Conforme levantamentos da Associação dos Irrigantes e Agricultores da Bahia (AIBA), Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) e Fundação Bahia, a região Oeste da Bahia está colhendo uma safra de 6,7 milhões de toneladas de grãos e fibras no período 2010/2011. O que assegura um valor bruto de produção de R$ 6,3 bilhões. Merece destaque a produção recorde de soja, com 3,6 milhões de toneladas, cultivada em 1.080.000 ha, e de algodão que cresceu 51,42% em área cultivada, atingindo 370.845 ha e produção de 600.768,9 toneladas de pluma e 811.060 toneladas de caroço, crescendo 61,59% em relação à safra 2009/2010. O crescimento dos preços das commodities e, sobretudo o crescimento dos preços do algodão que atingiram nesta safra o patamar histórico de US$ 1.24 por libra peso, fez com que pela primeira vez o valor bruto da produção de algodão no Oeste da Bahia, R$ 2,6 bilhões, superasse o da soja, que ficou em R$ 2,4 bilhões. Portanto, as duas culturas têm força equivalente no valor bruto da produção da região.
A soja representa 59% da área cultivada do Oeste Baiano e o algodão representou 20% da área cultivada na safra 2010/2011. As duas culturas juntas representam 79% da área trabalhada com agricultura na região. As duas culturas são complementares em termos econômicos e agronômicos, dando sustentabilidade ao sistema produtivo altamente tecnificado que atualmente é desenvolvido no Oeste da Bahia. A importância agronômica da soja para os produtores que priorizam o cultivo de algodão se faz pela necessidade de rotação de culturas e viabilização de melhor aproveitamento técnico e econômico das máquinas, equipamentos, estrutura e mão-de-obra utilizadas nas fazendas empresariais existentes na região. Por outro lado, a cultura do algodão dá à soja a possibilidade de alcançar altas produtividades ao serem cultivadas em solos antes ocupados por algodão, tendo em vista que a soja aproveita bem os fertilizantes residuais deixados pela cultura do algodão.
Dos principais problemas que afligem a cultura do algodão na região Oeste Baiano, os nematoides Meloidogyne incognita (nematoide das galhas), Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme) e Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões) estão entre os mais importantes. O controle destes patógenos pode ser feito quimicamente, por cultivares de algodão resistentes e pela rotação de culturas. O custo do controle químico é alto. Além de causar intenso impacto ambiental, representando um ônus considerável nos cultos de produção. O uso de cultivares de algodão resistentes se apresenta como alternativa limitada pela existência de poucas variedades comerciais de algodão expressando resistência. Neste contexto, a rotação de culturas com cultivares de soja resistentes é um alternativa importante e economicamente viável, porque as culturas da soja e do algodão são complementares no uso dos insumos, principalmente os fertilizantes. Com isso, as culturas do algodão e da soja, em rotação, ou em sucessão, sejam complementares entre si, dentro do sistema produtivo das propriedades do Oeste da Bahia.
Para que a rotação algodão-soja seja viável, do ponto de vista econômico, é necessário que haja disponibilidade de cultivares de soja resistentes aos nematoides, que afetam a cultura do algodão. E que estas cultivares de soja sejam, ao mesmo tempo, produtivas e adaptadas à região do Oeste Baiano. Para que uma cultivar de soja possa expressar o seu máximo potencial produtivo em determinada região, é necessário que esta cultivar seja selecionada no ambiente específico daquela referida região. Somente no ambiente edafo-climático específico, os genes de produtividade e adaptação podem se expressar adequadamente. Nisso consiste a base da genética e melhoramento de plantas. Ou seja, resultado agronômico (fenótipo), é o resultado da expressão de genes mediante uma determinada oferta ambiental, que somente pode ser fixado se a seleção for feita no ambiente específico onde a nova cultivar será plantada.
Atualmente, a Fundação Bahia, em parceria com a Embrapa, através da Embrapa Cerrados, localizada geograficamente próxima à região do Oeste Baiano, está iniciando um trabalho de melhoramento genético de soja com alcance sem precedentes, visando solucionar os principais problemas fitossanitários da cultura da soja, quais sejam: resistência aos nematoides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), resistência ao nematoide do cisto (Heterodera glycines), resistência ao nematoide Pratylenchus, resistência ao mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), alguns deles comuns também à cultura do algodão, acima mencionados como os nematoides Meloidogyne incognita; bem como outras características agronômicas relevantes para o produtor do Oeste baiano, como: resistência à seca, superprecocidade, resistência aos herbicidas do grupo das Imidazolinonas (soja Cultivance).
De acordo com a ABAPA, na safra 2010/2011, uma área de 361.395 ha, distribuída em mais de 200 propriedades, foi plantada com algodão no estado da Bahia. Estas mesmas propriedades plantaram 290.543 ha de soja, 47.784 ha de milho, 2.730 ha de café e 1.223 ha de capim. O que confirma que a soja é a principal cultura utilizada no sistema produtivo do algodão na região Oeste da Bahia.
A oferta de cultivares de soja, desenvolvidas em outras regiões, tem sido utilizada pelos produtores de algodão do Oeste da Bahia como forma de atender suas necessidades. Mas não estão tendo estas necessidades plenamente atendidas. Haja vista que, por exemplo, nenhuma entre as três cultivares de soja mais plantadas na região Oeste da Bahia atualmente apresenta resistência aos principais nematoides que afetam a cultura do algodão. Com isso, a rotação de culturas entre algodão e soja, utilizando estas cultivares, faz com que as populações de nematoides nos solos aumentem e venham a afetar negativamente a cultura do algodão na safra subsequente. O que cria a necessidade de mais gastos com o controle químico, deprime a produtividade do algodão, e onera os cultos de produção, comprometendo a rentabilidade da cultura do algodão.
Tendo em vista que a região Oeste da Bahia é uma das de mais alto nível tecnológico da agricultura no Brasil, a produtividade média de soja obtida na região deveria ser mais alta que a média obtida nos últimos anos. Segundo dados da CONAB (2011), os 1.016 ha plantados com soja na safra 2009/2010 na Bahia resultaram em uma produtividade de 3.060 kg/ha. Ao passo que algumas áreas de soja do Oeste da Bahia estiveram entre as campeãs de produtividade de soja do Brasil na safra 2009/2010 (CESB, 2010), superando 4.800 kg/ha. Isso indica que a oferta ambiental (solo e clima) da região Oeste da Bahia permite que se alcancem produtividades de soja muito acima das médias alcançadas atualmente. Considerando que o cultivo de soja após o algodão proporciona que a soja aproveite a adubação residual da cultura do algodão e eleve significativamente seu potencial produtivo, a produtividade média da soja na região Oeste da Bahia poderia ser elevada se contasse com cultivares desenvolvidas especificamente para aproveitar as ofertas ambientais e as oportunidades agronômicas da rotação algodão-soja.
Pelo exposto, a seleção de cultivares de soja visando compor o sistema produtivo com o algodão no Oeste da Bahia, como está sendo feito pela parceria Embrapa x Fundação Bahia, é uma alternativa tecnológica altamente viável do ponto de vista do beneficio-custo, aumentando o retorno financeiro de ambas as culturas. Além do claro beneficio econômico, haveria ainda um beneficio ambiental significativo que viria da menor necessidade de uso de nematicidas e melhor aproveitamento e eficiência do uso dos fertilizantes e do recurso solo e água.
Artigo originalmente publicado em 13/07/2011
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