgânicos encontrados na propriedade rural, seja em mono ou policultivo até cultivos de alta intensidade e tecnificados. A capacidade deste peixe de utilizar as microalgas (fitoplâncton) na sua alimentação permite que, quando alimentado com ração comercial, sejam obtidas conversões alimentares, para este insumo, com um consumo de até menos de 1kg ração para obter 1kg de tilápia devido a substituição parcial por alimentos naturais, dando ao produtor uma alternativa de manejo para diminuição dos custos de produção. Mas a tilápia possui uma grande desvantagem em relação às carpas e peixes nativos que é a baixa resistência ao frio.
No inverno a tilápia não cresce e, em muitos casos, foram relatados altos índices de mortalidade. Esta condição poderia inviabilizar a produção de tilápia no Oeste Catarinense, já que passamos praticamente a metade do ano com temperaturas inadequadas para este peixe. Mas não é o que acontece; parece que a forte demanda traduzindo-se em facilidade de venda deste peixe na forma de filé ou para pesque pagues supera as dificuldades ambientais para o seu cultivo. A tilápia, em 2007, passou a ser a principal espécie produzida em Santa Catarina. Em 2009 foram produzidas 13,34 mil toneladas representando mais de 50 % da produção de peixes de cultivo.
Atendendo a diversos mercados, a piscicultura desenvolvida nas propriedades familiares de Santa Catarina tem crescido ano após ano. Nos últimos cinco anos a produção de peixes cultivados passou de 19,3 mil toneladas em 2005, para 26,3 mil toneladas em 2009. Isto está propiciando o desenvolvimento de novos negócios com a construção de várias unidades de beneficiamento na região, com inspeção estadual e municipal, o que dinamiza o mercado local. Para os produtores é interessante comercializar para indústria da região porque sempre há possibilidade de fornecer do mesmo viveiro para vários mercados, ou seja, vender uma parte para o abate, já que são pequenas unidades de beneficiamento e outra parte para pesque-pagues, o que acaba aumentando o lucro por viveiro.
Por tudo o que foi comentado acima, o cultivo de peixes é uma atividade técnicamente viável para implantação e condução na região Oeste Catarinense.No entanto, por se tratar de um mercado de baixo consumo per capita e de grande concorrência com outras proteínas, urge a necessidade de adequação da legislação ambiental e da criação de linhas de crédito específicas para que os empresários locais vejam nesta atividade mais uma possibilidade de investimento.
|